24 Fevereiro 2012
Na desorientação da globalização e diante da fadiga de ler os sinais dos tempos, mais do que as divisões, parece prevalecer na Igreja uma fragmentação em que assume destaque a alternativa entre um impulso ad extra e um recuo ad intra.
A análise é do historiador italiano Agostino Giovagnoli, professor e diretor do Departamento de Ciências Históricas da Università Cattolica del Sacro Cuore, de Milão. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 23-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Na Igreja Católica, a contraposição entre progressistas e conservadores, nascida no rastro dos debates do Concílio Vaticano II, parece estar hoje em declínio. Atingido o seu auge nos anos 1970, atenuou-se durante o pontificado de João Paulo II, que aparou as suas "pontas".
Bento XVI continuou no mesmo caminho, conectando o Vaticano II ao Concílio de Trento, em uma visão teológica de continuidade sem rupturas. Até a passagem do tempo, obviamente, influenciou muito: Joseph Ratzinger será o último papa que viveu o Concílio e, embora muitas questões importantes ainda sejam as mesmas, o mundo de 2012 é muito diferente do de 1962.
"Quando surge na Igreja uma discussão normal, como há em qualquer instituição, torna-se um confronto ou sabe-se lá o quê", observou o cardeal Filoni, referindo-se aos rumores das últimas semanas. Sem dúvida, a Igreja também precisa das paixões e dos projetos dos homens e das mulheres que dela fazem parte, embora com uma maior preocupação de unidade com relação a outras instituições.
Foi assim também na Igreja pré-conciliar, quando Montini e Tardini estavam, ambos, na cúpula da Secretaria de Estado vaticana. O primeiro, de fato, perseguiu um projeto de grande fôlego para levar a Igreja novamente ao coração de uma cultura moderna que parecia rejeitá-la, enquanto o segundo continuava na linha da grande tradição diplomática que vai do cardeal Gasparri ao cardeal Casaroli, buscando espaços de liberdade dentro de Estados totalitários, autoritários ou senão hostis do século XX.
Isso também deu origem a consequências diferentes no plano político: no pós-guerra, Montini defendeu, vitoriosamente, a iniciativa política da DC [Democracia Cristã], enquanto Tardini preferiria uma presença dos católicos em diversos partidos. E, quando o projeto pós-bélico entrou em crise, surgiram novamente personalidades com sensibilidades e projetos diferentes, como o cardeal Ruini e o cardeal Martini.
Também hoje na Igreja surgem sensibilidades diferentes. A espiritualidade salesiana, marcada por um sinal educativo, inspira, por exemplo, um estilo eclesiástico orientado a um otimismo de fundo, à confiança com relação ao outro e a uma abordagem extrovertida e comunicativa. Outros, ao invés, remetem-se à personalidade do cardeal Siri, arcebispo de Gênova, com um forte senso de autoridade e de tradição, mas que se comoveu diante da imagem extraordinária dos bispos de todo o mundo reunidos no Concílio.
Mas é difícil reconduzir projetos abrangentes a essas ou a outras sensibilidades. Até mesmo a Igreja, de fato, parece paradoxalmente órfã de um "mundo moderno", principalmente europeu e ocidental, que, por dois séculos, pareceu ser o seu grande antagonista e com relação ao qual desenvolveu múltiplas estratégias de contenção ou de aproximação.
Vivemos hoje em um tempo diferente, cujo expressão simbólica é uma política fraca, condicionada pelos meios de comunicação de massa, perseguida pela antipolítica e, acima de tudo, separada da cultura necessária para propor visões de conjunto. E os homens da Igreja também são filhos do seu tempo.
Na desorientação da globalização e diante da fadiga de ler os sinais dos tempos, mais do que as divisões, parece prevalecer uma fragmentação em que assume destaque sobretudo a alternativa entre um impulso ad extra, como o encarnado por Karol Wojtyla, e um recuo ad intra sobre as dinâmicas internas à instituição eclesiástica.
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