17 Março 2020
No coração da crise europeia do coronavírus, na cidade de Bérgamo, no norte da Itália, seis padres católicos morreram na semana passada devido à doença e, até este domingo, mais de 20 padres estavam hospitalizados.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 16-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O bispo de Bérgamo, Francesco Beschi, confirmou esses números ao falar com a rede de notícias italiana Rainews24.
“Os nossos sacerdotes são muitos, e são numerosos os que se expuseram [ao vírus] para estar próximos da sua comunidade”, disse ele no domingo. “A doença deles é um sinal evidente de proximidade, um doloroso sinal de proximidade e de partilha da dor.”
Beschi também disse que ninguém está “exonerado dessa prova extremamente dolorosa”.
Hoje, Bérgamo é a província italiana com o maior número de pessoas que adoeceu, com 3.416 casos até domingo, em relação ao total de 21.157 na Itália. Isso representa 16% do número total de infecções no país, embora Bérgamo represente apenas 0,2% da população geral do país, com pouco mais de 120.000 habitantes.
O número de mortes em Bérgamo também está crescendo exponencialmente, com cerca de 50 pessoas morrendo diariamente nessa região devido ao vírus.
Em termos de história católica recente, a província de Bérgamo, a maior do norte da Itália, é mais conhecida como o local de nascimento de São João XXIII. Logo após sua eleição em 1958, o Papa João XXIII disse a um grupo de peregrinos de sua cidade natal: “Hoje, Bérgamo tem o seu papa”.
Em meio ao surto de coronavírus, os funerais estão sendo realizados em cemitérios em Bérgamo que mal conseguem acompanhar o ritmo e apenas sob a condição de que um número muito pequeno de pessoas acompanhe o falecido e que mantenham uma distância segura umas das outras. Além disso, dezenas de caixões estão começando a se acumular nas igrejas locais, sem espaço para depositá-los, de acordo com relatos locais.
Outro padre, Luigi Trottner, teria sido a segunda vítima do coronavírus no Trentino, outra região do norte da Itália.
Após o crescimento exponencial da pandemia, a Igreja Católica na Itália decidiu que as missas não serão mais celebradas publicamente, em um esforço para proteger os fiéis da infecção. As possibilidades de participar remotamente da celebração continuam crescendo com as missas disponibilizadas na internet e por meio de redes de rádio e TV.
Entre os primeiros a compartilhar a sua missa através de uma transmissão ao vivo foi o Papa Francisco. Embora suas missas diárias sejam frequentemente reservadas a um punhado de fiéis, desde a segunda-feira passada, 9, elas estão sendo disponibilizadas no site e no canal do YouTube do Vaticano. Espera-se que eles estejam disponíveis ao longo desta semana também, embora isso possa se estender até a Páscoa.
Em uma declaração confusa no sábado, a Prefeitura da Casa Pontifícia anunciou que não haveria a presença de fiéis nas celebrações da Semana Santa, mas, no domingo, a Sala de Imprensa da Santa Sé disse que as medidas ainda estavam sendo “estudadas”.
Desde que a pandemia começou a afetar a vida cotidiana dos italianos, as mídias sociais estão cheias de casos de padres e bispos que se deslocam pelas suas dioceses, mesmo com as precauções necessárias, levando o Santíssimo Sacramento em procissão ou abençoando as pessoas que acompanham de suas janelas.
Embora apoiando as medidas que ajudam a impedir a propagação do vírus e, portanto, a salvar a vida dos fiéis, particularmente dos mais vulneráveis, como idosos e pessoas com doenças crônicas, o Papa Francisco deu vários sinais nos últimos dias de como deve ser o papel dos padres e religiosos.
No domingo, em sua mensagem do Ângelus, proferida na biblioteca do Palácio Apostólico, Francisco disse que queria agradecer a “criatividade dos sacerdotes”, que pensam em “milhares de modos de estar perto do povo, para que o povo não se sinta abandonado; sacerdotes com zelo apostólico, que entenderam bem como agir em tempos de pandemia”.
Na sexta-feira, Francisco começou sua missa diária em Santa Marta, a pousada nos arredores do Vaticano onde ele mora desde o início de seu pontificado, dizendo que entende o dilema dos padres da Itália.
“Gostaria também de rezar hoje pelos pastores que devem acompanhar o povo de Deus nesta crise”, disse o papa. “Que o Senhor lhes dê a força e a capacidade de escolher os melhores meios para ajudar. As medidas drásticas nem sempre são boas.”
“Por isso, rezemos para que o Espírito Santo dê aos pastores a capacidade e o discernimento pastoral, para que promovam medidas que não deixem sozinho o santo povo fiel de Deus. Que o povo de Deus se sinta acompanhado pelos pastores”, disse Francisco.
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Na cidade natal de São João XXIII, seis padres já morreram devido ao coronavírus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU