11 Outubro 2017
Uma lacuna crescente entre adultos e adolescentes. De um lado, pais e professores ignoram os imensos mistérios da rede; de outro, os adolescentes a usam constantemente, mas não falam com ninguém sobre aquilo que vivem e experimentam lá dentro. Porque se envergonham ou temem não ser entendidos.
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada pelo Servizio Informazione Religiosa (SIR), 10-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O verdadeiro problema é que o mundo dos adultos não está suficientemente consciente de quanto tempo os adolescentes passam navegando no mundo digital, do que fazem assim que cruzam o limiar do mundo digital e, especialmente, quais conteúdos, imagens, propostas encontram.
Uma lacuna de conhecimentos, experiências e utilização dos meios que está se desenvolvendo no momento errado, porque, nunca como agora, os adolescentes precisam da ajuda e do apoio dos adultos.
A baronesa Joanna Schields dedicou a sua vida para explorar esse mundo e para cuidar dele tanto como ministra do governo britânico para a segurança na internet, quanto fundando em 2014 a WePROTECT, que, ao longo do tempo, tornou-se uma das maiores plataformas de ação para combater todas as formas de abuso e exploração online.
Ela foi copromotora, junto com o Centro de Proteção da Criança da Pontifícia Universidade Gregoriana, do primeiro congresso global sobre “A proteção dos menores no mundo digital”, que, de 3 a 6 de outubro, reuniu em Roma os maiores especialistas do setor, médicos, psicólogos, estudiosos das novas tecnologias, mas também representantes do governo e das religiões.
O que mais preocupa vocês?
O mais importante que surgiu a partir desse congresso é o impacto que o mundo digital tem sobre a vida e o crescimento das crianças. Tomemos a pornografia e a pornografia extrema. Vimos como a exposição a imagens extremas na internet tem um sério impacto sobre a ideia que os jovens estão construindo sobre a sexualidade. Alguns especialistas nos mostraram como o cérebro dos adolescentes ainda não está totalmente desenvolvido, está evoluindo em direção ao pensamento complexo, ainda estão na fase de crescimento, talvez a mais importante e decisiva para o futuro deles. Expô-los a imagens de violência extrema, à pornografia, assim como a ideias radicais, embora as reações possam ser diferentes, significa, contudo, estimulá-los a realidade que terão um impacto definitivo, tanto do ponto de vista emocional quanto fisiológico.
O mundo dos adultos está ciente disso?
Toda nova inovação traz consigo novidades, evoluções e consequências sobre a vida das pessoas que só com o tempo serão estudadas e analisadas. É certo que as crianças apresentam hoje uma capacidade de interagir com os novos meios tecnológicos que é muito mais desenvolvida tanto em relação aos seus pais, quanto aos seus professores. E essa lacuna entre o mundo dos adultos e o mundo dos nossos filhos está evoluindo precisamente no momento menos oportuno. Porque é justamente agora que as nossas crianças precisam do nosso apoio, e a maioria de nós não têm nem o conhecimento, nem a preparação, nem os meios necessários para apoiá-los. Nós sequer temos ideia a que os adolescentes podem ser expostas assim que cruzam o limiar da web, e, por causa dessa ignorância, eles têm medo de conversar a respeito com os seus pais. Eles têm medo de conversar também com os professores, porque se envergonham, talvez não querem ser julgados, sabem que o que eles viram ou fizeram é errado e, por isso, não confiam em ninguém.
Soluções?
Eu faço parte do governo britânico como ministra da segurança na internet. As pessoas geralmente nos perguntam: o que vocês pretendem fazer? As novas tecnologias da informática abrem a um mundo que não conhece fronteiras entre os países. Isso faz com que nenhum governo possa pensar em legislar e, portanto, controlar o que acontece no ciberespaço. Por isso, precisamos de uma abordagem coordenada para uma ação global de proteção dos menores na web, que envolva governos, empresas, organizações não governamentais, sociedade civil. E é exatamente isso que este congresso tentou fazer, reunir todos os sujeitos envolvidos, trazer à tona os desafios, buscar soluções.
Você também participou do congresso como representante do governo britânico. Que impressão teve ao colaborar e participar de uma iniciativa que foi promovida e organizada pela Igreja Católica?
Eu acho que é algo maravilhoso. A Igreja está tentando dizer: “Nós também temos um papel a desempenhar e queremos fazer parte desse projeto, queremos fazer parte da solução”.
A Igreja, como você sabe muito bem, infelizmente, conheceu em seu interior fatos muito graves de abusos sexuais.
Sim, é claro. Mas eu acho que o fato de estar envolvida nessa frente, o fato de se sentir tão fortemente envolvida faz parte do seu processo de cura. É importante que hoje a Igreja sinta e viva esse trabalho de proteção e de segurança dos menores como um compromisso e uma responsabilidade para o futuro. É sinal de uma Igreja não curvada sobre o seu passado, mas aberta para construir um futuro novo.
E o que você acha do papel do Papa Francisco?
O papa está muito comprometido com o mundo digital. Ele também faz um uso inteligente dele, por exemplo, utilizando o Twitter para difundir a sua mensagem, mas também está ciente daquilo que as crianças precisam no mundo digital. Ele falou muitas vezes das novas tecnologias, enfatizando sempre as suas potencialidades e pedindo que sejam cada vez mais inclusivas, para que todos possam ter acesso às oportunidades que oferecem. Mas, se, por um lado, as novas tecnologias abrem possibilidades extraordinárias, por outro, devem garantir proteção para todos. E é por isso que estamos aqui. Reunir esses dois aspectos, promoção das novas tecnologias e proteção dos jovens, para que, no centro da revolução digital, estejam o bem-estar e a segurança.
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Abuso de menores: por que nossos filhos têm medo de falar sobre a internet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU