Papa Francisco sinaliza abertura à ordenação de homens casados

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09 Março 2017

Em entrevista ao jornal alemão Die Zeit, o Papa Francisco aborda a questão dos padres casados, dizendo que simplesmente tornar opcional o celibato “não é uma solução”, e sinaliza uma abertura à ideia de ordenar os “viri probati”, expressão latina que designa homens de confiança casados, de comprovada fé e virtude.

A informação é publicada por Crux, 08-03-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

O Papa Francisco manifestou abertura a uma consideração renovada de padres casados na Igreja Católica, especialmente a possibilidade de ordenar os chamados “viri probati”, isto é, homens casados testados, de confiança e comprovada fé e virtude que poderiam ser chamados ao serviço clerical.

“Precisamos também estabelecer que tarefas eles poderiam assumir, por exemplo, em comunidades isoladas”, disse o pontífice.
Ainda que a pergunta posta a Francisco fazia referência especificamente a ordenar os “viri probati” como diáconos, muitos teólogos e alguns bispos vêm sugerindo que eles poderiam ser considerados também para o serviço sacerdotal.

Estes e outros comentários do papa foram publicados numa entrevista ao jornal alemão Die Zeit, de cujos excertos foram publicados na quarta-feira desta semana, com a versão completa a sair na quinta-feira, 09-03-2017.

Ao mesmo tempo, Francisco pareceu descartar a possibilidade de tornar opcional o celibato sacerdotal, dizendo que essa abordagem “não é uma solução”.

Considerando a diminuição no número de vocações ao sacerdócio como um “enorme problema”, Francisco disse que a primeira resposta deve ser rezar, acompanhado de um foco mais intenso no “trabalho com os jovens que buscam orientação”.

Uma falta de padres, disse Francisco, enfraquece a Igreja “porque uma Igreja sem Eucaristia não tem força – a Igreja faz a Eucaristia, mas a Eucaristia também faz a Igreja”.

Francisco propôs que a Igreja enfrente essa questão “sem medo”.

“O medo fecha as portas, a liberdade as abre, e quando [o espaço para a] liberdade é pequeno, ela abre uma janela”, disse.

Atualmente, espera-se que a maior parte dos sacerdotes católicos permaneçam celibatários, embora o catolicismo inclua 23 igrejas orientais em plena comunhão com Roma cujo clero tem permissão para se casar. Nos Estados Unidos, existem umas poucas centenas de ex-ministros protestantes que entraram para a Igreja Católica como homens casados e com a permissão para se manterem assim após terem sido ordenados como padres católicos.

Em abril de 2014, um bispo brasileiro disse que ele e o Papa Francisco haviam discutido em conversa privada a ideia de ordenação dos “viri probati” e que o pontífice pareceu aberto à ideia, sugerindo que cabia às conferências episcopais apresentarem propostas nesse sentido.

Em novembro passado, Francisco cruzou a cidade de Roma para se encontrar com uma comunidade de sete famílias, todas chefiadas por homens que deixaram o sacerdócio para se casar. Houve a especulação de que Francisco escolhesse dedicar o próximo Sínodo dos Bispos em 2018 ao tópico dos padres casados, porém o foco desse encontro recairá sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional.

Em outra parte da entrevista, Francisco, como já fez em outras ocasiões, chamou a atenção para a ascensão do populismo político nos países ocidentais na atualidade.

“O populismo é mal e termina mal, como mostrou o século passado”, declarou ele, sustentando que populismo significa “utilizar as pessoas” oferecendo-lhes um messias.

Francisco também rejeitou a sugestão de que ele seria um alguém extraordinário, dizendo: “Sou pecador e não sou infalível”.

Como já fizera várias vezes no passado, o pontífice deu a entender que a celebração exagerada de um papa é, na verdade, perigosa.

“Não devemos esquecer que a idealização de uma pessoa é também uma espécie de agressão subliminar”, disse. “Quando sou idealizado, me sinto agredido”.

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