19 Agosto 2017
Como devem reagir as dioceses frente à falta de sacerdotes? Na maioria dos casos, várias paróquias agregam-se em unidades pastorais que são lideradas por padres. Muitas pessoas não estão satisfeitas com essa opção. Agora duas dioceses seguem novos caminhos: em Osnabrück e em Mônaco leigos podem inclusive assumir a direção das paróquias. A diocese de Osnabrück foi a pioneira.
A reportagem é de Michael Hollenbach, publicada por Deutschlandfunk, 16-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos próximos meses, os primeiros encarregados paroquiais não-sacerdotes irão assumir a direção de uniões de comunidades paroquiais. Daniela Engelhard, diretora da comissão pastoral teve um papel fundamental na elaboração da nova abordagem: "Neste novo modelo, que é admitido pelo Código de Direito Canônico, existe um encarregado paroquial no local, que assume a orientação na comunidade paroquial e também é responsável pelo pessoal, porém tem ao seu lado um padre moderador que acompanha a paróquia".
Quem vai desempenhar a função de chefe dentro de uma equipe será um leigo - poderá também ser mulher - com uma preparação teológica, tal como assessor pastoral ou assessor para a comunidade. De acordo com esse esquema, também será o superior do padre. "Mas há atribuições no âmbito sacramental ou litúrgico, que são reservadas exclusivamente aos padres", explica Engelhard.
Os padres moderadores podem ser párocos aposentados ou mesmo capelães de escolas ou hospitais, podem trabalhar na administração da Igreja e não devem morar na paróquia. Esse modelo é possível baseado no direito canônico de 1983, o cânon 517.2.
Thomas Schüller, professor de Direito Canônico na Universidade de Münster explica: "Por trás desse modelo existem experiências concretas realizadas na América Latina. O cardeal encarregado pela compilação do código relatou que na Venezuela religiosas e pessoas encarregadas pelos bispos assumiam as ações da pastoral nos locais onde um padre não conseguia estar presente. O modelo provou sua validade. Assim, ele conseguiu convencer o Papa João Paulo II, apesar de posições contrárias na Cúria, a aceitar esse novo cânone no Código de Direito Canônico".
Enquanto isso, as paróquias do mundo guiadas por um leigo subiram para 3.500-4.000.
A maioria está localizada na América Latina, na África ou na Rússia. Porém, devido à escassez de padres, também as dioceses da Alemanha precisam pensar sobre qual caminho pretendem seguir: "Existem duas respostas para a situação atual: uma é aquela utilizada nas últimas duas décadas, em base à qual apenas é ajustado o número de paróquias pelo número de padres que se acredita possam atuar no futuro".
Isso foi acarretando um aumento em extensão das paróquias; um pároco precisou lidar com um número cada vez maior de fiéis. Por exemplo, a Arquidiocese de Hamburgo reduziu o número de paróquias das 174 de vinte anos atrás, para cerca de 28, chamadas de "unidades pastorais". O pároco chefia essa união das paróquias. Um percurso análogo ao da Diocese de Osnabrück está sendo seguindo pelos católicos de Mônaco. "Em termos concretos, isso significa que aqui no arcebispado estamos refletindo sobre a possibilidade de tentar, em uma fase experimental, inclusive modelos de condução colegiados. Portanto, quando não houver mais um sacerdote responsável, podemos pensar em criar uma equipe para a direção, composta por voluntários e pessoas que trabalhem em tempo integral. Isto para garantir que a Igreja possa se manter presente localmente, e que os problemas estruturais não se tornam cada vez mais um problema para os fiéis".
Robert Lappy é responsável na Diocese de Mônaco pelo desenvolvimento, organização e estratégia. Ele enfatiza o fato de que não se quer mais agregar paróquias, porque dessa forma acaba-se perdendo a proximidade com as pessoas. O que caracteriza o modelo de Mônaco é que há uma renúncia, no que concerne a união das paróquias, a uma única pessoa no comando: "Nesse momento queremos testar se é possível que uma equipe assuma de forma colegiada a responsabilidade pela direção, sem que na própria equipe haja uma única pessoa que tenha a responsabilidade final".
Essas mudanças são, naturalmente, também provocadas pela falta de padres, admite Robert Lappy. No entanto: "O objetivo também é introduzir uma mudança de perspectiva sobre o tipo de imagem de Igreja que temos, sobre o tipo de liderança que temos. Até agora podemos afirmar que a imagem definitivamente é sempre a mesma: a direção fica a cargo dos padres. É uma espécie de automatismo. De fato, está na hora de colocar em discussão esse automatismo".
A partir do próximo outono, em um período de três anos, serão reunidas as experiências sobre o novo modelo. Nem todos os padres ficaram entusiasmados com essa nova abordagem: "Temos reações que vão da aprovação até o ceticismo, a reserva ou mesmo a rejeição. Apareceram as respostas mais variadas. Podemos mesmo dizer que estamos colocando em discussão a imagem comum do padre" continua Lappy.
Como em Mônaco, também em Osnabrück é considerado bastante importante não reduzir ainda mais o número de 70 paróquias que foram fundidas, sublinha a diretora da comissão da pastoral Daniela Engelhard: "Para nós, é importante ficar perto das pessoas, e isso, em nossa opinião, só pode ocorrer em espaços limitados. Queremos que a pastoral, mesmo no futuro, esteja perto das pessoas, e que inclusive aqueles que estão envolvidos na pastoral possam estar localmente em contato com as pessoas. Em unidades extensas, corre-se o risco de que a ação pastoral se dissolva no anonimato".
Desde a década de 1990 já vem ocorrendo, em algumas dioceses alemãs, tentativas de delegar a direção aos leigos, pelo menos ao nível da comunidade. O estudioso de direito canônico Thomas Schüller analisou cientificamente as experiências na diocese de Limburg e entrevistou os membros da comunidade: "Há uma frase que muito me surpreendeu e não esqueço: ‘É bom, quando eu preciso de um apoio pastoral, saber que há alguém na paróquia’".
No geral, a prática da direção da comunidade por leigos encontrou uma boa aceitação. Mesmo assim, esse processo nas últimas duas décadas, muitas vezes foi preterido. Quase todas as dioceses escolheram o caminho da fusão de paróquias. Em Osnabrück, no entanto, está sendo dado um passo adiante em relação ao que era feito na década de 1990. Não apenas as comunidades individuais, mas inteiras unidades pastorais de até 8.000 fiéis e muitos colaboradores, no futuro serão orientadas por leigos.
"Este é um novo marco, que também acarreta uma mudança de papéis e que exige uma adaptação por parte das comunidades", explica Daniela Engelhard.
O estudioso de direito canônico de Münster, Thomas Schüller, espera que o modelo de Osnabrück seja imitado por outras dioceses. Porque com a crescente extensão das paróquias já se alcançou há tempo o limiar de dor: "Os bispos assinalaram claramente em seu documento "Ser Igreja juntos" que os tempos em que a referência restringia-se apenas ao clero já ficaram no passado. Todos os fiéis são responsáveis pela continuação da vida da Igreja. É uma verdadeira mudança de paradigma".
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Faltam sacerdotes, poder aos leigos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU