03 Outubro 2017
Às 14h40, no domingo passado, 01-10-2017, o Papa Francisco chegou à Catedral de São Pedro, em Bolonha para o encontro com sacerdotes, religiosos e seminaristas do Seminário Regional e diáconos permanentes.
Após o discurso de boas vindas de D. Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha, o Santo Padre respondeu de improviso a duas perguntas.
A íntegra das perguntas e respostas do Papa Francisco é publicada pela Sala de Imprensa do Vaticano, 02-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Respostas do Santo Padre Francisco:
Boa tarde!
Eu agradeço a sua presença, para mim é um consolo estar com os consagrada, os sacerdotes, os diáconos, com aqueles que levam adiante - em parte, existem também os leigos, mas em maior parte - o apostolado da Igreja, e com os religiosos, porque são eles que procuram nos dar o testemunho de antimundanidade. Muito obrigado. Escolhi como método, para ser mais espontâneo, que vocês encaminhem as perguntas e eu respondo. Recebi muitos projetos de perguntas, mas são essas duas que serão respondidas.
Sacerdote:
Santo Padre, eu estou aqui para apresentar uma das perguntas, das tantas que vieram dos sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas. Jesus enviou seus apóstolos dois a dois à frente dele para cada cidade e lugar que ele pretendia visitar (cf. Lc 10,1). Como é possível expressar, como pode crescer essa exigência evangélica da fraternidade em nossas vidas como presbíteros? Obrigado.
Papa Francisco:
O centro da pergunta é a fraternidade na vida dos presbíteros. Essa fraternidade se expressa no presbitério. Mas vamos mais longe. Às vezes, brincando entre os religiosos e os sacerdotes diocesanos, os diocesanos dizem: "Eu sou da ordem fundada por São Pedro" – ou seja, da ordem verdadeira - "vocês, vocês foram fundados por tal santo, tal beato, e assim por diante" . É assim, não é? Mas qual é o centro, qual é precisamente o cerne da espiritualidade da vida do presbítero diocesano? A diocesaneidade. Não podemos julgar a vida de um padre diocesano sem nos perguntar como ele vive a diocesaneidade. E a diocesaneidade é uma experiência de pertencimento: você pertence a um corpo que é a diocese. Isso significa que você não é um "líbero" como no futebol, você não está livre (‘líbero’ em italiano) - no futebol amador existe o líbero. Não, você não é um "líbero". Você é um homem que pertence a um corpo, que é a diocese, à espiritualidade e à diocesaneidade daquele corpo; e assim é também o conselho presbiteral, o corpo presbiterial. Eu acho que nos esquecemos disso muitas vezes, porque sem cultivar esse espírito de diocesaneidade tornamo-nos demasiado "individuais", muitos sozinhos com o perigo de também nos tornarmos infecundos ou com algum ... - vamos dizer isso gentilmente - nervosismo, ficamos um pouco irritados para não dizer neuróticos, quase como ranzinzas ‘solteirões’. É o padre sozinho, o que não tem aquela relação com o corpo presbiteral. "Vae soli!" diziam os Padres do deserto (ver Eclesiastes 4:10 Vulg.), "Ai daqueles que estão sozinhos", porque vão acabar mal. E por isso é importante cultivar, fazer crescer a sensação de diocesaneidade, que também tem uma dimensão de sinodalidade com o bispo. Aquele corpo tem uma força especial e aquele corpo precisa sempre avançar com transparência. O compromisso com a transparência, mas também a virtude da transparência. A transparência cristã como a vive Paulo, ou seja, a coragem de falar, de dizer tudo. Paulo sempre ia em frente com essa coragem, usava a palavra "parrésia", ir em frente. A coragem de falar; e também a coragem da paciência, de suportar, de portar-sobre, sobre os ombros: a hypomenein, a hypomoné. As duas virtudes que Paulo usava para fazer a descrição do homem da Igreja. E essa coragem de falar e a coragem da paciência são necessárias, para viver a diocesaneidade. A coragem de falar. "Mas não, é melhor não falar ...".
