26 Janeiro 2023
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 25-01-2023.
“Para mim foi uma surpresa, realmente. Isso, uma pessoa, um artista desse nível, para mim foi uma grande surpresa, e uma dor, porque essas coisas doem”. Acusado por várias ex-freiras de abusos na década de 1990 na Eslovênia, e cuja gestão pelos jesuítas e pelo Vaticano tem sido duramente questionada pela opinião pública.
Durante sua entrevista com a AP, Bergoglio negou ter qualquer papel no tratamento do caso de Rupnik, além de intervir processualmente para manter o segundo conjunto de acusações contra as nove mulheres perante o mesmo tribunal que ouviu o primeiro. A sua única decisão, esclareceu, foi que tudo continue “com a normalidade do tribunal, porque se não se dividem as vias processuais, tudo se confunde”.
"Ou seja, não tive nada a ver com isto", insistiu, referindo-se ao súbito levantamento da excomunhão contra Rupnik, apenas um mês depois de ter sido condenado pela Doutrina da Fé. Francisco assegurou que "sempre" renuncia à prescrição em casos que afetam menores e “adultos vulneráveis”, mas costuma insistir em manter as garantias legais tradicionais em casos que afetam outras pessoas.
"Quando há menores, a manga é bem fechada. Não é manga larga, não, não", explicou, admitindo ter ficado chocado com as acusações contra o jesuíta, e voltou a pedir transparência na gestão dos casos de abuso. "É o que eu quero, né? E com a transparência vem uma coisa muito legal que é a vergonha. Vergonha é graça", afirmou.
Junto com o caso Rupnik, Bergoglio também se referiu ao escândalo do ex-bispo Carlos Ximenes Belo, condenado por abuso em Timor-Leste, mas cuja condenação eclesiástica foi mantida em segredo por muito tempo. "Isso é uma coisa muito antiga, onde hoje não existia essa consciência", disse o Papa. "E quando o bispo de Timor-Leste saiu (em setembro), eu disse 'Sim, deixe-o ir ao ar, o que se vai fazer? Vai fazer, não vou disfarçar', mas foram decisões de 25 anos atrás, quando não havia conscientização”.
Em conversa com Nicole Winfield, Francisco admitiu que a Igreja “tem muito a aprender” na gestão da pedofilia clerical, reconhecendo que ele próprio teve um momento de “conversão” durante a sua viagem ao Chile em 2018, quando defendeu o Bispo Barros, desacreditando o vítimas.
"Eu não podia acreditar. Foi você quem me disse no avião: 'Não, não é assim, padre'. Foi você”, lembrou Francisco a jornalista. “Aí a bomba explodiu em mim, quando vi a corrupção de muitos bispos nisso (...). Você testemunhou que eu mesmo tive que acordar para casos que estavam todos encobertos”.
A íntegra da entrevista do Papa Francisco pode ser lida, em espanhol, aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa quebra o silêncio sobre o 'caso Rupnik': "Para mim foi uma grande surpresa e uma dor, porque essas coisas doem" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU