28 Outubro 2019
Por trás dessas posições, existem interesses econômicos gigantescos que desejam continuar a dominar a região sem serem perturbados.
O comentário é publicado por Il Sismografo, 26-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sempre pensamos e escrevemos isso, especialmente depois que dois anos atrás o Santo Padre Francisco anunciou um sínodo especial para a Região Pan-Amazônica. E sempre tememos ações de perturbação, campanhas de mentiras, apoios hipócritas às populações locais e, obviamente, - como no caso dos dois sínodos dedicados à família - o desembarque de muitos pseudo jornalistas em Roma para acompanhar de perto o evento, talvez tentando transmitir a ideia de "um verdadeiro Sínodo oculto", nunca contado. Na verdade, diferentemente das previsões, desta vez não aconteceu assim. Os opositores ao sínodo tentaram perturbar com duas ou três questões discutíveis e delicadas, além de divisivas, como os viri probati, o rito amazônico ou as mulheres diaconisas.
Tentaram dar a essas matérias um caráter doutrinário e, por alguns dias, levantaram a velha e requentada acusação, que costuma ser desde a existência dos sínodos episcopais no Vaticano, dos chamados "atentados à doutrina". Alguns cardeais dissidentes e descentrados deram mais de uma contribuição para essa fase, que, no entanto, fracassou clamorosamente.
Nesse ponto, essa direita católica conservadora e os costumeiros "anti-bergoglianos de plantão" (algum cardeal ressentido, algum aspirante frustrado ao barrete cardinalício, algum teólogo e jornalista sempre disponível, mas principalmente um grupo midiático estadunidense que trabalha há muito tempo com dois registros paralelos no que diz respeito ao pontificado), bem dirigidos e orientados, entenderam que pouco ou nada poderia ser feito contra a Assembleia sinodal, entre outras coisas muito blindada, compacta e disciplinada. Assim nasceu a ideia de identificar na REPAM - Rede Eclesial Pan-amazônica, ou seja, na Rede Pan-amazônica das igrejas da região, fundada anos atrás, apoio fundamental para a realização do Sínodo que se encerra no domingo, o principal inimigo a atacar, desacreditar , "achincalhar" (algo que esses setores sabem fazer muito bem).
Duas contas foram feitas, com a ajuda de seus financiadores, e talvez estas tenham sido as etapas:
1) O Sínodo e o Magistério do Papa, mais cedo ou mais tarde, passarão. Outro Sínodo chegará e também outro Papa. O documento final do Sínodo irá engrossar as gigantescas bibliotecas cheias de documentos católicos oficiais. Eventualmente, nos primeiros meses após o encerramento, serão realizados alguns seminários e conferências. Aqueles que passam a vida escrevendo livros farão novos textos... em substância, nada de significativo mudará.
2) O núcleo das futuras perspectivas na Amazônia, do ponto de vista da Igreja Católica e do magistério papal e sinodal – se disseram esses estrategistas - é a REPAM. Essa rede vive e trabalha no campo, nos 9 países com território amazônico, envolve dezenas de bispos e dioceses, orienta e arrasta milhares de operadores pastorais, principalmente missionários e religiosas, e muitos leigos. A REPAM é um verdadeiro "exército eclesial" a serviço da promoção humana nas verdades do Evangelho, e isso faz com que seja, segundo a ótica de alguns, extremamente perigosa, e deva ser combatida e contrastada.
Antes da REPAM, na Amazônia, desde a época da colônia, nunca havia existido uma força organizada para se opor aos vândalos e piratas do capitalismo selvagem que - com seus insaciáveis apetites por ganhos e lucros fáceis, a todo custo - há dois séculos saqueiam povos, culturas, etnias, economias e civilizações locais. Esses interesses das corporações multinacionais transformaram a Amazônia em uma lixeira apesar de ser o maior e mais importante reservatório de biodiversidade, recursos naturais, fatores de equilíbrio climático, etc.
3) Todas as manobras e artimanhas implementadas nestes dias para desacreditar a REPAM, a mais clamorosa das quais é o episódio da Pachamama (no qual caíram não poucos católicos), tinham e terão no futuro apenas um objetivo: mostrar a REPAM como um movimento político, subversivo, herético do ponto de vista religioso, talvez abrigando dentro dele amigos dos comunistas, como já foi escrito nos artigos de ontem e, portanto, como um movimento sóciopolítico que deve ser combatido para salvar - como dizem alguns políticos no Brasil - "os valores da civilização cristã ocidental". Na realidade, por trás dessas palavras, as multinacionais que devastam a Amazônia buscam seus próprios interesses econômicos, sem limites e controles, na impunidade e no silêncio que por décadas lhes garantiu a possibilidade de depredar, sem serem perturbados, povos e nações.
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O verdadeiro inimigo dos católicos de direita e dos “anti-Bergoglianos” nos Estados Unidos e na Europa é a REPAM e não o Sínodo Pan-amazônico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU