16 Abril 2020
O sabor da inocência George Pell foi aproveitado por uma única semana. Solto na terça-feira pelo Supremo Tribunal Australiano - que anulou a decisão da corte de Melbourne que o havia condenado por agressão sexual contra dois menores, considerando que a decisão estava errada porque não levava em conta uma dúvida razoável - agora o cardeal símbolo da pedofilia no clero precisa enfrentar outra acusação pelo mesmo crime.
A reportagem é de Alessia Grossi, publicada por Il Fatto Quotidiano, 15-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma investigação anunciada pela News Corporation, que já estava no ar no dia da libertação do alto prelado que passou 400 dias na prisão "como inocente" como ele próprio ressaltou.
Dessa vez, o ato de pedofilia - já conhecido e sempre negado com veemência pelo cardeal - remonta aos anos 1970, quando Pell exercia o sacerdócio na cidade vitoriana de Ballarat. A polícia de Victoria se recusou a comentar as notícias da investigação de Pell, embora antecipada de alguma forma pelas declarações do procurador-geral Christian Porter, que na terça-feira passada, enquanto o ex-ministro das Finanças do Vaticano se refugiava no mosteiro carmelita, havia assegurado que as denúncias reunidas no arquivo a seu respeito não teriam sido encerradas com a absolvição, mas, devido ao interesse público sobre as acusações de pedofilia contra o cardeal, teriam sido analisadas pela procuradoria. A polícia local se recusou a comentar a nova investigação.
Em vez disso, por coincidência, quem falou justamente no dia das acusações foi George Pell pessoalmente, ou melhor, em vídeo, na Sky News, entrevistado por seu amigo e defensor de longa data, Andrew Bolt. Antes da entrevista, Bolt, que escreveu vários artigos e comentários em apoio a Pell antes do encerramento do caso dos dois coristas de Melbourne, já mencionava a possibilidade de novas investigações sobre o ex-arcebispo convidado por Bergoglio para trabalhar em Roma. "Como você reagiria se a polícia vitoriana continuasse buscando outras vítimas, se continuassem buscando para tentar processá-lo?" Resposta de Pell: “Bem, eu não ficaria completamente surpreso. Mas quem sabe. É problema deles."
Em suma, o cardeal teria decidido preparar, mesmo em nível midiático e com a ajuda de seu amigo, o terreno para continuar exercendo o papel de vítima perseguida. Essa teoria é a mesma de sua porta-voz, Katrina Lee, citada pelo Herald Sun, que primeiro deu a notícia da nova investigação contra o prelado e defende: "O que quer que a polícia faça, deveria haver um processo justo pelos canais apropriados". Acusações que o vice-comissário de polícia de Victoria, Shane Patton, nem quis nem mesmo comentar. O fato é que, para George Pell, esse pode não ser o último problema.
A comissão de inquérito aberta para as acusações de abuso sexual dentro da Igreja em toda a Austrália, desde seu relatório final em 2017, havia rasgado as páginas referentes ao cardeal para não atrapalhar o julgamento contra ele, que ainda não estava concluído. Mas agora uma nova investigação poderia colocar em dúvida o cancelamento desses depoimentos incluídos nas investigações das ações das autoridades eclesiásticas em Ballarat, na época em que Pell era um sacerdote naquela região.
Naquela ocasião, Pell já havia sido investigado como amigo do padre pedófilo de Ballarat, Gerald Ridsale. Quando questionado, o ex-ministro das Finanças havia afirmado que "era uma história triste e não muito interessante" para ele. "Não tinha motivos para me interessar pelos males perpetrados por Ridsale", havia explicado. Contra essa "indiferença", naquela época também havia se lançado o jornalista Bolt, mas depois pediu desculpas a Pell por tê-lo julgado "como todos os outros".
Entre os "outros", estariam também todos aqueles que o estariam ameaçando após a absolvição. É por isso que a Arquidiocese de Sydney confirmou que o cardeal foi levado para ser protegido pela equipe de combate ao terrorismo da polícia no seminário de Good Shepherd, em Homebush.
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Pell ainda em apuros, a acusação: quando padre, abusou de um menor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU