21 Janeiro 2020
O jesuíta canadense Michael Czerny, feito cardeal pelo Papa Francisco em outubro passado, tornou-se o pastor titular de uma paróquia na periferia de Roma domingo passado, dia 19 de janeiro.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 20-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na sua homilia, Czerny falou aos milhares reunidos – muitos dos quais eram migrantes – sobre a sua própria família que fugiu da guerra e encontrou refúgio na América do Norte.
Imagem ilustra "Voo do Egito"
Foto: Vatican News
“A minha família de quatro pessoas fugiu da Checoslováquia depois da guerra”, disse Czerny. “Chegamos no Canadá de barco em 1948. Essa experiência de vida ficou imortalizada no Voo ao Egito, quadro pintado pela minha bisavó por parte de mãe, Anna Hayek Löw”.
Muito tempo depois que a minha bisavó criou esta obra de arte, a experiência de vida continuou a moldar o ministério e o trabalho de Czerny, a ponto de o seu novo brasão retratar um barco com uma família de quatro membros.
Essa imagem, disse ele, representa a sua família e também “os muitos refugiados e migrantes que, hoje, viajam de barco. O barco é também uma imagem tradicional da Igreja como a Barca de Pedro, que é enviada pelo Nosso Senhor para ‘receber o estrangeiro’”.
Além disso, continuou Czerny, o barco serve de recordação das obras misericordiosas junto aos excluídos, esquecidos ou desemparados.
Estas palavras do cardeal foram ditas em sua homilia enquanto era instalado pastor titular da Paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro Pietralata, na periferia de Roma. A comunidade, localizada a cerca de 40 minutos de trem da Basílica de São Pedro, é o lar de milhares de migrantes que chegaram à Cidade Eterna em busca de melhores oportunidades.
Brasão do cardeal Czerny
Há tempos Czerny é considerado um colaborador próximo de Francisco, quem o nomeou para coordenar a seção para migrantes e refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O cardeal jesuíta responde diretamente ao pontífice, não ao presidente do dicastério, o Cardeal Peter Turkson.
Ele mesmo filho de imigrantes que foram para a Argentina saindo da Itália, Francisco há tempos fez sua a preocupação pelo reassentamento e integração dos migrantes que fogem da fome, violência, perseguição e mudanças climáticas.
A primeira viagem deste pontificado foi à ilha italiana de Lampedusa em 2013. Em 2016, junto com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I de Constantinopla, Francisco visitou a ilha grega de Lesbos buscando conscientizar a comunidade internacional sobre as mortes de milhares de migrantes africanos que se afogam no mar Mediterrâneo na tentativa de chegar à Europa. Na ocasião, o papa trouxe a Roma três famílias migrantes no avião papal. Em dezembro passado, a pedido do papa, vários refugiados tiveram ajuda para entrar na Itália após serem barrados na Grécia.
Durante a homilia de domingo, Czerny citou uma carta do papa escrita para os treze novos cardeais criados em 2019, em que afirma: “Que este novo estágio de vossa vida possa capacitá-lo a imitar Jesus mais proximamente e aumentar a vossa capacidade de compaixão por todos os homens e mulheres que, vitimados e escravizados por tantos males, buscam com esperança por um gesto de tenro amor por parte dos que creem no Senhor”.
“Espero viver esta missão também entre vocês aqui na Paróquia São Miguel Arcanjo”, disse Czerny.
Ao explicar a sua escolha pela cruz peitoral, em geral feita com metais preciosos, mas que, neste caso, fora feita com madeira recuperada de um navio que carregava migrantes africanos ao longo do Mediterrâneo, o cardeal contou aos fiéis que a madeira “nos lembra da cruz sobre a qual Jesus, o Filho de Deus, foi crucificado para tirar os pecados do mundo. Este prego encravado claramente nos lembra que Jesus foi pregado à cruz”.
“A madeira simples sugere o voto jesuíta de pobreza e o desejo por uma Igreja humilde e comprometida”, continuou Czerny. “A origem da madeira reflete a fuga da minha família e as minhas responsabilidades atuais na Seção para Migrantes e Refugiados. As rachaduras na pintura em vermelho e na madeira nos recordam das feridas, do sofrimento, do derramamento de sangue na crucificação de Cristo, quem se renova sempre que o mundo esquece a compaixão e a justiça. A cor mais clara – na parte superior – indica a ressurreição do nosso Senhor e Salvador e a plenitude da vida que Ele veio trazer”.
O Cardeal Michael Czerny chega à Paróquia de São Miguem Arcanjo, em Pietralata, na periferia de Roma | Foto: La Machi Communication for Good Causes
O Pe. Gianmarco Merlo, pároco, deu as boas-vindas ao cardeal dizendo que esta sua nomeação era um “sinal para nós da atenção continuada do Papa Francisco a esta paróquia que ele visitou cinco anos atrás”.
“É também um dom do Espírito Santo que ‘desce e permanece’ conosco para levar a nossa comunhão e atenção fraternal às necessidades especiais da Igreja universal, as quais os deveres eclesiais do nosso cardeal representam são bem”, disse o padre.
Francisco visitou a paróquia em 08-02-2015. Ele foi o terceiro papa a visitar a Igreja de São Miguel Arcanjo. O Papa Paulo VI celebrou a Missa de Natal em 1963 nela, e João Paulo II visitou-a em 1991.
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Referência de Francisco para os migrantes – feito cardeal em outubro – assume paróquia titular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU