27 Outubro 2020
Depois de mais de sete anos de pontificado, o discernimento jesuítico de Francisco é abalado por tremores revolucionários sem precedentes.
A reportagem é de Fabrizio D’Esposito, publicada por Il Fatto Quotidiano, 26-10-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Primeiro, a sensacional expulsão do cardeal Angelo Becciu, ex-ministro do Interior vaticano, por negócios financeiros e imobiliários com o dinheiro dos fiéis católicos. Depois, as misericordiosas palavras de abertura sobre as uniões gays.
O front da direita clerical imediatamente gritou contra a heresia, mas o volume de fogo dos tradicionalistas e conservadores não foi o esperado. Por um simples motivo, explicado por Carlo Maria Viganò, o arcebispo que concorre com sua eminência Raymond Burke pelo papel de antipapa e líder dos fariseus antibergoglianos.
“Ele (Francisco) espera que um grupo de cardeais o acuse formalmente de heresia, que peça a sua deposição. E, fazendo isso Bergoglio teria o pretexto de acusar esses prelados de serem ‘inimigos’ do papa, de se colocarem fora da Igreja, de quererem um cisma.”
Portanto, parem todos. Porque uma coisa é zombar e insultar Francisco (nesses anos ele foi até comparado ao Anticristo), outra é formular uma acusação formal de heresia. E o próprio Burke parece frear quando, ao se dizer triste e escandalizado, especifica que as palavras ditas pelo papa em uma entrevista (retomada pelo documentário apresentado no Festival de Cinema de Roma) não são magistério e que a posição da Igreja contra os casamentos gay não muda.
Em todo o caso, a ferocidade agressiva da direita clerical se resume na redescoberta do pensamento de vários santos sobre os “sodomitas”. Um acima de todos, São Gregório Magno, sobre o castigo de Sodoma: “Portanto, era justo que os sodomitas, ardendo de desejos perversos originados pelo fedor da carne, perecessem ao mesmo tempo por meio do fogo e do enxofre”.
Viganò também introduz outro clássico da crítica antibergogliana: “É mais um embrassons-nous de matriz maçônica”, desenvolvido precisamente na última encíclica do papa, Fratelli tutti.
E, para dizer a verdade, os maçons apreciaram muito as referências à fraternidade universal, que vão além da fé e da ideologia, na base do texto franciscano. O boletim mensal Erasmus, do Grande Oriente da Itália, a maior loja maçônica italiana, abre-se com um editorial que repassa as “não poucas analogias com os princípios e a visão maçônica”.
Na prática, ao exaltar a fraternidade, Francisco celebra o “trinômio maçônico”, há 300 anos “posto no Oriente dos templos junto com os da Liberdade e da Igualdade”.
Outras semelhanças podem ser vistas nos dois escândalos que marcaram as tentativas do papa de reformar a gestão financeira e econômica da Igreja. Os perfis gêmeos, isto é, de Francesca Immacolata Chaouqui (Vatileaks 2) e Cecilia Marogna (a “dama de Becciu”). Ambas presas, chegaram ao Vaticano em duas trilhas paralelas da chamada maçonaria católica: Chaouqui ligada à poderosa condessa Pinto Olori del Poggio e ao lobista Bisignani; Marogna, “recomendada” por Carboni, Pazienza e até pelo maçom democrático Magaldi. Mas essa é outra história.
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Viganò: “A encíclica do papa celebra o trinômio maçônico” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU