10 Agosto 2022
No convento carmelita localizado na cidade do famigerado campo de concentração, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano celebrou uma missa comemorativa recordando a figura da copadroeira da Europa, entrelaçando-a com emoção com aquela de sua avó materna, ela também vítima do extermínio nazista: por sua intercessão, rezamos pela paz na Ucrânia e no mundo, "não uns contra os outros, não mais, nunca mais".
A reportagem é de Alessandro De Carolis, publicada por Vatican News, 09-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Só uma coisa importa: que, corajosos ou covardes, estejamos sempre onde Deus nos quer, confiando em Deus para o restante". A frase do grande escritor francês George Bernanos é um programa de vida para todo cristão, por mais forte que seja sua fé. O cardeal Michael Czerny a coloca como um selo de uma homilia envolvente e comovente, na qual correm paralelamente os acontecimentos e destino semelhante da grande Santa Teresa Bendita da Cruz - Edith Stein e da avó materna do cardeal, Anna Hayek em Löw.
Histórias emblemáticas das atrocidades trazidas por uma guerra, por toda guerra e, portanto, as mais justas, segundo o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano, para rezar e invocar o fim dos conflitos na Ucrânia e no mundo, ecoando o grito de Paulo VI à ONU em 1965: "Não uns contra os outros, não mais, nunca mais... não mais a guerra, não mais a guerra".
A história de Edith Stein é bem conhecida e o Cardeal Czerny relembra as etapas salientes do que ele define de "a lenta obra da graça". A primeira brecha que nela - judia de nascimento, inicialmente ateia, mas ávida investigadora do pensamento humano - abre o testemunho de uma amiga judia convertida ao cristianismo, capaz de palavras de serenidade apesar da dor de uma recente viuvez. Depois a noite histórica em que, na casa de amigos em Bergzabern, acidentalmente encontra e depois devora o livro sobre a vida de Santa Teresa de Ávila.
Circunstância, afirma o cardeal Czerny, que esclarece pera ela que a verdade tão procurada é na realidade "objetiva, é um 'dom', é uma pessoa, é Cristo". Finalmente, a conversão em 1921 e o Batismo de 1º de janeiro de 1922, os anos de magistério em que ela gradualmente encontra um "equilíbrio harmonioso entre fé e filosofia" até sua consagração religiosa na Ordem Carmelita, dia em que Edith Stein se torna Teresa Bendita da Cruz. O epílogo ocorre em 9 de agosto de 1942: retirada do convento na Holanda onde ela havia buscado abrigo, a futura Santa foi deportada para Auschwitz, onde morreu nas câmaras de gás em 9 de agosto.
Alternando a história da Santa com a de sua família, o prefeito do dicastério vaticano revela que compartilha com Edith Stein "as origens judaicas, a fé católica, a vocação religiosa e várias coincidências com a história exposição pessoal de Anna Hayek, minha avó materna”, nascida em 1893 e praticamente da mesma idade de Stein que havia nascido dois anos antes. Toda a família do ramo materno, católica de descendência judaica, conhece a ignomínia do internamento no campo de Terezín, não longe de Praga.
O avô morre lá, enquanto a avó e seus dois filhos, ou seja, os tios do cardeal Czerny, acabam em Auschwitz. Os tios são mortos nos campos de trabalho, a avó sobrevive, mas por pouco tempo. Doente de tifo, morre em maio de 1945. Os pais do cardeal também sofrem um destino semelhante: a mãe como descendente de judeus, o pai porque se recusa a se divorciar da esposa, ela presa em Terezín, ele em um campo próximo, em Postoloprty.
O chefe do dicastério vaticano confidencia que "ter esse background" é para ele "uma grande honra" e se sente "profundamente comovido" ao celebrar "o 80º aniversário do nascimento ao céu de Edith Stein, que ocorre em circunstâncias que este ano são especiais e que nos impelem a recordar o passado”. Refiro-me, diz ele, "à guerra na Ucrânia e às muitas guerras cruéis que ocorrem em várias partes do mundo".
Minha avó, confessa o cardeal, "ainda não sei onde foi enterrada" e, no entanto, "Auschwitz liga o testemunho e as relíquias de Santa Teresa Bendita da Cruz à história e ao espírito de minha avó, onde quer que se encontrem seus restos mortais". Assim, continua ele, para mim "é muito emocionante comemorar o 80º aniversário de Edith Stein e, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, o 77º aniversário de Anna Löw, prantear minha avó e homenageá-la, pensar nela reunida com o toda a família e também a Santa Teresa Bendita". Por "sua intercessão - conclui - rezamos pela paz na Ucrânia e no mundo" e "que aqueles cujas histórias pessoais e familiares são tanto judaicas como cristãs, possam contribuam para o diálogo necessário entre as nossas fés para vivermos como irmãos todos, em nossa casa comum".
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Cardeal Michael Czerny: Missa em Auschwitz pelos oitenta anos da morte de Edith Stein - Instituto Humanitas Unisinos - IHU