31 Março 2020
Enquanto as Igrejas cristãs cancelam os ritos presenciais para evitar contrair ou espalhar o novo coronavírus, muitas correram para adotar a Comunhão “virtual”\: algumas celebram via transmissão ao vivo; outras incentivam os fiéis a levarem seu próprio pão para os encontros de videoconferência Zoom; e pelo menos um ministro da Igreja Unida de Cristo está aumentando a frequência da sua Comunhão online, porque “nosso povo precisa de normalidade”.
A reportagem é de Jack Jenkins, publicada em Religion News Service, 30-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas, com os frequentadores das igrejas ainda fechados em suas casas para evitar o contágio durante semanas e até meses, as lideranças cristãs estão começando a perguntar: a Comunhão é apropriada para o ciberespaço?
O clero tem expressado uma variedade de opiniões sobre o tema nas últimas semanas, provocando debates – inclusive entre lideranças dentro da mesma tradição.
Alguns questionam se ela deveria (ou poderia) ocorrer, em primeiro lugar. Para tradições como o catolicismo, em que o envolvimento físico com o pão e o vinho eucarísticos é uma parte essencial da fé, os fiéis costumam assistir a transmissões ao vivo de padres que celebram a missa sozinhos, na expectativa de eventualmente voltarem à igreja para participar do sacramento.
Enquanto isso, a Arquidiocese de Nova York está incentivando os fiéis a rezarem uma oração como um ato de “comunhão espiritual”, que as lideranças definem como “um desejo ardente de receber Jesus no Santíssimo Sacramento e de abraçá-lo amorosamente em um momento ou em circunstâncias em que não se pode recebê-Lo na comunhão sacramental”.
Da mesma forma, no dia 20 de março, a Igreja Luterana Evangélica dos Estados Unidos emitiu diretrizes desencorajando a Comunhão online, sugerindo, em vez disso, que os fiéis “jejuem” da prática durante a pandemia.
“Recomendamos que não exortemos as pessoas a empregar a Comunhão virtual, que diáconos, pastores e bispos usem este tempo como um momento de ensino sobre o entendimento luterano da Palavra de Deus, e que façamos uso do Serviço da Palavra e da Oração da manhã, da Oração da Noite e da Oração Responsiva”, diziam as recomendações.
Outros mudaram de posição à medida que os efeitos do surto global da Covid-19 se alastram. Os líderes da Igreja Presbiteriana (PCUSA) sugeriram inicialmente no início de março que os pastores deveriam evitar realizar o rito online, apontando para os recursos que pressupõem a Comunhão presencial como norma. Porém, no dia 27 de março, o Escritório da Assembleia Geral da PCUSA fez uma reviravolta: publicou uma nova opinião consultiva que defende o uso da Comunhão virtual em caso de “emergência” – uma categoria que inclui uma pandemia global.
“Em circunstância de emergência, pode haver situações em que as necessidades pastorais do momento exijam que a Igreja tome ações contrárias à prática normal”, diz o texto. “Durante uma emergência ou uma pandemia na qual a Igreja é incapaz de se reunir ou aconselhada a não se reunir pessoalmente por razões de saúde pública, a sessão de uma congregação pode determinar que isso inclua a observação da Comunhão online.”
Alguns não parecem ter pressa em relação a isso. Um representante da Igreja Episcopal disse que as lideranças da denominação estão atualmente trabalhando em “reflexões teológicas” sobre o culto online, com a intenção de publicá-las nos próximos dias.
Enquanto isso, a Igreja Metodista Unida (UMC) está se valendo de debates passados para tirar novas conclusões. As lideranças da UMC formaram uma força-tarefa especificamente para abordar o tema da Comunhão online em 2014, que produziu diretrizes para os pastores, apontando problemas com a prática e recomendando que o clero se esforçasse para manter a prática fundamentada no mundo físico.
Mas, com o início da Covid-19 e apelos ao distanciamento social, o bispo Kenneth Carter, da Conferência da UMC da Flórida – que presidiu a força-tarefa – agora deu permissão ao clero da sua região para realizar o sacramento online.
“Demos essa permissão com a orientação de que esta é uma situação extrema para atender às necessidades pastorais e missionárias”, disse ele ao Religion News Service no dia 27 de março. Ele observou que os bispos da UMC em Ohio também concederam ao clero em suas regiões a permissão para realizar a Comunhão online, que eles descrevem como “uma forma simbólica de permitir que o corpo de Cristo seja partilhado na Ceia do Senhor”.
Carter disse que a prática não apenas ajuda as lideranças da Igreja a manter a comunidade cristã em tempos de isolamento em massa, mas também ajuda as pessoas que podem estar hospitalizadas ou em quarentena, impossibilitadas de participar fisicamente no sacramento.
Além disso, afirmou, as Igrejas estão fazendo isso de qualquer maneira.
“Isso não foi motivado por autoridades denominacionais que emitiram um decreto”, disse ele. “Isso veio das congregações.”
Mesmo assim, as permissões vêm com ressalvas. Carter observou rapidamente que ele permitiu a prática na Flórida, “sabendo que existem alguns que simplesmente não veem isso como uma expressão apropriada da comunidade”.
E, em Ohio, os bispos insistiram em que a permissão para realizar a Comunhão online em meio a uma pandemia global “não é uma licença para continuar essa prática quando a vida voltar ao normal”.
Também existe alguma ambiguidade nas tradições quanto ao tipo de Comunhão online que é permitido. Alguns ministros simplesmente transmitem a partilha do pão e do vinho, por exemplo, enquanto outros incentivam que as pessoas que assistem se unam a eles à sua própria maneira.
Mas, por enquanto, disse Carter, a sua prioridade é atender às necessidades espirituais dos irmãos cristãos.
“Tentei não agir como uma agência reguladora”, afirmou. “Esta é uma crise.”
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Enquanto o coronavírus mantém os fiéis em casa, clero cristão debate a Comunhão online - Instituto Humanitas Unisinos - IHU