24 Outubro 2019
Padres casados sim ou padres casados não? O Sínodo especial dos bispos sobre a Amazônia em curso no Vaticano provavelmente entrará na história exclusivamente por causa da decisão final que, em 26 de outubro, tomarão os quase 200 bispos participantes a respeito dos chamados "viri probati".
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 23-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Estes são homens casados que são ordenados padres sem deixar sua família. "Afirmando que o celibato é um dom para a Igreja – afirma-se no documento preparatório para o Sínodo -, pede-se que, nas áreas mais remotas da região, possa ser estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal de idosos, de preferência indígenas, respeitados e aceitos pela própria comunidade, embora já possam ter uma família constituída e estável, para garantir os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã".
Mas a assembleia convocada por Bergoglio no Vaticano é muito mais. Sobre isso não têm dúvidas as duas jornalistas da revista Avvenire Lucia Capuzzi e Stefania Falasca, autoras de Frontiera Amazzonia. Viaggio nel cuore della terra ferita (Fronteira Amazônia. Viagem ao coração da terra ferida, em tradução livre, EMI), uma ampla, rigorosa e bem documentada investigação de campo. "Um kairós: isso - escrevem as duas cronistas - em extrema substância é o que se quer da assembleia sinodal sobre a Amazônia. O kairós da necessidade de uma conversão ecológica para a Igreja, mas também de sua conversão pastoral, para assumir o cuidado da casa comum como parte de sua missão evangelizadora e ensinar aos fiéis depois de aprender dos povos originários a base para uma boa compreensão da ecologia integral, a sabedoria de viver em harmonia com a criação'.
Capuzzi e Falasca estão convencidas de que somente "assim a Igreja poderá desempenhar sua missão profética mesmo diante dos poderosos deste mundo, muitas vezes interessados em não respeitar a natureza, a explorar e destruir sem escrúpulo o meio ambiente e os povos que nele habitam para a acumulação gananciosa de dinheiro, para maximizar os lucros às custas da vida de todos. As diretrizes do Sínodo não são aquelas de tornar amazônico o rosto de toda a Igreja a Igreja universal, mas a vida do território amazônico e de seus povos, a vida da Igreja, a vida do planeta".
Para as duas jornalistas, "a Amazônia é uma mulher. Uma mulher estuprada. Tem a cor da noite em seus olhos e cabelos lisos com as falésias dos Andes. A Madre de Dios desceu olhando para nós sem dizer uma palavra. Um grito de silêncio. Queríamos encontra-la, poder olhá-la nos olhos. E fomos. Entramos naqueles olhos. Estas páginas são a sua voz. Porque a Amazônia está próxima. Está fora e dentro da vida de todos”.
Palavras em perfeita sintonia com aquelas do cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica e relator geral do Sínodo. "Nosso planeta - assinala o cardeal - entrou nestas últimas décadas em uma grave situação de crise climática e ecológica. São necessários grandes esforços para superar essa crise, são necessárias ações urgentes, embora ainda tenhamos tempo para evitar o pior. De qualquer forma, é necessário começar sem demora”.
Afirmações contidas no livro O Sínodo para a Amazônia (Paulus Editora), com o qual o Cardeal Hummes quis oferecer uma ferramenta valiosa para se orientar no debate convocado por Bergoglio. Não é por acaso que o cardeal enfatiza que justamente a encíclica social de Francisco Laudato si’ "despertou a consciência mundial" sobre o grave problema da crise ecológica. Hummes também ressalta que "uma Igreja ‘em saída’ se dirige prioritariamente para os pobres. Onde quer que estejam socialmente situados, constituem a periferia geográfica ou existencial. O rosto dos pobres é multiforme”.
O padre Giuseppe Buffon, professor titular de História da Igreja na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, nomeado por Bergoglio como especialista no Sínodo, também está convencido disso. Em seu livro Perché l’Amazzonia ci salverà (Por que a Amazônia nos salvará, em tradução livre, Edizioni Terra Santa), o sacerdote escreve que "a sabedoria amadurecida pelas populações amazônicas pode ser útil e talvez indispensável para rever a relação entre o ser humano e a mãe terra, a relação entre ser humano e seu próprio irmão, e a relação do ser humano consigo mesmo. A espiritualidade daquela população pode nos levar a uma nova antropologia, uma nova política, uma nova sociedade e cultura e uma nova teologia".
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A Amazônia "é uma mulher estuprada". Nas palavras de duas jornalistas, a essência do compromisso ecológico da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU