09 Setembro 2022
A Irmã Maria De Coppi tinha ido para a cama pouco depois das 21h, rezando para que os tiros que se ouviam ao longe não causassem muitas vítimas. Mas a morte, com a cara dos jihadistas islâmicos de Cabo Delgado, os “insurgentes” como os locais os chamam, chegou à sua missão em Chipene, no norte de Moçambique, e não lhe deixou saída. A Irmã Maria foi morta com um tiro à queima-roupa quando voltava para seu quarto vindo do dormitório feminino para onde havia ido para se certificar de que as garotas hospedadas pela missão e suas coirmãs estivessem seguras.
A reportagem é de Antonella Napoli, publicada por Repubblica, 08-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A missionária comboniana originária de Santa Lúcia di Piave, na província de Treviso, tinha 83 anos, 59 vividos em Moçambique para fazer o bem, retribuído pelo carinho de toda a comunidade moçambicana. Apesar da consciência dos riscos, ela já havia sobrevivido a uma emboscada na qual 17 pessoas morreram, ela não quis deixar o cada vez mais instável e perigoso país africano onde ela havia chegado em 1963, de forma bastante rocambolesca, depois de mais de um mês de viagem por mar.
Mapa da África Austral com destaque a Moçambique
Fonte: Wikicommons
Mapa de Moçambique, Nampula e destaque para Cabo Delgado e Pemba
Fonte: Wikicommons
"Foram horas de grande tensão - conta a Irmã Gabriella Bottani, sobrinha da Irmã Maria de quem ela havia recebido uma mensagem durante a noite informando-a sobre o que estava acontecendo, pouco antes de ser assassinada - Ficamos aflitas porque outras irmãs tinham que ser evacuadas da zona de ataque. Depois da dor da perda da minha tia, hoje foi um dia de grande preocupação”.
Salvaram-se, contudo, Dom Lorenzo Barro e Dom Loris Vignandel, ambos de Pordenone, que permaneceram trancados em seus quartos durante a invasão do grupo armado, e algumas religiosas que haviam fugido para a mata próxima. “Por volta das três da manhã recebemos mensagens dramáticas de Don Loris que temia que os rebeldes os tivessem encontrado e estivessem prestes a matá-los. "Vamos nos ver no Paraíso", escreveu ele. Felizmente não foi assim. Infelizmente, a Irmã Maria não teve tanta sorte, ela cruzou com os milicianos que atiraram nela imediatamente e morreu instantaneamente”, conta com a voz alquebrada Alex Zappalà, diretor do Centro Missionário de Pordenone.
Pelas primeiras informações, parece que o grupo armado que matou Irmã Maria chegou às margens da missão no dia anterior. Estava acampado junto ao rio Lúrio, na fronteira com a província de Cabo Delgado, onde há mais de um ano se intensificam os confrontos entre o exército moçambicano e os rebeldes, que começam a atacar as comunidades locais com violência crescente. Ontem à noite a escalada atingiu a missão de São Pedro de Lurio-Chipene, destruída por sua fúria. A paróquia, o dormitório, a sala de informática da escola dos Combonianos e os meios de transporte foram incendiados.
“Correu-se o risco de um massacre - fala o padre Alex Zanotelli, missionário comboniano com longa experiência na África - Não se trata de simples jihadistas, esses rebeldes são chamados de "insurgentes", são expressão de uma das áreas mais pobres do país que está se rebelando. Nós italianos estamos envolvidos, especialmente em Cabo Delgado onde a Eni descobriu um dos maiores campos de gás do mundo e os moradores locais estão revoltados contra as multinacionais”. E talvez esta possa ser uma “chave” para entender a obstinação contra uma missão de religiosos, que não havia feito nada em sua longa história exceto produzir bem-estar para os moradores e dar assistência aos mais necessitados.
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Um tiro à queima-roupa: o martírio de Irmã Maria no assalto dos jihadistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU