31 Outubro 2018
Primeiramente, gostaríamos de agradecer ao The New York Times, a vários outros jornais americanos e à imprensa internacional pela atenção dispensada ao histórico acordo entre o Vaticano e a China. Portanto, neste sentido, gostaríamos de salientar alguns elementos de um artigo recente escrito pelo cardeal Joseph Zen sobre o tema.
O artigo é de Francesco Sisci e Francesco Strazzari, publicado por Settimana News, 30-10-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A Santa Sé está convicta de que se trata de um acordo histórico, pois pela primeira vez na história da China um governo com plenos poderes reconhece a autoridade do Papa sobre a Igreja da China. Para Pequim, é o reconhecimento de um princípio da modernidade: a distinção entre as esferas religiosa e política.
Isso não aconteceu nem quando a China estava sendo pressionada por potências estrangeiras ou durante a guerra civil nem estava claramente definido no acordo que o Papa João Paulo II assinaria no final dos anos 90. Pequim interrompeu esse processo devido a um grande mal-entendido.
O acordo acabou sendo menos preciso e aconteceu na conclusão de um processo em que a Igreja de Roma, entre outras coisas, reconheceu cerca de 30 bispos anteriormente nomeados pelas autoridades de Pequim. De fato, isso perturbou muitos fiéis chineses que seguiam a Igreja de Roma. Joseph Zen, que já era representante da diocese de Hong Kong, não protestou contra o reconhecimento dos bispos nem contra a padronização. Por que ele mudou de posicionamento agora?
Na verdade, Roma sempre trabalhou pela unidade da Igreja na China, no passado e no presente.
O acordo não é perfeito nem ideal, mas a vida nunca foi ideal na Igreja: ela nasceu com Cristo, que perdoou os legionários romanos que o mataram na cruz. A vida foi assim por séculos para os cristãos perseguidos pelos imperadores de Roma, da Alemanha e de muitas outras raças e culturas – mas nunca se rebelaram contra eles.
A Igreja era contra o comunismo chinês nos anos 50 porque era um regime ateu. Mas se esse governo lida com a Igreja há décadas e reconhece as práticas religiosas, é evidente que há agora uma situação muito diferente da dos anos 50.
Hoje a Igreja de Roma está retornando para a China. Pode ser um erro que vai trazer infelicidade e, nesse caso, ela vai recuar. Mas por que não tentar? Principalmente nas condições mencionadas? Mas ficar só olhando e não fazer nada é certamente errado. Como disse o Papa, não fazer nada de mal, mas não tentar fazer nada de bom é ruim.
Na verdade, um mês depois de o acordo ter sido assinado, muitos representantes da comunidade clandestina dizem que estão “felizes” com o acordo e por falar diretamente com Roma, já que antes era tão difícil. Além disso, não houve nenhum êxodo ou cisma, como ameaçou ou previu o cardeal Zen.
O cardeal tem direito a ter sua opinião, mas é apenas a opinião dele. Evidentemente, ele não representa a Igreja, que tem o Papa como seu líder; não representa a Igreja Católica na China, cujos membros e representantes estão felizes por falar com Roma; e não representa nem a China.
Mas se apesar de tudo o cardeal Zen continuar a mobilizar contra o acordo, isso pode de fato tornar-se um convite para que se abra uma fenda na Igreja. Portanto, parece-nos que talvez esteja além de expressar sua opinião.
Além disso, o acordo é controverso hoje porque vem em um momento de graves tensões para a China com os Estados Unidos e alguns países da região. A sombra da guerra hoje está deixando a Ásia muito nebulosa. Nesta atmosfera, o acordo da Santa Sé abre caminhos para o diálogo. Pelo menos por isso o acordo pode ser importante e útil para encontrar um caminho de paz em meio a tantas tensões.
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Joseph Zen e o acordo com a Santa Sé – China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU