03 Fevereiro 2022
Três anos após o Documento sobre a Fraternidade assinado em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e o Imame Ahmad Al-Tayyeb, o Cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, sublinha a necessidade de promover, em todos os níveis, uma cultura centrada na dignidade das pessoas. "Todos podem fazer alguma coisa" é seu convite, e, sobre o fenômeno da migração, o cardeal denuncia: é minado por ideologias e retóricas negativas.
Em 4 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Imame Ahmad al-Tayyeb assinaram em Abu Dhabi o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e a Convivência Comum. Uma Declaração de intenção conjunta que fez parte de um caminho marcado por outros documentos produzidos neste campo, como as declarações finais dos quatro seminários do "Fórum Católico-Islâmico" realizados em 2008, 2011, 2014 e 2017.
A peculiaridade do que aconteceu há três anos - no contexto da viagem apostólica de Francisco aos Emirados Árabes Unidos - reside no fato de que a declaração não foi assinada pelas delegações, mas pelo próprio Pontífice e por um líder islâmico, o grão imame da mesquita-universidade al-Azhar, uma instituição muito influente tanto do ponto de vista religioso como acadêmico.
A entrevista é de Felipe Herrera, publicada por Vatican News, 03-02-2022.
No Documento, os dois principais signatários fazem um forte apelo conjunto contra a injustiça, a falta de distribuição justa dos recursos naturais e pelo fim dos conflitos, da degradação ambiental e do declínio cultural e moral. Como o Dicastério, que o senhor dirige atualmente, está trabalhando para colocar em prática estas indicações, que estão no coração da sua própria missão?
O nome de nosso Dicastério - "Desenvolvimento Humano Integral" - é em certo sentido uma tradução ou uma reformulação da expressão "fraternidade humana". Isso significa que nosso Dicastério trata de todos aqueles fatores sociais, públicos, econômicos e políticos que podem ser um obstáculo ou uma ajuda ao desenvolvimento humano integral; e esse desenvolvimento humano integral é o que queremos, cada um para si e depois para os outros. Isso significa criar as condições para uma vida digna, uma vida rica em esperança, com um horizonte de esperança.
Assim, o Documento sobre a Fraternidade Humana nos explica, como fazemos no Dicastério, o que precisa ser feito: não podemos fazer tudo, mas todos podem fazer alguma coisa. E sim, há muitas áreas da vida humana nas quais se deve progredir: tanto na fraternidade humana quanto no desenvolvimento humano integral. Assim, este se torna um dia de festa, um aniversário e para o nosso Dicastério se torna uma oportunidade para celebrar e rezar por aquilo que trabalhamos.
Este documento defende a plena cidadania de todos em nossas sociedades e o fim do uso discriminatório do termo "minorias", e fala da importância da assistência aos refugiados. Questões com as quais o Dicastério está comprometido. Por que é tão fundamental hoje em dia este desafio para nossos irmãos e irmãs refugiados?
O desafio é importante porque o movimento humano é um fator na vida desde o início, e graças aos sistemas de comunicação estamos mais conscientes desses movimentos, mas também mais conscientes de que todos podem fazer algo para acolher esses irmãos e irmãs que estão chegando.
É uma pena que este fenômeno, esta realidade humana tenha sido minada pela retórica e ideologia negativa, quando na realidade é uma oportunidade, uma chance de crescer como pessoa e como povo. E assim vivermos esta fraternidade humana em nosso relacionamento com migrantes e refugiados, com as vítimas do tráfico, como uma oportunidade de abrir nossos corações, mãos e vidas para acolher alguém que precisa. Jesus deixou muito claro que se fizermos isso com eles é como se estivéssemos fazendo com Ele.
O senhor é membro da comissão internacional independente que entregará no final deste mês o Prêmio Zayed 2022 da Fraternidade Humana em Abu Dhabi. O que pode nos dizer sobre as candidaturas apresentadas e a importância desta edição, que ainda se encontra em meio à pandemia? Vocês encontraram, entre os candidatos, aquelas luzes de esperança para a humanidade que procuravam?
Certamente, e espero muito que o fato de termos concedido o Prêmio também abra nossos olhos para as muitas outras pessoas ao nosso redor, mesmo em outras partes do mundo, que são uma fonte de esperança. A falta de esperança é talvez o efeito mais terrível desta Covid: esperamos que a celebração e o Prêmio sejam uma oportunidade para reabrir nossos corações e mentes e ver que o futuro nos espera com grande promessa.
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Cardeal Czerny: fraternidade humana é criar condições de uma vida digna para todos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU