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05 Abril 2020

Uma das razões pelas quais a Itália ficou tão surpresa com a morte (o suposto suicídio) de Primo Levi, em 1987, foi porque um ano antes havia publicado um livro tão breve como luminoso que, lido hoje, no contexto dessa quarentena devido à pandemia, funciona como um exercício balsâmico de serenidade e inteireza. Ou talvez seja que, no que lemos, apenas vemos o que queremos ver. Explico-me: o livro (intitulado O ofício alheio) reunia os ensaios breves que Levi vinha publicando no jornal La Stampa, de Turim, desde sua aposentadoria como químico. Mas quando se sentou para corrigi-los e depurá-los, os organizou de tal maneira que quase parecem encenar nossa situação doméstica atual.

A reportagem é de Juan Forn, publicada por Página/12, 03-04-2020. A tradução é do Cepat.

O livro começa falando sobre a casa onde Levi nasceu e passou toda a sua vida, exceto pelo breve e terrível interregno em que foi enviado para Auschwitz. Até que se aposentou, ou seja, até o momento em que começou a passar todas as horas do dia entre aquelas paredes, quase não havia prestado atenção naquele velho apartamento do começo do século no Corso Re Umberto, em Turim, cuja principal característica era “sua falta de caráter”.

Já aposentado, Levi vagueia pelos seus aposentos, descobrindo a cada passo surpreendentes memórias e silenciosas virtudes naquela construção inexpressiva, carente de decorações e ambições, que demonstrou ser, durante a Segunda Guerra, igualmente funcionais e sólidas, resistindo com silenciosa temperança aos bombardeios, cujas marcas carrega como o combatente veterano leva suas cicatrizes.

Por mais de meio século, Levi entrou em seu apartamento sem prestar a menor atenção no suporte de guarda-chuva ao lado da porta que estava ali desde os dias em que se usavam bengalas para sair na rua. Mas o que chama sua atenção realmente são dois pregos na parede: um pendura uma chave cuja função há muito foi esquecida, e outro uma ferradura enferrujada da época em que passavam os cavalos pelos paralelepípedos do Corso Umberto e talvez funcionassem como um amuleto quando as bombas caíam em Turim. Passando na frente de um enorme aparador, lembra-se de quando sua filha se refugiou ali, brincando de esconde-esconde com o irmão, e reapareceu com um dente na mão que havia encontrado remexendo no gesso na parede e que o próprio Levi havia escondido lá quando era um menino.

A viagem para o passado continua quarto por quarto. A sala principal que antes era usada apenas três ou quatro vezes por ano para receber visitantes importantes e mais tarde se tornou uma sala de parto para seus filhos, uma sala de costura, um laboratório fotográfico, uma oficina de reparos domésticos e um quarto improvisado para seus netos é agora o lugar de leitura favorito de Levi, desde que acomodou uma poltrona ao lado de uma janela onde sua mãe se inclinou para ouvir a declaração de casamento feita pelo seu prometido da rua.

No corredor ao ar livre que se conecta à cozinha, Levi se lembra do local exato em que foi autorizado a deixar um viveiro no qual criava girinos coletados de esgotos de rua quando ainda pareciam minúsculas enguias e, ao longo dos dias, iam desenvolvendo uma protuberância no rabo que gradualmente se bifurcava e se transformava nas patas traseiras, enquanto que dos lados da cabeça emergiam, primeiro de um lado e depois do outro, pequenas mãos transparentes que lhes permitiam nadar em estilo peito, cada vez mais freneticamente, como se não soubessem que estranho ser estavam se tornando.

Li certa vez, naquela maravilha de romance que Carson McCullers batizou de O coração é um caçador solitário, que as criações de qualquer espécie que tanto nos fascinam em nossa infância são nossa primeira experiência com o instinto materno e paterno, a confirmação de que em nós coexistem ambos os sexos, enigmaticamente, mas inequivocamente. Carson termina o parágrafo, com sua expressividade incomparável, dizendo que se trata daqueles tipos de momentos em que sentimos “que a força com que seu coração bate pode matá-lo”, mas permita-me deixar Carson para minha próxima contracapa e voltemos à serena medida de Primo Levi.

O passo seguinte em sua jornada leva a um quarto onde se acumulavam malas e baús dos tempos pretéritos. Levi encontra a caixa de seu velho Meccano e se lembra instantaneamente de seu primeiro amor, uma menina de nove anos chamada Lydia, recém-operada das amígdalas. Lydia devia guardar repouso e contemplava a distância como os meninos brincavam na rua. Um deles, chamado Carlo, atraiu especialmente sua atenção. Carlo tinha uma versão do Meccano superior à de Primo, mas se juntassem as peças de ambos os jogos, poderiam construir artefatos impossíveis de conseguir cada um por contra própria.

Não somente as peças eram complementares, como também eram as mentalidades de ambos: os objetos que Carlo montavam eram simples, sólidos e pedestres. Os de Primo eram mais complicados e inventivos, mas instáveis, porque Carlo não tinha paciência para apertar bem cada rosca. Primo sugere a Carlo que construa algo único para o aniversário de Lydia, algo que nem mesmo os manuais de Meccano ensinem como fazer. Carlo se inclina para um motor, um artefato que funciona por conta própria. Primo aceita, mas aspira a algo simbólico, que funcione como uma oferta de amor. Depois de muita discussão, convence Carlo a fazer um relógio, o relógio mais bonito já construído.

Carlo aceita com relutância seu papel subordinado na tarefa, Primo sente que o amor inspira sua audácia criativa. Chegando o aniversário de Lydia, Carlo dá a Primo a honra de entregar o presente feito em conjunto. Quando Primo tenta iniciar o relógio, o mecanismo falha miseravelmente. Carlo dá um passo à frente e entrega à aniversariante o presente que estava escondido embaixo da blusa: uma bomboniere, que Lydia tem o prazer de receber e mostra com orgulho para o resto dos convidados.

Primo Levi diz que nunca esperava de sua casa mais do que satisfações elementares: abrigo e privacidade. Nunca tentou embelezá-la, nem a refinar, nem a ampliar, nem a apropriar. Não acredita que isso tenha influenciado sua maneira de viver, assim como não acredita que isso esteja refletido nos livros que escreveu. “Vivi nesta casa como vivi na minha própria pele: conheço melhores, mais amplas, mais bonitas e mais resistentes, mas não seria natural para mim trocá-las pela minha”.

Perto do final do livro, Levi fala sobre o medo do confinamento e o medo da falta de moradia, tanto na infância como na idade adulta, e diz estas singulares palavras: “Segundo nosso caráter, nessas situações, algumas pessoas sentem que estão perdidas e que seu fim é inexoravelmente iminente, e outros encontram na mesma adversidade a força para resistir. Não é uma questão de crença, não é uma questão de fé, nem de insegurança, a maioria de nós foi ou será, de um jeito e de outro, sem especial lógica, nem coerência, nas sucessivas encruzilhadas que a vida nos traz”.

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