"A premissa é que "a TV tem uma forte propensão para uma psicologia laica". Diversão, isto é, e não encantamento. Impossível replicar a sacralidade de igrejas e também de sinagogas. Sem esquecer que é difícil recolher-se espiritualmente em frente à TV. Em suma, a TV é feita para relaxar e se distrair".
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 16-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o comentário.
A fé na TV. Não é mais uma exceção reservada a crentes doentes e deficientes graves, mas uma regra para todos os católicos praticantes neste período surreal de pandemia. O papa que reza o Angelus solitário e "engaiolado" na Biblioteca do Palácio Apostólico ou que celebra a missa em streaming da capela de Santa Marta. Igrejas silenciosas sem celebrações e sem a Eucaristia para o povo de fiéis. E assim será para a Semana Santa anterior ao Domingo de Páscoa, coração e centro de todo o ano litúrgico (aquele que termina antes do Advento).
Para retornar à telinha. A fé transmitida ao vivo pode ser realmente "plena"? A resposta é negativa, pelo menos no que diz respeito aos católicos, e não vem apenas dos homens da Igreja para os quais "é essencial alimentar-se do corpo de Cristo" (padre Enzo Bianchi no jornal Fatto do último sábado).
A argumentar que nem tudo e “televisionável” e que o cristianismo é uma religião "exigente" demais para um meio como a TV foi o sociólogo estadunidense Neil Postman (1931-2003), especialista em ecologia das mídias e considerado entre os estudiosos mais importantes depois de Marshall McLuhan (1911-1980). Em 1985, Postman escreveu Amusing Ourselves to Death, publicado em italiano em 2002 sob o título Divertirsi da morire. Il discorso pubblico nell’era dello spettacolo (Reset e Marsilio).
A premissa é que "a TV tem uma forte propensão para uma psicologia laica". Diversão, isto é, e não encantamento. Impossível replicar a sacralidade de igrejas e também de sinagogas. Sem esquecer que é difícil recolher-se espiritualmente em frente à TV. Em suma, a TV é feita para relaxar e se distrair. Talvez seja também por isso que ontem o papa Bergoglio elogiou aqueles padres "criativos" que fazem de tudo para ter contato ao vivo com seus fiéis. Seja um Ape Car circulando pelos prédios (em Bibione, no Veneto) ou uma missa rezada no terraço da paróquia (em Positano, na Campânia).
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