29 Novembro 2016
A Arquidiocese de Melbourne (Austrália) arquivou um relatório independente sobre seu protocolo com vítimas de abusos sexuais. O programa de atuação – conhecido como Melbourne Response (a “Resposta de Melbourne) – foi alvo de muitas críticas desde que foi iniciado, em 1996, pelo então arcebispo da cidade, o agora cardeal George Pell.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 28-11-2016. A tradução é do Cepat.
“Vamos fazer (não publicar o relatório) porque queremos causar os menores incômodos às pessoas que sofreram”, declarou a Fairfax Media, na sexta-feira passada, o atual arcebispo da Arquidiocese de Melbourne, Denis Hart.
O prelado realizou estas declarações após a arquidiocese confirmar que dobrará o valor das indenizações que oferecerá às vítimas – de acordo com as recomendações da Comissão Real australiana sobre as Respostas Institucionais a Abusos contra Menores –, mas sem divulgar as conclusões do relatório independente sobre seu protocolo de atuação nestes casos, que encomendou há mais de dois anos, ao menos por enquanto.
O arcebispo Hart também destacou que o relatório independente sobre a Resposta de Melbourne passará agora às mãos da Real Comissão, que será a encarregada de decidir se o publica ou não.
“Caso eles (os comissários) nos digam: “Publiquem”, então, publicaremos. Ou trataremos de reavaliá-lo (o conteúdo da Resposta de Melbourne) de acordo com o que a comunidade e a Comissão estão nos dizendo, para o bem de todos”, afirmou Hart. Os comissários, não obstante, já indicaram, há mais de um ano, que qualquer modificação ao protocolo interno da Igreja em matéria de antiabusos corresponde à própria Igreja, e não a uma imposição que viesse da Comissão Real.
O arcebispo Hart anunciou uma revisão independente sobre a Resposta de Melbourne, em agosto de 2014, após receber fortes críticas em uma avaliação da Comissão Real acerca da imparcialidade, confidencialidade e equidade da mesma. Naquele momento, o prelado afirmou que o ex-juiz Donnell Ryan se encarregaria de estudar possíveis melhoras ao protocolo, que poderia passar, segundo indicou, por mudanças em seus processos de investigação de casos de abusos, por um aumento nas indenizações monetárias pagas às vítimas e por uma comprovação da equidade dos pagamentos que foram realizados nos 20 anos de vida do programa.
Ainda que Hart, em um primeiro momento, tenha prometido que as conclusões da revisão de Ryan se tornariam públicas em novembro de 2014, não foi até setembro de 2015, quando o ex-juiz entregou seu relatório ao prelado, demora que a arquidiocese atribuiu, naquele momento, aos lentos avanços da Comissão Real. Desde então, o relatório foi juntando pó em uma gaveta da cúria arquidiocesana, sem que seu próprio autor sequer soubesse quando seria publicado.
Ainda que a decisão de dobrar o valor das indenizações tenha sido celebrada por grupos de defensores dos sobreviventes, a Igreja de Melbourne também recebeu reprovações por sua decisão de arquivar o relatório de Ryan. Anthony Foster, por exemplo – o pai de duas vítimas de um padre pedófilo de Melbourne –, em declarações a Fairfax, se mostrou “perturbado” com a decisão do arcebispo Hart.
“Isto não vale”, disse Foster. “Desde o princípio, houve uma promessa explícita de que este relatório seria publicado e deve ser publicado. Temos que ver o relatório completo para saber se a arquidiocese está implementando todas as recomendações da revisão de Ryan”, prosseguiu, referindo-se às outras conclusões do ex-juiz, que presumivelmente iriam além de um mero aumento no valor das indenizações.
Contatado por Religión Digital, um porta-voz da Arquidiocese de Melbourne afirmou que, mesmo que não seja publicado no momento, concluir que o relatório de Ryan foi suprimido é “ridículo” e totalmente “enganoso”. “O relatório foi encaminhado para a Comissão Real, que fará suas conclusões sobre (a atuação da) Igreja católica em fevereiro”, insistiu. “Eu diria que este é um passo perfeitamente apropriado e lógico”.
Segundo uma investigação realizada por Fairfax, em fins do ano passado, a Resposta de Melbourne poderia ter poupado, em favor da arquidiocese, um total de 62 milhões de dólares em indenizações a vítimas. A média das recompensações sob o programa extrajudicial foi de $ 46.000, comparado com a média de $ 270.000 recebidos pelas vítimas que processam a Igreja nos tribunais.
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Arquidiocese de Melbourne não publicará um relatório independente sobre o protocolo antiabusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU