29 Junho 2017
O tesoureiro do Vaticano, cardeal George Pell, negou veementemente ter cometido qualquer crime após ser indiciado por crimes sexuais na Austrália, seu país natal.
Ele diz ter sido vítima de um "implacável assassinato de caráter" durante uma investigação de dois anos sobre "acusações falsas".
Segundo ele, o papa lhe concedeu uma licença para rebater as acusações.
De acordo com o vice-comissionário da polícia do Estado de Victoria, Shane Patton, as acusações foram feitas por várias pessoas e são ligadas a incidentes ocorridos em vários momentos do passado.
A reportagem é publicada por BBC Brasil, 29-06-2017.
O cardeal Pell, de 76 anos e que mora no Vaticano, é considerado o "número três" da Santa Sé.
"Eu não vejo a hora de finalmente ir à julgamento. Sou inocente dessas acusações, elas são falsas. A ideia de abuso sexual é abominável para mim".
A Igreja Católica tem enfrentado, há anos, acusações de que vários de seus sacerdotes cometeram abuso sexual em vários países - e que muitos casos teriam sido acobertados.
O correspondente da BBC em Roma James Reynolds diz que o indiciamento deixa a igreja e o papa em uma posição desconfortável.
Depois de ser eleito em 2013, o papa Francisco criou uma comissão para lidar com acusações de abuso sexual contra clérigos. Agora, ele vê um de seus assessores mais próximos enfrentando essas mesmas acusações.
"O cardeal Pell está enfrentando uma série de acusações e há muitos denunciantes", disse o vice-comissionário Patton. Mas os detalhes das acusações não foram revelados.
A polícia de Victoria disse que tomou a decisão de indiciar o cardeal após consultar promotores no mês passado.
De acordo com Patton, "os processos e procedimentos" não foram diferentes de qualquer outra investigação. "O cardeal Pell foi tratado da mesma forma que qualquer outra pessoa nesta investigação", disse.
As acusações foram entregues aos representantes legais do cardeal em Melbourne nesta quinta-feira.
O cardeal terá de comparecer à corte de Melbourne em 18 de julho, segundo Patton.
Um juiz decidirá na próxima semana se divulgará detalhes e a natureza das acusações antes de Pell comparecer à Justiça.
O cardeal Pell se apresenta como um forte apoiador dos valores tradicionais católicos, adotando uma posição conservadora em relação a casamento gay e contracepção, além de defender o celibato dos padres.
Mas sua carreira foi abalada primeiro por acusações de ter acobertado casos de abuso sexual por padres e depois de ter cometido abusos. Pell sempre negou com firmeza ter feito qualquer mal.
Em 2014, Pell foi chamado a Roma para se tornar o chefe das finanças do Vaticano, uma posição nova criada pelo papa Francisco em meio a vários escândalos no Banco do Vaticano - acusado de lavagem de dinheiro e de desvios na gestão de contas.
Mas Pell deixou para trás na Austrália uma onde de indignação com revelações de casos de abuso de menores por clérigos católicos.
O cardeal foi acusado diversas vezes de ter acobertado abusos, de ser "arrogante" e "distante".
Ele teria transferido um padre notoriamente pedófilo - Gerald Ridsdale - a diferentes paróquias em vez de denunciá-lo, além de tentar subornar uma das vítimas para ficar em silêncio.
Ele negou as acusações, mas admitiu que poderia ter feito mais para investigar queixas de abuso.
Em 2016, a rede de TV Australian Broadcasting Corp (ABC) colocou no ar denúncias de dois homens que diziam ter sido tocados inapropriadamente pelo cardeal nos anos 1970. Ele negou vigorosamente as denúncias e as descreveu como uma "campanha escandalosa para manchar sua reputação".
O cardeal Pell não é apenas o mais alto clérigo da Austrália como também é uma das mais altas autoridades do mundo católico.
O comentário é de Hywel Griffith, correspondente da BBC na Austrália.
Durante duas décadas, ele esteve na linha de frente de debates da igreja sobre assuntos controversos como homossexualidade, Aids e pesquisa com células-tronco.
Ele também era o responsável por respostas oficiais da igreja às alegações de abuso sexual entre autoridades católicas australianas durante uma série de inquéritos.
Quando prestou depoimento por vídeo a uma comissão na Austrália sobre o assunto no ano passado, alguns sobreviventes de abuso viajaram até Roma para assisti-lo.
Portanto, é difícil exagerar a importância da decisão de indiciá-lo.
Quando comparecer perante a Justiça na Austrália, cada segundo será escrutinizado não apenas pela imprensa australiana, mas por membros de congregações católicas de várias partes do mundo.
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Cardeal George Pell: quem é o número 3 do Vaticano indiciado na Austrália por abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU