Pesquisa sem concessões no olhar da Igreja sobre a homossexualidade

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28 Outubro 2021

 

"O que mudou, e em profundidade com relação ao passado, é a atitude do Papa para com os homossexuais, para com as pessoas, a partir das palavras que lhes são dirigidas. É no léxico utilizado e na empatia demonstrada que Francisco parece ter trilhado um caminho diferente dos seus antecessores. Um itinerário que, embora conotado por algumas oscilações, dá a impressão de querer superar a posição inflexível expressa pelo magistério", escreve Enrico Paventi, em artigo publicado por Il Manifesto, 27-10-2021, comentando o livro “Il “vizio innominabile”. Chiesa e omosessualità nel Novecento” de Franchesco Torchiani. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Qual foi a posição assumida pela Igreja Católica sobre a homossexualidade durante o século passado? Foi uma linha monolítica, destinada a reafirmar a firme condenação dos chamados "atos intrinsecamente desordenados?". Ou é possível ver nela alguma mudança significativa?

Il “vizio innominabile”.
Chiesa e omosessualità nel Novecento

Esses são as principais questões às quais o historiador Francesco Torchiani responde de forma circunstanciada e persuasiva em seu ensaio intitulado Il “vizio innominabile”. Chiesa e omosessualità nel Novecento (em tradução livre, O "vício inominável". Igreja e homossexualidade no século XX, Bollati Boringhieri, pp. 239, € 22,00): uma análise que tem o mérito de reconstruir a orientação da hierarquia vaticana sobre o tema, destacando como ao longo das décadas tal atitude tenha se caracterizado tanto por algumas tímidas aberturas como por alguns repentinos fechamentos.

No que diz respeito às peculiaridades de seu exame, parece importante sublinhar um aspecto: o estudioso utiliza um grande número de fontes e vozes, conseguindo assim dar conta da pluralidade de juízos através dos quais o variegado mundo católico - não apenas italiano - se expressou sobre os homossexuais. De teólogos conservadores a liberais, de sacerdotes a educadores, de membros de comunidades eclesiais a grupos religiosos, ele examina seu debate e, portanto, suas reações, reflexões, resistências, dissensos.

Deve-se notar também que, enquanto gays e lésbicas tendem a adquirir cada vez mais visibilidade não só graças às obras literárias, não ficcionais e cinematográficas, mas também à ação de movimentos e associações, a Igreja continua a se questionar sobre a maneira de enfrentar uma questão de que parece estar em aberto e insuperável contraste com sua própria doutrina.

Com base nessa tradição teológica, os vários pontífices que se seguiram durante o século XX - embora reconhecendo a necessidade de compreender os sentimentos dos homossexuais - condenaram as relações entre indivíduos do mesmo sexo se opondo, consequentemente à aprovação de leis destinadas a reconhecer seus direitos e proteções.

Diante de tudo isso, Jorge Mario Bergoglio parece ter introduzido, por outro lado, um elemento de considerável descontinuidade em relação à linha seguida pelos que o precederam, ainda que se deva destacar que, até agora, tal virada não se traduziu em nenhuma posição oficial.

Torchiani escreve a respeito: “O que mudou, e em profundidade com relação ao passado, é a atitude do Papa para com os homossexuais, para com as pessoas, a partir das palavras que lhes são dirigidas. É no léxico utilizado e na empatia demonstrada que Francisco parece ter trilhado um caminho diferente dos seus antecessores”. Um itinerário que, embora conotado por algumas oscilações, dá a impressão de querer superar a posição inflexível expressa pelo magistério.

 

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