14 Novembro 2024
O Caminho Sinodal da Igreja Italiana “nestes três anos evidenciou vários aspectos críticos, mas eu gostaria de destacar o aspecto positivo”, que é aquele “da participação e do desejo de ainda ser parte ativa”.
A reportagem é de Enrico Lenzi, publicada por Avvenire, 13-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Essa é a convicção de Simone Morandini, teólogo e vice-presidente do Instituto de Estudos Ecumênicos “San Bernardino”, de Veneza, um dos especialistas convidados pela Conferência Episcopal Italiana para o Comitê do Caminho Sinodal, enquanto aguarda o encontro que, de 15 a 17 de novembro, verá a Igreja italiana envolvida em sua Primeira Assembleia Sinodal, encarregada de sintetizar o Caminho até agora realizado e preparar um instrumento de reflexão em vista do encontro final em 2025. Com Morandini, abordamos a primeira das três áreas (Comunicação e práxis pastorais) identificadas nos Lineamenti (Orientações) em vista da Assembleia Sinodal.
Em suma, Professor, não devemos nos desanimar com os aspectos críticos que surgiram?
Repito. O Caminho, tanto em sua fase narrativa como sapiencial, ofereceu uma riqueza de instâncias, permitindo a todos ter uma visão de conjunto. Agora, a partir dessas observações, somos chamados a construir caminhos significativos. E o fato de questões críticas terem surgido é o melhor sinal de que não estamos fazendo um Caminho “ritual”, mas há uma disposição em nossas comunidades para se envolverem novamente, para serem protagonistas. E essas me parecem ser dinâmicas positivas. E, além disso, na fase sapiencial, surgiram muitas boas práticas que deveriam encontrar uma voz na agora iminente Primeira Assembleia Sinodal. Uma bagagem muito útil para as escolhas, mesmo as ousadas, como está escrito nas Orientações, que somos chamados a fazer como comunidade católica na Itália.
Entre os pontos críticos destacados está a sensação de que o “discurso cristão” parece ter se tornado “insignificante na vida das pessoas”. Um cenário preocupante. Mas será que também é um processo irreversível?
Acredito que essa sensação seja compartilhada por todas as Igrejas da Itália, mesmo que em níveis diferentes. Uma insignificância que, no entanto, tem formulações diferentes entre as realidades eclesiais do Norte e as do Sul. Uma sensação acentuada em uma dinâmica ligada à secularização da sociedade como um todo. Mas, mesmo nesse caso, somos chamados a olhar para as oportunidades e os desafios que se apresentam, tentando responder à pergunta de como nos situar nessa mudança que parece esquecer ou marginalizar o cristianismo. Precisamos encontrar - e ser - aqueles “brotos do Reino”, capazes de fazer nascer e germinar novas modalidades de testemunho na sociedade atual. Não é uma tarefa fácil, certamente, já que a própria sociedade está passando por crises profundas, entendidas como questionamentos a serem respondidas. Em comparação com o passado, vivemos em uma sociedade multiétnica e multicultural, e também com um pluralismo religioso. Eu diria que o convite feito pelo Concílio Vaticano II, para que sejamos capazes de “ler os sinais dos tempos”, depois de mais de meio século, continua mais atual do que nunca em uma sociedade que é ainda mais complexa do que aquela em que se vivia na época do Vaticano II.
Nas Orientações elaborados para a Primeira Assembleia Sinodal, é expresso o risco de “uma lacuna entre a cultura e a profecia”. Pode nos ajudar a entender melhor esse risco?
São basicamente dois. O primeiro é representado por aqueles que expressam seu testemunho com força e radicalidade, vinculando-o a reflexões teológicas. O segundo é representado por aqueles que elaboram pesquisas teóricas, que depois precisam se conectar com a realidade vivida. Ambos carecem de uma colaboração entre si. Devo dizer que, historicamente, em nosso contexto de Igreja italiana, há um vínculo bastante sólido entre a ação pastoral e a teologia. Obviamente, nesse contexto histórico, é um vínculo que precisa ser fortalecido.
Um exemplo concreto?
Estou pensando no papel das mulheres nas nossas comunidades. Um tema muito debatido em nossas realidades e que também recebeu atenção no recente Sínodo dos Bispos. E o debate não se esgotou aí, pois é um tema confiado a uma das dez Comissões que dão continuidade ao trabalho de reflexão do próprio Sínodo. Outros exemplos são o trabalho que estamos fazendo no Instituto San Bernardino com a rede teológica do Mediterrâneo e o de uma “teologia pública ecumênica”. O objetivo continua sendo vincular uma reflexão teológica sobre o tema com os questionamentos concretos que surgem desses temas.
No âmbito da linguagem e comunicação, houve também uma reflexão sobre a liturgia. O quadro que emerge é desanimador: as nossas liturgias parecem pouco significativas, pouco atraentes e até pouco compreensíveis em seus gestos. Mas o que faltou nas comunidades para que esse cenário não se concretizasse?
Mais uma vez, convido a não generalizar. Certamente, o desconforto em viver plenamente as nossas liturgias existe e é difundido. Mas, ao lado de situações em que é difícil compreender os valores e o significado das nossas liturgias, há também muitas experiências positivas, nas quais se cuida muito a pregação, vinculando-a significativamente às leituras proclamadas na missa. Experiências em que os símbolos e os gestos feitos durante a missa são valorizados, de modo que aqueles que participam os compreendem plenamente e se tornam um sujeito ativo da liturgia, e não um espectador. Não se deve esquecer, é claro, que a liturgia tem sua própria dimensão de inatualidade, entendida como presença do Mistério que é celebrado. Mas o que é preocupante é quando surge uma “incompreensibilidade” do rito. Há uma Tradição - aquela com T maiúsculo – que é vivida por meio da liturgia, mas não produz nada se não formos capazes de torná-la acessível e compreensível para aqueles que participam dela. Existem boas práticas e podem ser pistas a serem seguidas.
Outro ponto sensível é a escassa presença de jovens em nossas comunidades, embora tenha havido alguns sinais positivos durante o Caminho Sinodal com sua participação ativa. O que torna tão difícil para as nossas comunidades serem atraentes para os jovens?
Os jovens existem e, se você lhes oferecer espaços significativos de participação, eles estarão presentes. Basta pensar no voluntariado, mas também em experiências significativas de oração ou de Escola da Palavra. Há muitas experiências com jovens nesse sentido presentes em toda a Península. Mas esses âmbitos nem sempre fazem parte do tecido social das nossas comunidades. Talvez precisemos valorizar essas boas práticas que permitem que as gerações mais jovens expressem e vivam sua subjetividade de fé.
Qual é a importância da linguagem e da comunicação no diálogo ecumênico?
São fundamentais. Tanto para o diálogo ecumênico quanto para o inter-religioso. É importante tornar nossos valores e conceitos compreensíveis para outras pessoas que vivem em outros contextos culturais e religiosos. Não se trata de modificar o que a Igreja chama de “o depósito da fé”, mas de ativar formas de expressão capazes de fazer com que o interlocutor compreenda nossos princípios em uma linguagem ligada ao hoje. Em suma, o desafio é “como falar de Jesus Cristo hoje”, como dar testemunho dele, como explicar nossa fé na sociedade de hoje.
Uma tarefa que se torna ainda mais complexa por causa de uma sociedade que relega o aspecto religioso à vida privada. Uma posição às vezes pouco compreendida por quem professa outras religiões.
Uma boa orientação de trabalho nos foi indicada pelo Papa Francisco com a encíclica Laudato si', uma ferramenta preciosa para o debate sobre nossa casa comum, sobre temas que dizem respeito a toda a família humana. Partindo da Tradição, podemos oferecer a nossa contribuição a toda a família humana. As nossas Igrejas e as outras religiões são chamadas a esse desafio.
As Orientações destacam que alguém pode ser um “estrangeiro” até mesmo dentro da comunidade da Igreja, marginalizado “por causa de sua orientação sexual ou de situações afetivas e familiares feridas”. Outro desafio para a Igreja?
Não podemos esconder o fato de que em nossas comunidades há pessoas que vivem a sensação de serem marginalizadas ou de se sentirem tratadas como um fator de incômodo. O desafio para todos nós é, em vez disso, valorizar as diferenças que existem dentro da Igreja. Espero que o debate sobre esse tema continue.
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Caminho sinodal, nas críticas transparece o desejo de participar. Entrevista com Simone Morandini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU