09 Dezembro 2023
A COP28 em Dubai entra em sua semana decisiva: os obstáculos para se chegar a um documento final aceitável continuam crescendo. Muitos governos destinaram fundos para o pacote para pagar às nações frágeis pelos danos dos eventos meteorológicos: um marco histórico. Esse dinheiro, no entanto, não devia ser “deslocado” de outras destinações.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada em Avvenire, 08-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O gargalo da Conferência da ONU sobre o Clima (COP28) se chama “adaptação”. Tendo chegado ao ponto de viragem – começa nessa sexta-feira a maratona final – as negociações estão presas nesse termo que indica as medidas para conter os impactos mais graves do aquecimento global, a um custo de 215 bilhões de dólares por ano, segundo o Programa das Nações Unidas para o Clima (Pnuma). Números impensáveis para as nações do Sul do mundo que – como preveem os acordos de Paris – devem ser apoiadas pelos “poluidores históricos”, ou seja, pelos países de velha industrialização.
Em Dubai, porém, a maioria não se mexe. Dos 300 milhões de dólares previstos para o Fundo de Adaptação, até agora só chegaram 160 milhões. “Culpa” do novo pacote financeiro para ajudar as nações mais vulneráveis a pagar pelos danos dos por eventos meteorológicos extremos.
Sua entrada em funcionamento, na abertura da cúpula, foi considerada uma vitória histórica para o “Sul global” depois de 32 anos de espera.
“E é. É um marco na história da COP. A questão é que muitos governos não destinaram um dinheiro adicional para financiar a iniciativa. Eles simplesmente os transferiram da rubrica ‘adaptação’ para a das ‘perdas e danos’”, explica Linda Kalcher, fundadora do think tank Strategic Perspectives e especialista em negociações climáticas.
O novo fundo obteve 650 milhões de dólares, incluindo as megadoações da Itália e da França – ambas de 108 milhões – e dos Emirados Árabes Unidos e da Alemanha, 100 milhões cada, enquanto os Estados Unidos e o Japão se limitaram a 17,5 milhões e 10 milhões. A soma, em todo o caso, equivale a 0,2% das perdas irreversíveis causadas pelo clima às nações em desenvolvimento. Para repará-las, são necessários bilhões: entre 100 e 580, dependendo dos cálculos.
A desproporção entre teoria e prática é evidente. Especialmente aos olhos já desconfiados dos negociadores da África, da Ásia e da América Latina.
“Eles têm a impressão de que o Norte global não está cumprindo seus compromissos. Há dois anos, em Glasgow, foi decidido duplicar os fundos para a adaptação, para chegar aos 40 bilhões por ano a partir de 2025. No projeto final do documento, no entanto, para além das declarações de princípio, não estão previstos passos concretos para alcançar o objetivo.
A parte sobre a adaptação é extremamente vaga. Deve ser corrigida. É uma questão de equidade. E de bom senso político: a alavancagem financeira é crucial para convencer muitos estados do Sul a aderirem à coalizão de 120 nações que apoia a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, sublinha a estudiosa.
Falta pouco tempo para corrigir a situação: nessa sexta-feira, o texto seria entregue aos ministros delegados, de retorno a Dubai para o encerramento da cúpula. Começará, depois, uma discussão frenética, que, entre reuniões noturnas, rodadas improvisadas nos corredores e portas batidas, deverá terminar na terça-feira.
“No entanto, será difícil: muito provavelmente, iremos para a prorrogação.” Até porque há a questão muito espinhosa de dar adeus aos hidrocarbonetos.
Duas das três versões do artigo-chave do texto provisório divulgado na terça-feira passada falam em “eliminação justa e ordenada” ou de “progressos rumo” à parada. A terceira ignora a questão. “E é a única que aceitaremos”, trovejou o ministro saudita da Energia, Abdulaziz bin Salman. Na mesma linha, China, Rússia e Iraque. Enquanto os Estados Unidos, em palavras, se inclinam para o adeus, na realidade alcançaram, o número recorde de extrações. A União Europeia lidera o front dos ambiciosos. O comissário para o Clima, Wopke Hoekstra, disse que a COP28 marcará o fim da era dos combustíveis fósseis.
Os Estados insulares e a América Latina estão na mesma linha, apesar do retrocesso do Brasil, que anunciou sua entrada na OPEP justamente em Dubai. Se isso realmente vai acontecer depende em grande parte do chamado “grupo dos 77”, que na realidade inclui mais de 120 países, muitos deles africanos.
“O alinhamento está dividido. O Quênia, porém, está tecendo uma coalização para a parada”, conclui. “A primeira menção aos combustíveis fósseis remonta há apenas dois anos. Houve, portanto, avanços. E desta vez temos a oportunidade de dar o salto, encerrando o capítulo dos hidrocarbonetos. Não podemos perdê-la.”
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COP28 fica presa na “adaptação” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU