Francisco de Assis no Sagrado Cerrado brasileiro

Coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco”

23 Dezembro 2021

 

“Para São Francisco de Assis, todo lugar é santo. Muitas vezes valorizamos outros lugares e não cuidamos de onde estamos. Esquecemos que este lugar, o cerrado, é único e somos responsáveis por ele. Como cuidar da Amazônia? Muitos dos rios que nutrem a Amazônia nascem no cerrado. Se o cerrado não for preservado, a floresta tropical corre o risco de acabar também. Se o cerrado não for cuidado, o mundo inteiro vai sentir, por causa das mudanças no clima”, escreve Emanuel Fernandes Pereira, ofm, com colaboração de Ivânia Vasconcelos de Goes Machado, para a Coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco”.

 

Frei Emanuel Fernandes Pereira, ofm, graduado em Filosofia pela FAE Centro Universitário e em Teologia pelo Instituto São Tomás de Aquino (ISTA). Desde 2014 dedica-se à arte, com cursos e ateliê. Frei Emanuel, hoje, é um frade não ordenado (não é presbítero/padre), e busca, por meio das suas obras sacras, mostrar a importância da inter-relação e integração do ser humano com toda a criação.

 

Eis o artigo.

 


São Francisco de Assis no Cerrado brasileiro.
Arte: Frei Emanuel Fernandes Pereira, ofm | Cortesia à Coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco” | IHU

 

Nesta pintura se retrata a imagem de São Francisco de Assis no meio do cerrado com alguns animais típicos desta região. Deus revelou no coração de São Francisco que toda terra é sagrada, o Espírito de Deus está em todos os lugares, e cada gesto de ternura e vigor é o próprio Cristo se expressando. São Francisco, nesta pintura, recebe os traços de um brasileiro, ele tem as chagas do crucificado, que sofre por causa dos humanos, e da criação que padece e que pede ajuda urgente.

Do lado de trás de São Francisco se vê ao longe a Serra da Canastra. Lugar de preservação, onde nasce um dos rios de grande importância para o Brasil, que neste momento está precisando de um cuidado todo especial para não desaparecer, que é o Rio São Francisco. Este rio está sofrendo por causa da contaminação de mineradores, agrotóxicos utilizados nas lavouras, a destruição de suas margens, morte de seus afluentes e uso inadequado de suas águas. O prejuízo abrange as pessoas simples que vivem em suas margens como também causa desequilíbrio em toda fauna e flora, não só onde serpenteia, mas no mundo inteiro.

É um quadro cheio de cores. Estas cores simbolizam a alegria da diversidade que encontramos em meio à natureza. Esta alegria está na face de São Francisco. Cada animal, grama, serra, o céu tem suas características próprias que devem ser valorizadas e respeitadas. As cores representam a vida que se manifesta nas suas mais diferentes formas e modos. Olhar a diferença de cada animal e vegetação, não para ser explorado ou dominado, mas como modo de estabelecermos relações, sairmos de nossa prepotência e descobrir que sempre podemos aprender algo novo, mesmo que seja com a menor das criaturas, e assim louvar a Deus. Este reconhecimento nutre no ser humano o valor da humildade. O ser humano se conscientiza do seu cuidado com todos os seres, pois a Sabedoria de Deus nos criou interdependes.

O lobo-guará é típico do cerrado brasileiro e está correndo risco de extinção. Recorda o encontro de Francisco com o lobo de Gúbio. É símbolo de todas a “feras” que existem dentro do ser humano. Acabar com estas “feras” não é a solução. É preciso fazer o trabalho de compreendê-las, dialogar e abençoá-las. Ver o que querem dizer. Na pintura, São Francisco está abençoando o lobo.

Abençoar é algo divino. Quando se reconhece a importância das “feras” e as abençoa, não há mais o que temer, porque encontrou o sentido para o que estavam apontando. Houve a integração. Por isso o lobo está olhando para a frente, para mostrar aos espectadores que, onde existe dialogo e bênção, não há mais medo. Punir, condenar e maltratar só faz das “feras” mais violentas e agressivas. O lobo olha com serenidade para quem nele foca a visão.

As três aves simbolizam a integração que ocorre dentro da vida do ser humano: tucano, periquito e seriema. Assim como o lobo guará, estas aves merecem um especial cuidado por causa do problema da extinção. Na pintura, elas surgem sinalizando a liberdade diante da vida, já se pode voar para lugares em que é possível a realização do ser humano no conjunto de toda criação. Já não há mais espaço para julgamentos e crenças limitantes e destrutivas. O tucano se encontra em cima do ombro e próximo da cabeça, simboliza a responsabilidade e abertura de consciência. Traçando uma reta entre o tucano e o periquito, a linha passa pelo coração. Assim, mente e coração se entendem, não brigam mais. Traçando outra reta entre o periquito e a seriema, se passa pela região do abdome e genitais e, outra entre o tucano e siriema, mostra a totalidade do corpo. Sexualidade, afetividade e razão bem orientados e em harmonia trazem a paz. A pessoa em harmonia sente o desejo de abençoar sempre. As aves também estão olhando para os espectadores, e no olhar dizem: você também tem a capacidade de integra-se e viver livre. A integração traz a paz, e o fruto da paz é a alegria que está refletida no rosto de Francisco.

Para São Francisco, todo lugar é santo. Muitas vezes valorizamos outros lugares e não cuidamos de onde estamos. Esquecemos que este lugar, o cerrado, é único e somos responsáveis por ele. Como cuidar da Amazônia? Muitos dos rios que nutrem a Amazônia nascem no cerrado. Se o cerrado não for preservado, a floresta tropical corre o risco de acabar também. Se o cerrado não for cuidado, o mundo inteiro vai sentir, por causa das mudanças no clima.

Deus criou o ser humano e o abençoou, criou o cerrado e o abençoou com toda sua fauna e flora. O homem que se integra cuida de si mesmo e consequentemente cuida de todos os seres.

 

Mensagem da Coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco”

 

Nesta última coluna do ano, gostaríamos de trazer um pouco de arte (sobre o coração do Brasil!) para nos ajudar a também dar sentido estético, ao lado do ético, aos rumos do nosso processo na direção da Economia de Francisco.

A Coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco” é uma iniciativa já consolidada, com 57 publicações até aqui (textuais e artísticas), e, desde o início de outubro deste ano (quando completou um ano de existência), passou a ser mensal. Trata-se de um espaço que nasceu aberto a todas e todos, como espaço de reflexão e de motivação para a ação em torno do chamado que nos fez o Papa Francisco em 1º de maio de 2019.

Por essa razão, a Coluna segue contando com a sua contribuição, para que continue ativa e relevante ao debate e à práxis em que estamos envolvidos como participantes desse processo.

Aproveitamos, então, para desejar a quem segue a Coluna um Natal pleno do verdadeiro sentido daquele que nasceu para trazer sua boa notícia aos mais vulneráveis, e um ano de 2022 com mais esperança.

Paz e bem,

Equipe de Coordenação da Coluna Rumo a Assis,
(Claudia, Klaus, Lucas, Roberto e Tatiana)

 

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