17 Novembro 2020
Vaticano, aqueles que veem conspirações: do ex-núncio do Vaticano nos EUA ao diretor da Rádio Maria.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 16-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Solve et Coagula" não é apenas o título da melhor compilação da banda pós-punk estadunidense Tuxedomoon nem apenas uma fórmula que remonta aos alquimistas e que se diz ter sido a razão da dissolução da Ordem dos Templários. "Dissolver e coagular" nem mesmo é o lema da Escola de Magia de Harry Potter em Hogwarts, que já foi fotografada tatuada no pulso da autora da saga do bruxinho, J.K. Rowling.
Pode não se acreditar, mas é isso, é a fórmula contra a qual disparou nos últimos meses o arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio vaticano nos Estados Unidos (que há mais de dois anos ataca o Papa Francisco com todo o ímpeto), alertando Donald Trump, e contra ela, em essência, na Itália, se posicionou o diretor da emissora cristã Radio Maria, Dom Livio Fanzaga, que saltou ontem às manchetes por dizer que a crise do coronavírus se deve a uma trama de criminosos e do demônio.
O lema em questão está de fato associado à imagem do cabrito diabólico. Em essência, seria destruir o mundo existente para criar um novo e é isso que estaria acontecendo com o Great Reset, o Grande Reinício mundial (por meio da pandemia do Coronavirus), da qual a eleição de Joe Biden como Presidente dos Estados Unidos também seria, como disse Fanzaga, “a cereja do bolo”. Não importa se em fevereiro Fanzaga defendesse em seus microfones que o vírus era um aviso de Nossa Senhora (a Rádio Maria está particularmente ligada à de Medjugorje): hoje se tornou a conspiração do demônio para subjugar a humanidade, tirar a liberdade, instaurar uma ditadura sanitária mundial.
Essas teses do "solve et coagula" começaram por volta de maio de 2020, em vista das eleições presidenciais dos EUA. Relançadas pela conservadora rede de mídia Lifesite, presente em todo o mundo. E agora retomadas pela Rádio Maria que, olhando de perto, é também um exemplo da tão abominada globalização, visto que a emissora afirma transmitir em 74 países dos cinco continentes, por meio de 81 rádios que transmitem em 50 idiomas. Ao todo, 20.000 voluntários ao serviço de mais de 30 milhões de ouvintes em todo o planeta.
A emissora teve alguns incidentes sérios por ataques ao Papa Francisco ("Não gostamos deste Papa", afirmou um jornalista). Em particular com as intervenções do historiador Roberto de Mattei, que em determinado momento foi o número dois do CNR, fundador da Corrispondenza Romana, um site ultra-tradicionalista e da Fundação Lepanto, professor durante vinte anos da Universidade europeia de Roma dos Legionários de Cristo (que sofreram intervenção devido à conduta de seu fundador Marcial Maciel como predador sexual).
Massimo Faggioli, historiador italiano que leciona hoje nos Estados Unidos perguntou hoje no Twitter quantos católicos italianos seguem o Papa Francisco e quantos são seguidores da Rádio Maria.
Provavelmente mais os segundos do que os primeiros se olharmos para a variegada presença de grupos, associações, neo-templários, crísteros e a massa de fiéis organizados nas paróquias, em grande parte escandalizados pela palavra do atual Pontífice: bem-aventurados os pobres, os mansos, os misericordiosos.
Na hierarquia italiana, somente monsenhor Luigi Negri, bispo emérito de Ferrara, se expressou por escrito a favor da nova onda de Viganò, com uma carta publicada na Corrispondenza romana em junho de 2020: “Caríssima Excelência - escreveu - conforme as circunstâncias de vida tendem a apontar-nos elementos de degradação tanto na vida eclesial como social, gostaria de manifestar-lhe minha adesão à vossa mensagem que me parece ter apreendido o coração vivo da nossa experiência eclesial”. Depois devem ser somados os seguidores do ruinismo (do nome do cardeal Ruini, ex-presidente da CEI na época de João Paulo II).
Depois, há os ratzingerianos (mais ratzingerianos do que o próprio Ratzinger), católicos sem papas e ateus devotos dos quais o próprio Ratzinger se distanciou publicamente. Personalidades e os grupos chamados “sede vacantistas” que contrapuseram Ratzinger a Francisco.
O apelo de Viganò, de maio de 2020, contra o pânico e a ditadura sanitária, foi inicialmente assinado pela usual galáxia conservadora: os cardeais Robert Sarah, Gherard Muller, Joseph Zen, o bispo Joseph Strickland e vários outros padres e jornalistas. Sarah, no entanto, recuou, mas Viganò não quis retirar seu nome do manifesto, pois, ele afirmou, o Prefeito do Culto Divino havia assinado.
A Catholic News Agency descreveu essa posição como "apocalíptica e conspiratória".
E Viganò aderiu publicamente a uma recente manifestação negacionista da pandemia organizada em Roma por Forza Nuova, a mesma que recentemente promoveu a missa com todos pertinho e sem máscara.
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“Solve et Coagula”, Viganò quase um bruxinho como Harry Potter - Instituto Humanitas Unisinos - IHU