Lembro-me de quando eu era um estudante de filosofia, um velho jesuíta, bem astuto, bom, mas um pouco astucioso demais, aconselhou-me: "Se você quiser sobreviver na vida religiosa, pensa de forma clara, sempre; mas fala sempre de forma obscura". É uma forma de hipocrisia clerical, vamos colocar assim. "Não, eu penso assim, mas tem o bispo, ou tem o vigário, ou aquele outro... melhor ficar calado... e depois me acerto com os meus amigos". Isso é falta de liberdade. Se um sacerdote não tem a liberdade da pan-rein, da parrésia, não vive bem a diocesaneidade; não é livre, e para viver a diocesaneidade é preciso liberdade. E, depois, a outra virtude é a de suportar. Suportar o bispo sempre. Todos nós bispos temos as nossas [deficiências], todos; cada um de nós tem seus próprios defeitos. Suportar o bispo. Suportar os irmãos: eu não gosto desse... não gosto do que aquele diz... olhe para isso...olhe para aquilo. É interessante, aquele que não tem a liberdade de falar, a coragem de falar na frente de todos, tem um comportamento 'baixo,' de falar mal às escondidas. Ele não tem paciência de suportar em silêncio, ele não tem paciência de "portar-sobre" em silêncio. E devemos fazer de tudo para ter a virtude de dizer as coisas cara a cara, com cautela, mas dizê-las. É verdade, se eu não concordo com um irmão em uma reunião, eu não digo 'você é um desgraçado’, não, mas 'eu não concordo, porque eu penso assim e assim' sem insultar.
Mas dizer o que penso, livremente. E depois, se tem alguém que me incomoda e sempre volta com as mesmas histórias e talvez estraga uma reunião, a paciência, a paciência para suportar. Nisso nos ajuda muito a pensar em Deus, que por Jesus Cristo, teve paciência, ou seja, suportou tudo por nós.
Diocesaneidade que tem aquela virtude do falar claro que nos torna livres, e também a outra virtude da paciência.
Mas também existe o povo de Deus, que não entra no colégio presbiterial, mas entra na Igreja diocesana. E viver a diocesaneidade é também viver com o povo de Deus O sacerdote precisa se perguntar: como é a minha relação com o povo santo de Deus? E ali reside um defeito bem ruim, um mau defeito que deve ser combatido: o clericalismo. Caros sacerdotes, nós somos pastores, pastores de povo, e não clérigos do Estado. Penso naquele tempo, na França, na época das cortes, com o "Monsieur l'Abbé", clérigo de Estado; mas sem ser um "Monsieur l'Abbé," há tantos clérigos de Estado, que são funcionários do sagrado, mas o relacionamento com as pessoas é - esse é um "papelão" - quase como aquele entre o patrão e o operário: eu sou o clérigo e você é ignorante. Mas, pensem nisso, o nosso clericalismo é muito forte, muito forte; e é preciso uma conversão grande, continua, para sermos pastores. Nós acabamos de ler - eu não sei se também na Liturgia italiana, porque eu continuo com o Breviário argentino – o De pastoribus [de Santo Agostinho] no Ofício das Leituras, e ali se vê claramente que Agostinho nos mostra como é um pastor, mas não um clerical, um pastor do povo, que não significa um populista, não, pastor do povo, que está perto das pessoas, porque foi enviado para lá para fazer crescer o povo, para ensinar o povo, para santificar o povo, e ajudar as pessoas a encontrar Jesus Cristo. Em vez disso, o pastor que é demasiadamente clerical assemelha-se muito com os fariseus, aqueles doutores da lei, aqueles saduceus do tempo de Jesus: só a minha teologia, o meu pensamento, o que deve ser feito, o que não se deve fazer, fechados ali, e o povo está lá; nunca entra em contato com a realidade de um povo.
Hoje gostei muito do almoço, nem tanto porque a lasanha estava muito boa, mas gostei porque estava lá o povo de Deus, até mesmo os mais pobres, ali, e os pastores estavam ali, entre o povo de Deus. O pastor deve ter uma relação - e esta é a sinodalidade - uma tríplice relação com o povo de Deus, estar na frente, para mostrar o caminho, vamos chamar de pastor catequista, o pastor que ensina o caminho; no meio, para conhecer seu povo: proximidade, o pastor está próximo, no meio do povo de Deus; e também atrás, para ajudar aqueles que se atrasam e até mesmo para deixar que às vezes o povo veja - porque sabe "farejar" bem o povo - veja qual o caminho a escolher: as ovelhas têm o faro para saber onde há pastagens boas. Mas não só atrás, não. Deve mover-se nas três [posições]: na frente, no meio e atrás. Um bom pastor deve fazer esse movimento.
Resumo, para não esquecer. A relação da diocesaneidade, a relação entre nós, sacerdotes, a relação com o bispo, com a coragem de falar sobre tudo, a coragem de suportar tudo. A relação com o povo de Deus, sem ao qual se cai no clericalismo, um dos pecados mais fortes - Agostinho, em De pastoribus, descreve tão bem o clericalismo, tão bem - e no povo de Deus nessas três posições: na frente do povo de Deus, como figura, como catequista, para mostrar onde está o caminho; no meio, para conhecer, para compreender como são as pessoas; e atrás, para ajudar aqueles que ficam [no fundo] e também para deixar alguma liberdade e ver como vai o 'faro' do povo de Deus na escolha da boa grama.
Além disso, é triste quando um pastor não tem como horizonte o povo, o povo de Deus; quando não sabe o que fazer. É muito triste quando as igrejas permanecem fechadas - algumas devem permanecer fechadas - ou quando se vê uma placa na porta 'de tal hora a tal hora', então não tem ninguém. Confissões apenas em tal dia, de tal hora a outra. Mas, não é um escritório do sindicato! É o lugar aonde se vai para adorar o Senhor. Mas se um fiel quiser adorar o Senhor e encontra a porta fechada, aonde ele pode ir? Pastores com horizonte nas pessoas: isso significa [questionar-se]: como faço para estar perto de meu povo? Às vezes penso nas igrejas que estão em ruas muito movimentadas, fechadas; e alguns párocos fizeram a experiência de abri-las, e garantir que sempre estivesse disponível um confessor, com a luz acesa sobre o confessionário. E aquele confessor não terminava nunca de confessar. As pessoas veem a porta aberta, entram, veem a luz acesa e vão. Sempre a porta aberta, sempre com aquele serviço para o povo de Deus.
Tudo isso é a diocesaneidade.
Agora, eu gostaria de falar de dois vícios, vícios que estão em toda parte - eu não sei, talvez em Bolonha não existam, graças a Deus, mas em todos os lugares podem ser vistos, não todos, alguns.
Um é pensar no serviço presbiteral como carreira eclesiástica. Na vida dos santos - aqueles antigos – dizia-se: "E naquela idade sentiu o chamado para a carreira eclesiástica". É uma forma de falar de outros tempos. Mas eu não quero dizer isso, eu refiro-me a uma verdadeira atitude de "alpinista". Isso é uma "praga" em um presbitério. Existem duas "pragas" fortes: esta é uma. Os alpinistas, que procuram galgar seu caminho e sempre têm as unhas sujas, porque sempre querem subir. Um alpinista é capaz de criar muitas discórdias no seio de um corpo presbiteral. Pensa na carreira: "Agora eu termino nessa paróquia e vão me dar outra maior”. É interessante o alpinista, quando ele termina em uma e o bispo dá-lhe outra não tão 'alta', mas 'inferior', ele se ofende. Ele se ofende! "Não, agora me cabe aquela outra!" Não te cabe nada, a ti cabe apenas o serviço. Precisamos falar as coisas assim, claramente. Os alpinistas fazem um grande mal para a união comunitária do presbitério, tanto mal, porque estão na comunidade, mas só fazem isso para avançar.
O outro vício frequente é a fofoca. "Mas aquele ...Você viu isso ...Fala-se isso ...Diz-se aquilo...". E a reputação do irmão padre fica manchada, acaba ficando suja, a reputação está arruinada. Destruir a reputação dos outros. A fofoca é um vício, um vício “de clausura”, como costumamos dizer. Quando há um presbitério, onde há muitos homens com a alma fechada, acabam surgindo fofocas, se fala mal dos outros. "Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros, e nem como este publicano" (cf. Lc 18,11), "Graças a Deus que não sou como aquele!". Este é o refrão da fofoca, inclusive da fofoca clerical. O alpinismo e as fofocas são dois vícios próprios do clericalismo.
Como pode expressar-se e crescer essa exigência evangélica de fraternidade na vida dos presbíteros? Vivendo a diocesaneidade, com a coragem de falar claro sempre e suportar os outros; com uma boa relação com o povo de Deus, tanto na frente, para mostrar o caminho, como no meio, nas proximidades das obras de caridade, como atrás, para ver como vai o povo e ajudar aqueles que estão atrasados; e fugindo de toda forma de clericalismo, porque os dois piores vícios que o clericalismo possui são o alpinismo e as fofocas.
Eu não sei se eu respondi a pergunta. Diocesaneidade, este é o carisma próprio de um sacerdote diocesano e diocesaneidade significa isso que acabei de dizer. Obrigado.
Segunda pergunta [de um religioso]:
Santo Padre, uma pergunta para a vida religiosa, mas acredito que não seja apenas para a vida religiosa. O senhor ensina-nos a sermos testemunhas de alegria e esperança como consagrados, que é preciso fugir da psicologia da sobrevivência e colocar-se com Jesus no meio de seu povo, tocando as feridas de Jesus nas feridas do mundo. O senhor nos deu muitos estímulos nestes últimos anos. Mas - diga-nos - quais são os passos mais importantes a realizar para colocar-se definitivamente nessa perspectiva? Obrigado.
Papa Francisco:
Cair na psicologia da sobrevivência é como "esperar o rabecão", o carro fúnebre. Esperamos que chegue o rabecão e leve embora a nossa instituição. É um pessimismo 'polvilhado' de esperança, não é digno de homens e mulheres de fé, isso. Na vida religiosa, "esperar o rabecão" não é uma atitude evangélica: é uma atitude de derrota. E, enquanto esperamos o carro fúnebre, nós arranjamos como podemos e, por segurança, pegamos algum dinheiro para ter segurança. Esta psicologia da sobrevivência leva à falta de pobreza. A procurar a segurança no dinheiro. Às vezes se escuta: "Na nossa instituição já somos idosas - ouvi de algumas irmãs, isso – somos idosas e não existem vocações, mas temos alguns bens, para nos garantir até o fim". E esta é a forma mais certeira de nos levar à morte. A segurança na vida consagrada, não é dada pelas vocações, nem pela abundância de dinheiro; a segurança vem de outra parte. Eu não quero dizer coisas que todo mundo sabe por ofício, mas apenas falo as coisas que se veem.
Algumas congregações que encolhem, encolhem e os bens aumentam. Você vê aqueles religiosos ou religiosas, apegados ao dinheiro como segurança. Este é o cerne da psicologia da sobrevivência, isto é, eu sobrevivo, estou em segurança, porque tenho dinheiro. O problema não está tanto na castidade e na obediência, não. Está na pobreza.
O peixe começa a se estragar pela cabeça e à vida consagrada começa a ser corrompida pela falta de pobreza. E é realmente assim. Santo Inácio chamava a pobreza de "mãe e muro" da vida religiosa; "Mãe" porque gera a vida religiosa, e "muro" porque a defende de toda mundanidade. A psicologia da sobrevivência te leva a viver mundanamente, com esperanças mundanas, não te coloca no caminho da esperança divina, a esperança de Deus. O dinheiro é realmente uma ruína, para a vida consagrada. Mas Deus é tão bom, tão bom, porque quando uma instituição da vida consagrada começa a ganhar mais e mais dinheiro, o Senhor é tão bom que envia um ecônomo ou uma ecônoma tão ruim que acaba com tudo, e isso é uma graça! Quando acabam os bens de uma instituição religiosa, eu digo: "Obrigado, Senhor!" porque eles começarão a trilhar o caminho da pobreza e da verdadeira esperança nos bens que lhes dá o Senhor: a verdadeira esperança de fecundidade que te dá o caminho do Senhor. Por favor, eu lhes digo, sempre, sempre façam um exame de consciência sobre a pobreza: a pobreza pessoal, que não é apenas pedir a autorização do superior, da superiora para fazer alguma coisa, é mais profunda, é uma coisa mais profunda ainda; e também a pobreza da instituição, porque é ali que está a [verdadeira] sobrevivência da vida consagrada, no sentido positivo, isto é, ali está a verdadeira esperança que fará crescer a vida consagrada.
Depois, tem ainda outra coisa. O Senhor nos visita tantas vezes com a escassez de recursos: escassez de recursos, a escassez de vocações escassez de possibilidades... com uma verdadeira pobreza, não apenas a pobreza dos votos, mas também a pobreza real. E a falta de vocações é uma pobreza bem real! Nessas situações é importante falar com o Senhor: por que as coisas são assim? O que está acontecendo na minha instituição? Por que as coisas acabam assim? Por que falta a fecundidade? Por que os jovens não se sentem animado, eles sentem entusiasmos pelo meu carisma, o carisma da minha instituição? Por que a instituição perdeu a capacidade de convocar, de chamar? Fazer um verdadeiro exame de consciência sobre a realidade e dizer toda a verdade.
Isso vale também para os diocesanos, e também para os laicos, mas eu vou falar isso para os religiosos: eu lhes pergunto, me façam um favor, peço-lhes para refletir sobre os três últimos números da Evangelii nuntiandi, o documento pastoral pós-sinodal que ainda é atual, não está ultrapassado, não! Tem a sua força, quando o Beato Paulo VI fala do “retrato do evangelizador" como ele o quer, e ali fazer um exame de consciência: "Eu e minha instituição fazemos isso?". Ou, como afirma Paulo VI, é uma instituição triste, amargurada, que não sabe o que fazer? Meditem sobre esses números que os ajudarão a fazer um exame de consciência sobre essa psicologia da sobrevivência. Mas o ponto crucial do problema sempre deve ser procurado na pobreza: como viver a pobreza.
Depois, na pergunta está: "... e colocar-se com Jesus no meio de seu povo, tocando as feridas de Jesus nas feridas do mundo". Isso é um pouco como o caminho de Filipenses 2.7: o caminho de Jesus é aquele do rebaixamento – “abaixou-se” “anulou-se” - abaixar-se com o povo de Deus, com aqueles que sofrem, com aqueles que não podem te dar nada. Você só terá a força da oração. Lembro-me de uma vez, na diocese, a que eu tinha antes, no hospital as freiras eram bem idosas, austríacas, realmente não tinham vocações e com tanta dor precisaram voltar para sua pátria. E aquele hospital ficou sem freiras. Mas havia lá um sacerdote coreano, que se mexeu e trouxe freiras da Coréia. Ele trouxe quatro, e logo chegaram, todas bem jovens. Elas chegaram numa segunda-feira e na quarta-feira já estavam atendendo nas enfermarias. Quando eu fui no sábado para visitar o hospital, os doentes, todos, diziam: "Mas que maravilha as irmãs, que bem estão fazendo para mim!". Eu pensei: "Mas essas coreanas, de espanhol sabem o mesmo que eu sei de coreano; então, como os doentes podem dizer: que maravilha, as irmãs?". Mas elas, com um sorriso, pegavam as suas mãos, as acariciavam e com isso chegavam ao coração do povo de Deus, o povo sofredor, da chaga, da carne sofredora de Jesus.
Quando existe uma vida assim, não falar um idioma e viver em um país onde se fala tal idioma, é uma pobreza impressionante, é uma grande pobreza. E aquelas irmãs viviam nessa condição, mas com paz e estavam fazendo um grande bem. No rebaixamento, tocando a carne sofredora de Jesus e dos pobres: e esta é uma psicologia que afasta daquela da sobrevivência, é a psicologia da construção do Reino de Deus, porque justamente Mateus 25 nos indica esse caminho para o Reino de Deus. A psicologia da sobrevivência é sempre pessimista. Não abre horizontes, é fechada. E é orientada para o cemitério.
Descer, como Jesus, na sua carne sofredora, para os mais fracos, os doentes, todos aqueles que menciona Mateus 25. Isso tem como horizonte não o cemitério, tem um horizonte fecundo. Isso é semear, e o crescimento da semente é dado pelo Senhor. Por isso eu digo essas duas coisas: a pobreza e a preocupação com a carne dolente de Cristo. Com sinceridade. Sem ideologias. Obrigado.
Estão me avisando que estamos atrasados e precisamos nos despedir. Agradeço pela sua presença. Agradeço pelo testemunho. E aos religiosos gostaria de dizer uma coisa, porque eu tenho falado menos aos religiosos que aos diocesanos: a vida consagrada é um tapa no mundanismo espiritual! Continuem em frente!
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“Cair na psicologia da sobrevivência é como "esperar o rabecão", o carro fúnebre”. Encontro do Papa com padres, religiosos, seminaristas e Diáconos Permanentes, em Bolonha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU