13 Julho 2020
"O papa viu a loucura de bloqueios de navios, das guerras, das carestias, dos abandonos e isolamento, dos campos de concentração "como o inferno" desejados pela Itália. Talvez seja necessária a lista de Colao (lista para retomada econômica do país, ndt). Mas sem a lista de Bergoglio, continuamos pregados, no ponto onde nos pegou a pandemia", escreve Furio Colombo, jornalista e político italiano, foi redator-chefe do jornal L'Unità, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 12-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
As primeiras imagens violentas da pandemia nos deixaram com o terror da cura. Os trajes de proteção de médicos e pacientes, as terríveis salas de hospitais, as práticas de "tratamento", que pareciam misteriosamente cirúrgicas, as narrativas dos sobreviventes, que aterrorizam mais do que as mortes, agora nos mantêm afastados de um conforto que sustentou nossas vidas por muito tempo, mesmo em momentos de risco. Perdemos a confiança, até um pouco miraculosa na ciência. Cada um de nós afasta-se da tela depois de ouvir um especialista, depois outro, depois uma longa sequência de vozes competentes, murmurando "eles não sabem". É um sentimento de abandono que não faz parte da época industrial, pós-industrial e depois digital.
Sabíamos com certeza que poderia haver desníveis de tempo, mas depois haveria, para todos os males com grandes números, uma maneira de impedir, uma de tratar e uma de curar. Ir ao médico era, ao mesmo tempo, uma má e uma boa notícia. Pena estar doente. Mas felizmente agora eles iam lhe curar. E depois você chegava até a esquecer. Agora não. Agora ficamos todos com uma tenaz desconfiança do diagnóstico e tratamento, a ponto de não caminhar, se possível, perto de locais chamados hospitais. Imagens assustadoras (a cura) vieram deles durante semanas, e muitas vezes terminavam com caixões sem nome, transportados por soldados em caixotes todos iguais, em direção a valas comuns. Depois começou a trégua e uma estranha espera.
E serviu para saber que tudo foi interrompido pela misteriosa doença, exceto por dois antigos e sólidos males italianos: a corrupção (ganhar sobre os jalecos e sobre os falecidos) e o absenteísmo. 65% do pessoal de saúde de pelo menos um local até agora investigado em Milão - e a macabra descoberta será repetida em outros lugares - absteve-se do trabalho indesejado, deixando morrer pacientes e colegas fiéis. Existe uma intuição que não pode ter deixado de atravessar a mente, o pensamento, o medo, a esperança de muitas pessoas. Não se pode sair no mesmo nível físico, psicológico e moral com que entramos. No entanto, o caminho estava parado, não havia planos e não havia nada que pudesse ser chamado, com uma sombra de desejo, de "futuro".
Quando as notícias que você espera param, e a forte onda de notícias, anúncios e debates sobre política e economia chega, você percebe que se trata apenas de golpes de martelo para pregar cada um na persuasão de antes, de que não tem nada a ver com o depois. Portanto, nada está acontecendo e ninguém recomeça. Angústia, mas você não sabe a quem contar, uma sensação de redução do horizonte. A experiência de uma descida lenta, mas implacável, que torna tudo mais miserável e mais irrelevante. No entanto, não é verdade que não há notícias, mesmo que fora da política. Na sexta-feira, o Tribunal Constitucional, presidido pela primeira vez por uma mulher, cancelou a lei de segurança, redigida em seu tempo livre pelo então Ministro do Interior Salvini, por ser completamente estranha e contrária à Constituição. De fato, a Corte viu uma intenção de prejudicar os destinatários, estrangeiros que vieram para a Itália por causa da fome e da guerra, mas também para prejudicar a Itália, criando massas de pessoas sem documentos e sem ajuda, mas também com a proibição de trabalhar.
A sentença sobre a qual estamos falando, pela primeira vez em anos, deu um impulso muito forte no trem parado e indicou com autoridade como pode ser reencontrada a identidade, e assim poder recomeçar. No dia anterior o papa Francisco, o único político que sabe para que lado se virar para falar sobre realidade, indicava por onde começar para chegar a governar um mundo sem crueldade e sem corrupção (que, junto com as guerras, são a causa de todas as crises econômicas pelas quais os especialistas se reúnem) disse, em um discurso, que Johnson, Trump, Putin e Bolsonaro nem seriam capazes de imaginar: “Batem às nossas portas estrangeiros famintos, nus, doentes, prisioneiros, pedindo para serem encontradas e ajudadas, pedindo para poder desembarcar. Para os migrantes, a Líbia é um inferno, um campo de concentração. A guerra é feia, nós o sabemos, mas vocês não imaginam o inferno que se vive naqueles campos de concentração. Aquelas pessoas só têm a esperança de atravessar o mar".
Tentem juntar as três notícias. Um grande país abandonou a medicina e a pesquisa. No momento da necessidade urgente havia heróis, mas não instrumentos. Um grande país se entregou a leis persecutórias e miseráveis que confirmaram que não sabemos enfrentar a realidade.
O Papa viu a loucura de bloqueios de navios, das guerras, das carestias, dos abandonos e isolamento, dos campos de concentração "como o inferno" desejados pela Itália. Talvez seja necessária a lista de Colao (lista para retomada econômica do país, ndt). Mas sem a lista de Bergoglio, continuamos pregados, no ponto onde nos pegou a pandemia.
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No mundo sem confiança, felizmente, existe o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU