25 Outubro 2018
Uma das palavras de ordem no sínodo dos bispos sobre os jovens é "ouvir". Nos filmes, um beijo pode ser apenas um beijo, mas na Igreja Católica, ouvir nunca é apenas ouvir.
O comentário é de Thomas Reese, jornalista e jesuíta, publicada por Religion News Service, 24-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Os bispos que foram convocados a este Sínodo de um mês para discutir a evangelização da Igreja aos jovens, foram instigados pelo Papa Francisco a ouvir uns aos outros e especialmente os jovens. O Sínodo, que começou em 3 de outubro e termina em 28 de outubro, é composto de 267 prelados e 72 auditores, dos quais cerca de 30 são jovens.
Os jovens auditores, sentados na última fileira do salão sinodal, foram autorizados a se dirigirem aos bispos e participar de discussões em pequenos grupos - mas não a votar. Eles formam um grupo que, para surpresa dos bispos, não tem vergonha de aplaudir os palestrantes durante o sínodo.
Nada assim foi visto em sínodos anteriores. Em uma das pausas, Francisco fez questão de se dirigir ao local onde os jovens estavam sentados para lhes dizer que continuassem fazendo barulho.
A palavra "ouvir" se tornou quase um mantra, repetida constantemente por todos os participantes do sínodo que falam à mídia durante as coletivas de imprensa.
No entanto, nem tudo significa a mesma coisa quando se usa a palavra "ouvir". A palavra está sendo usada de pelo menos três maneiras diferentes no sínodo.
De certo modo, todos parecem entender o que ouvir significa. Para os jovens, significa que os bispos entendam suas dúvidas, necessidades e preocupações. Os bispos reconheceram antes do início do sínodo que não havia sentido em conversar com os jovens sobre coisas em que eles não estivessem interessados.
Muitos bispos estão adotando a abordagem tradicional da Igreja de buscar suas ideias teológicas e tentar as aplicar à realidade. Esse é um tipo de abordagem que não funciona hoje. Francisco tem criticado os ideólogos, tanto da direita e quanto da esquerda, que tentam impor suas ideias às pessoas sem considerar as suas realidades. Conforme apontou Francisco, "os fatos são mais importantes que as ideias".
Talvez isso venha do treinamento inicial de Francisco. Se um cientista tem uma teoria que não se encaixa na realidade, então sua teoria deve mudar. Se um filósofo ou teólogo tem uma teoria que não se encaixa na realidade, então a realidade deve mudar.
Para muitos bispos, ouvir é simplesmente uma maneira de descobrir as questões dos jovens, as quais eles respondem com a teologia tradicional da Igreja.
Esses bispos veem os jovens como vasos vazios nos quais eles despejam conteúdo. Ou pior, vasos cheios de lixo que devem ser removidos para dar espaço ao conteúdo da Igreja.
Uma segunda abordagem é ouvir o que os jovens pensam sobre a Igreja, a fim de descobrir como a Igreja deve mudar. Bispos que se colocaram em posição de humildade depois da crise dos abusos sexuais tendem a ouvir dessa maneira. Esses bispos são mais prováveis de admitir que os programas tradicionais da Igreja não estão funcionando. As coisas devem mudar, e a Igreja precisa de uma reforma.
Esse tipo de bispo está ouvindo para obter novas ideias. Eles estão esperando aprender sobre métodos e programas que funcionam em outros países. Querem que os jovens os acompanhem nesse caminho de descoberta como participantes ativos em sua criação.
Estes bispos também estão mais abertos ao desejo do Papa de que a Igreja se torne uma Igreja de discernimento, que ouça, reflita e tente coisas novas. Com o Papa, eles entendem que o clericalismo põe em perigo a Igreja.
Finalmente, há o tipo de escuta praticada pelo irmão Alois, prior da comunidade de Taizé, na França. Para ele, esse processo ocorre de uma maneira diferente.
O mosteiro de Taizé na França é famoso por atrair jovens, incluindo aqueles que nunca vão à Igreja. Alois explicou que Taizé é povoada por pessoas que ouvem os jovens para entender melhor o verdadeiro espírito que há nelas, mesmo na vida daqueles que não se consideram crentes. O trabalho desses ouvintes não é impor suas ideias aos jovens, e sim ajudá-los a enxergar a presença do Espírito em suas vidas.
Alois está convencido de que Deus é a representação do amor. Então, onde quer que haja amor, compaixão, sede de justiça e desejo de reconciliação, Deus está presente, até mesmo na vida de quem não frequenta a Igreja ou não foi batizado. Alois acredita também que os jovens já estão cheios de Espírito, e só precisam de ajuda para reconhecê-lo.
Esta terceira abordagem é radicalmente diferente, porque ensina os jovens a ouvirem a si mesmos e a ao Espírito. Antes de encher a cabeça dos jovens com informações exteriores, primeiramente eles devem estar voltados para si.
Muitas formas de ouvir estão presentes no Sínodo. O que está sendo ouvido depende tanto de quem ouve quanto de quem fala.
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Sínodo 2018. Três modos de utilizar a palavra “ouvir” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU