19 Março 2020
“Ave Maria, cheia de graça, o senhor está convosco”. Em frente à Gruta de Massabielle, um padre reza o terço em italiano. Não há mais peregrinos, mas a oração é transmitida ao vivo. Desde ontem, o santuário de Lourdes, que recebe milhões de fiéis todos os anos, especialmente os gravemente enfermos em busca de um milagre, fechou seus portões devido à epidemia de Covid-19. "Somos cidadãos como os outros, devemos respeitar as novas regras", declara monsenhor Olivier Ribadeau Dumas, reitor de Lourdes, depois de ter sido por muito tempo secretário geral da conferência dos bispos franceses.
A entrevista com Olivier Ribadeau Dumas é de Anais Ginori, publicada por La Repubblica, 18-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando decidiram fechar?
Nós já havíamos começado a tomar medidas de precaução no santuário. Os tanques nos quais os peregrinos podem imergir não estavam acessíveis. Havia uma verificação das presenças na gruta de Massabielle. Ficamos em contato diário com as autoridades. Após o anúncio do confinamento lançado pelo governo, parecia certo que nos adaptássemos.
O santuário de Lourdes já havia sido fechado alguma vez em sua longa história?
Apenas alguns dias durante a Segunda Guerra Mundial e em 2013 após uma enchente. Desta vez é diferente. Sabemos que o período será mais longo.
Que efeito lhe causa o santuário vazio?
Já faz alguns dias que recebemos muitos cancelamentos de agências que organizam peregrinações. A parte baixa de Lourdes, onde há os hotéis e as lojas, parecia vazia. É uma perda séria para a cidade, mas tenho certeza de que, quando reabrirmos, encontraremos uma solução, talvez prolongando a temporada de peregrinação até dezembro.
"Estamos em guerra", disse o presidente Macron. Você concorda?
Estamos passando por uma grave crise sanitária. Lourdes é um lugar simbólico para os doentes. E, portanto, sentimos uma responsabilidade particular. Este santuário deve continuar sendo um pulmão vivo de oração no mundo.
Como?
Os nossos capelães continuam a oração na Gruta de Massabielle, de manhã à noite. E fazem isso com ainda mais intensidade, invocando a Virgem para proteger o mundo.
O que os fiéis estão dizendo?
A maioria entende que não havia outra solução. Organizamos a transmissão pela TV ao vivo da Gruta para não interromper o vínculo com os fiéis. E estou convencido que teremos sucesso. Já registramos um forte aumento de pessoas assistindo a oração de casa.
A peregrinação é algo físico; para quem acredita em milagres, não é o mesmo que rezar diante de uma tela.
Lourdes é uma cidade mundial, no sentido que está presente em todos os lados, existem muitas paróquias com este nome e réplicas da gruta em diferentes países. Muitas pessoas já rezam para a Nossa Senhora sem vir ao santuário. Não estou dizendo que é a melhor coisa. Voltaremos a acolher os peregrinos, mas por enquanto somos nós, padres do santuário, que devemos ir até eles, com os meios que temos.
Como os capelães do santuário reagiram?
Fechar foi um choque. Nossos padres franceses, italianos, alemães, poloneses vivem na relação cotidiana com os peregrinos. É algo que nos fará falta. Também é difícil para mim ver Lourdes deserta. Mas, quando estou sozinho na gruta para rezar, garanto que me sinto cercado, mesmo que não haja presença física, sinto o vínculo de tantos peregrinos que, junto comigo, invocam Nossa Senhora. E acredito que valha o mesmo.
Vocês tomaram alguma precaução entre os sacerdotes?
Respeitamos as distâncias de segurança, tentamos ser prudentes. Limitamos nossos movimentos conforme recomendado pelo governo. Seguimos as recomendações das autoridades. Mesmo que moramos em um lugar extraordinário como Lourdes, não pensamos que somos cidadãos acima das regras.
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“Doloroso fechar o santuário. Transmissões ao vivo na TV para cristãos no mundo”. Entrevista com o reitor do Santuário de Lourdes, França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU