28 Abril 2022
O livro da consolação: é assim que parece possível resumir o sentimento provocado pela leitura do volume editado por Marinella Perroni e Brunetto Salvarani.
O comentário é de Luigi Sandri, publicado por Settimana News, 25-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O livro, de fato, dedica uma dúzia de páginas ao pensamento variegado de cada um dos vinte e seis teólogos e teólogas, considerados "gigantes" em seu campo. Demonstrando assim a vivacidade e agudeza dos protagonistas que, de diferentes pontos de vista, abrem o horizonte e imaginam a possibilidade de que a teo-logia solicite às Igrejas - da base ao topo - uma renovação radical para realizar, para o hoje e para o amanhã, o Evangelho.
Guardare alla teologia del futuro. Dalle spalle dei nostri giganti
Não é possível, aqui, aprofundar cada "biografia": cada uma é intrigante e abrange campos muitas vezes desconhecidos ou difíceis de decifrar. No entanto, acreditamos ser necessário listá-las, com seus respectivos “biógrafos”, para avaliar o conjunto.
1) Giuseppe Alberigo, italiano, historiador da Igreja, criador da La storia del Concilio Vaticano II - de Alberto Melloni.
2) Rubem Alves, brasileiro, cantor do Deus da beleza - por Marco dal Corso.
3) Tassa Balasurya, cingalês, profeta do diálogo entre cristianismo e religiões asiáticas - de Gaetano Sabetta.
4) Kari Elisabeth Bǿrresen, norueguesa, estudiosa da "matrística" (o análogo feminino da até agora esmagadora "patrística") - por Selene Zorzi.
5) Olivier Clément, francês, iluminado estudioso da Ortodoxia - por Natalino Valentini.
6) James Cone, estadunidense, voz da teologia negra da libertação - por Paolo Naso.
7) Mary Daly, estadunidense, lutadora contra "ginocídio" - por Letizia Tomassone.
8) Paolo De Benedetti, italiano, pesquisador da Bíblia entre a ironia e o marranismo - por Massimo Giuliani.
9) James Dunn, inglês, o exegeta original de Paulo - por Rosanna Virgili.
10) Jacques Dupuis, belga, professor na Índia e em Roma - pioneiro, odiado pelo Vaticano, do pluralismo religioso - por Sergio Tanzarella.
11) Jean-Marc Ela, camaronês, defensor de uma teologia que parte dos povos africanos - por Giulio Albanese.
12) Claude Geffré, francês, defensor de uma reinterpretação criativa da fé - por Claudio Monge.
13) Rosemary Goldie, australiana, "ouvinte" do Concílio Vaticano, precursora do apostolado dos leigos - por Cettina Militello.
14) Catharina Halkes, holandesa, defensora de uma reforma da Igreja ligada à Palavra - por Clara Aiosa.
15) Martin Hengel, alemão, especialista na relação entre o judaísmo e a Igreja primitiva, por Eric Noffke.
16) Hans Küng, alemão, na primeira fila da luta pela liberdade na Igreja - por Vito Mancuso.
17) Ghislain Lafont, francês, parte da tradição para imaginar o futuro - por Stella Morra.
18) Johann Baptist Metz, alemão, sobre a responsabilidade de encarnar a esperança - por Vito Impellizzeri.
19) Raimon Panikkar, catalão-indiano, investigador da "vida na Vida" – por Roberto Mancini.
20) Paolo Prodi, italiano, nas dobras da gênese da modernidade - por Marcello Neri.
21) Paul Ricoeur, francês, o símbolo como critério para o relançamento de uma teologia cristã - por Andrea Grillo.
22) Juan Carlos Scannone, argentino, o “povo” como ponto de partida de um mundo novo e de uma Igreja renovada - por Fabrizio Mandreoli.
23) Edward Schillebeecks, holandês, a relação entre Igreja, tradição e ministérios, por Serena Noceti.
24) Dorothée Sölle, alemã, por um cristianismo desencantado depois de Auschwitz - por Fabrizio Bosin.
25) Adriana Zarri, italiana, eremita leiga e o Shabbah de todos - por Stefano Sodaro.
26) Erich Zenger, alemão, como ler a Bíblia e o que fazer com ela na teologia - por Antonio Autiero.
A simples lista de autores, com um aceno ao cerne de seu discurso e depois a lista de revisores, nos faz entender a complexidade da obra, que não pode ser resumida em poucas palavras, tal e tamanha é a variedade e a riqueza de abordagens e temas.
Então vamos ver como quem organizou o livro apresenta a obra. "Diante de 26 presentes - escreve Marinella Perroni, na primeira parte da introdução - muitos mais são os ausentes; a lista dos teólogos do século XX que, desde o Concílio Vaticano II até o presente, teceram a trama do pensamento teológico é muito mais longa do que a que serve de sumário para este livro. Inevitavelmente, tivemos que buscar critérios para ficar dentro dos limites previstos".
"Por isso, decidimos tratar apenas dos teólogos que morreram nas duas primeiras décadas deste século e, dentro desta lista infelizmente muito longa, apenas alguns. Apenas uma parte, é verdade, mas uma parte pelo todo. De fato, interessados mais no método do que na exaustividade, não quisemos compilar uma espécie de enciclopédia, mas apenas iniciar um caminho que, esperamos, poderá ser percorrido também por outros dentro e fora das faculdades teológicas, sem excluir o público em geral".
Em seguida, Brunetto Salvarani, na segunda parte da introdução, destaca um fato, embora conhecido, mas do qual muitas vezes não se tiram as consequências: "Como assinalou Philip Jenkins, em seu clássico A Terceira Igreja [2004], estamos atravessando hoje por um momento de profunda transformação na história das religiões, uma mudança silenciosa que o cristianismo já experimentou no século passado, com seu centro de gravidade deslocando-se impetuosamente para o Sul: África, América Latina, Ásia... Nas próximas décadas, o cristianismo deveria desfrutar de um autêntico boom mundial, mesmo que a grande maioria dos crentes não seja branca, nem europeia, nem euro-americana”.
E Cristina Simonelli, no posfácio: "Um livro como este é, no seu conjunto, uma revisão da investigação teológica do século XX, com a clara vantagem sobre muitos dos repertórios desse tipo de recolher uma memória efetivamente crítica, inclusiva e promissora".
Ou seja - traduzimos - a possibilidade de intuir os muitos fios que entrelaçam a teologia hoje, e ajudam a imaginar o tapete que formarão amanhã, transmitindo uma arte antiga que homens e mulheres repensaram com ousadia para estimular a fé cristã a voltar a florescer.
Marinella Perroni-Brunetto Salvarani (org.), Guardare alla teologia del futuro. Dalle spalle dei nostri giganti (Claudiana 2022, 304 páginas - 24 euros).
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Os ombros da teologia que virá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU