27 Mai 2017
A ordenação de homens casados "precisa ser explorada abertamente dentro da Igreja na Inglaterra e no País de Gales a nível nacional e diocesano", disse o bispo aposentado de Portsmouth, na Inglaterra.
A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por National Catholic Reporter, 25-05-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Falando ao NCR, o Bispo Crispian Hollis disse que estava "cada vez mais consciente" da pressão enfrentada pelos padres devido à falta de sacerdotes. Ele acredita que a questão da ordenação de homens casados não deve ser relegada a "conversas dentro de paróquias e entre os fiéis leigos".
Enquanto ele fazia esses comentários, novos dados eram divulgados pelo Gabinete Nacional para as Vocações da Inglaterra e do País de Gales, mostrando uma queda no número de homens em formação para o sacerdócio diocesano. O diretor do Gabinete, o padre beneditino Christopher Jamison, disse que a queda era "decepcionante".
O Movimento pelo Clero Casado, uma organização de leigos fundada em 1975 em prol do sacerdócio casado, recentemente convocou uma Assembleia Nacional para discutir o celibato e a possível ordenação dos chamados "viri probati", homens casados de fé comprovada. Em apoio ao chamado, Hollis disse que, em certo sentido, não seria um novo ponto de partida para a Igreja na Grã-Bretanha, porque "já há alguns anglicanos mais antigos que são casados e foram ordenados padres católicos".
Mas Hollis enfatizou que a comissão não deve ser vista como uma abertura no sentido do celibato opcional para os padres católicos.
"Não estou defendendo o celibato opcional. Quero que possamos ordenar os homens casados certos, é diferente", afirmou.
De acordo com Hollis, se a Igreja da Inglaterra e de Gales optar pelo caminho da ordenação de homens casados, uma comissão poderia verificar a necessidade e estabelecer a melhor maneira de fazê-lo.
"Não podemos entrar na questão de maneira cega", ele disse. "É preciso haver uma discussão responsável dentro da Igreja de base tão ampla quanto possível."
Há uma onda a favor da ordenação de padres casados entre os leigos e sacerdotes diocesanos, disse Hollis, de 80 anos, que se aposentou em Portsmouth em 2012. Mas ele reconhece que há "muita resistência à ideia" entre os bispos da Inglaterra e do País de Gales. "Como estou aposentado, não participo das reuniões da Conferência Episcopal, mas não acho que esta questão seja foco nas discussões", declarou.
Um bispo que comparece às reuniões episcopais é John Arnold de Salford. Em conversa ao NCR, ele disse que mesmo que haja vários padres em idade de se aposentar que ainda estão no Ministério e outros quase se aposentando na sua diocese, "não acho que justifica falarmos que faltam sacerdotes".
Ele disse que está "cautelosamente otimista sobre as vocações ao sacerdócio", ressaltando que as dioceses devem garantir que os padres façam "o que foram ordenados para fazer" e encorajem a comunidade paroquial a assumir tarefas administrativas e ministeriais, que eles "pouco faziam depois do Vaticano II".
Em última análise, Hollis sabe que a decisão de ordenar homens casados ou não cabe ao Papa Francisco ou seus sucessores, já que nenhuma conferência nacional dos Bispos pode decidir sobre isso sem a bênção de Roma. Hollis observou que Francisco indicou uma abertura para a possibilidade de ordenar homens casados, mas ele acredita que o Papa está "esperando para ver um caso convincente".
Um artigo de abril publicado no jornal Catholic Times do Reino Unido fez referência à entrevista de Francisco ao jornal alemão Die Zeit, em que o Papa salientou que excluir a regra do celibato não era a resposta à falta de padres da Igreja Católica. Mas ele afirmou estar aberto para estudar se os viri probati poderiam ser ordenados.
Referindo-se a uma carta ao Catholic Times escrita por Chris McDonnell, Secretário do Movimento pelo Clero Casado, pedindo que fosse criada uma comissão de padres casados, o editorial questionou: "O que a Igreja teria a perder com a criação dessa comissão? Ou talvez o foco principal seja o que a Igreja tem a ganhar com essa mudança."
Hollis sugere que talvez seja possível recrutar homens casados do grupo de diáconos casados. A preocupação com o custo dos padres casados, para ele, é "um argumento falso", pois muitos viri probati seriam aposentados de algum emprego secular e, portanto, poderiam atuar como padres "não assalariados", tendo seu próprio sustento.
McDonnell é professor aposentado, pai e avô. Ele disse ao NCR que dar início a um clero não assalariado é perfeitamente viável. "O padre da minha igreja na Inglaterra é professor de Direito na Universidade de Keele e também atua na paróquia", disse ele.
O modelo atual do sacerdócio católico, em que o sacerdote faz tudo, é insustentável, disse McDonnell. Um clero não assalariado só seria possível, destacou, se o padre for visto "como um centro eucarístico da paróquia", responsável pelos aspectos da vida paroquial específicos da atuação do sacerdote. Os leigos devem desempenhar outras funções.
Portanto, de acordo com Hollis, o custo não é a pedra no sapato dos viri probati. Pelo contrário, é a falta de vontade dos membros mais velhos da Igreja de levarem a questão a sério.
"Somos constantemente convidados a rezar pelas vocações e a resposta é mínima", disse ele. "Talvez o Espírito Santo esteja nos dizendo que há muitas vocações sacerdotais por aí, mas que são homens casados — os viri probati —, abram os olhos!"
De acordo com Liamy McNally, de 59 anos, ordenado para a Arquidiocese de Tuam na Irlanda em 1985, "não faltam padres!". Dois anos após sua ordenação, ele atuou no ministério de Inis Meáin, uma pequena ilha na costa oeste da Irlanda. Depois ele se apaixonou e deixou o ministério público para trás, mas não foi laicizado. Agora ele atua como secretário executivo da Associação de Padres Católicos da Irlanda.
"Temos muitos sacerdotes, mas eles são casados e por isso não podem exercer o ministério público", disse ele.
McNally mora a 4,8 km da cidade pitoresca de Westport, em County Mayo, que tem cerca de 5.500 habitantes. Nesta pequena área, ele conhece seis padres casados, dos quais apenas um exerce o ministério - um ex-missionário columbano que se casou com uma freira. (Ambos tornaram-se anglicanos.)
Ele disse ao NCR que se o celibato fosse opcional ele e muitos outros padres ainda estariam no ministério.
"Eu não saí, eu nunca fui laicizado, ainda sou padre - mas sou casado. Nas igrejas ocidentais onde as vocações diminuíram, não paramos de orar por elas", disse ele. "Deus não está nos escutando? Talvez seja a igreja episcopal que não está escutando o trabalho do Espírito Santo através do povo de Deus."
Para McNally, o assunto vai além dos viri probati, porque nos primórdios da Igreja os que tinham vocação ao sacerdócio eram casados, enquanto hoje os que se sentem chamados ao sacerdócio também precisam ter a vocação para o celibato.
"Eles precisam de duas vocações — não se pode ser padre sem aceitar a regra do celibato, mesmo que não se tenha essa vocação", disse. Um protestante que se torna ministro e depois é chamado ao sacerdócio católico não precisa ter uma vocação ao celibato, acrescentou.
"Temos que analisar isso", disse McNally. "Como podemos permitir que certas pessoas sejam padres estando casados, mas eu não posso expressar meu sacerdócio casado?" Ele também destacou que não é contra o celibato.
McDonnell explicou ao NCR que o Movimento pelo Clero Casado, que tem 200 membros pagantes mas um número muito maior de apoiadores, que muitos têm medo de expressar publicamente, escreveu aos bispos da Inglaterra e do País de Gales em várias ocasiões, sem grandes efeitos.
"Tenho uma forte desconfiança de que há uma moratória sobre todos os bispos que estão trabalhando juntos nesta questão", disse ele.
McDonnell salienta que os membros "são fiéis à Igreja Católica". Pedindo conversas corajosas, ele está frustrado por não haver formas de dialogar com seus bispos.
"Nós não somos um grupo de dissidentes; não somos contrários à Igreja", afirmou. "A única coisa que pedimos neste momento é discutir. É por isso que estamos enfatizando a necessidade de haver uma Comissão Nacional. Temos uma pequena oportunidade nos próximos 5 a 10 anos, quando poderemos avaliar o problema enquanto grupo de bispos, sacerdotes e leigos, com o objetivo de enxergar quais são os problemas. Mas se não estamos nem dispostos a conversar uns com os outros sobre as questões, estamos indo para um caminho sem saída. Isso nos preocupa.
Não se pode negar que estamos sentindo a falta de sacerdotes na Inglaterra e no País de Gales. A diocese de Wrexham, no norte do País de Gales, deve fechar um terço de suas paróquias. Em outros lugares, algumas dioceses estão resolvendo o problema se fundindo.
"Para mim, parece uma maneira muito injusta de fazer as coisas. Um homem de 60 anos coordena a paróquia - em um trabalho normal ele estaria quase se aposentando - e, de repente, ele tem que assumir não uma, mas duas, e até três paróquias, em alguns casos", disse McDonnell. "Estamos tentando esconder o problema através de uma entidade física chamada paróquia, mas que na verdade contém três."
Ele espera que, caso a comissão seja aprovada, ela analise não apenas o celibato, mas também a questão do que constitui uma paróquia.
E sente que as pessoas estão prontas para aceitar um clero casado, já que vários anglicanos vão a Roma e levam suas esposas e filhos junto.
As pessoas, segundo ele, veem a ironia de uma situação como a que ocorreu na paróquia de St. Thomas More, em Coventry. Ela perdeu seu padre, Philip Gay, que atuou durante 25 anos e saiu para se casar e foi substituído pelo ex-padre anglicano Stephen Day, que é casado e tem três filhos.
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Padres casados: grupos chamam Igreja do Reino Unido para conversa nacional corajosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU