19 Outubro 2023
Há quem no Vaticano acuse regularmente os jornalistas de se fixarem apenas em determinadas questões e, assim, exercer pressão contra a Assembleia Sinodal.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 18-10-2023.
Existe um “sínodo midiático” paralelo à assembleia do Sínodo dos Bispos que está sendo realizada no Vaticano, onde 365 membros votantes se reuniram para discutir a sinodalidade e o futuro da Igreja?
Na verdade, é uma questão clássica quando grandes reuniões deste tipo acontecem no centro burocrático do catolicismo. E tem sido assim há mais de meio século. Bento XVI, antes de deixar o cargo de papa em 2013, disse aos padres de Roma que estava convencido de que isto aconteceu no Concílio Vaticano II (1962-1965). “Houve o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas houve também o Concílio dos meios de comunicação social. Assim, o Concílio que chegou ao povo com efeito imediato foi o dos meios de comunicação, não o dos Padres”, disse o falecido papa.
Como esperado, esta mesma acusação começou a surgir entre alguns dos organizadores da atual assembleia sinodal já no início do outono. “Sabemos que há temas que interessam a vocês, jornalistas”, sorriu uma fonte do Vaticano. Esta foi uma forma de denunciar a cobertura generalizada de certas questões, que os responsáveis da Igreja Romana consideram "as mais impulsionadas pelos meios de comunicação". Estas incluem a bênção de casais homossexuais, divorciados recasados, a ordenação de homens casados – também conhecida como viri probati – e o lugar das mulheres.
Esta foi a pressão midiática que o Papa Francisco procurou contrariar, ordenando que a assembleia sinodal fosse realizada a portas fechadas, exigindo que os participantes observassem um “certo jejum do discurso público”.
No discurso de abertura, em 4 de outubro, ele lamentou claramente o fato de isso ter pesado fortemente nas assembleias anteriores. “Durante o Sínodo sobre a Família, a opinião pública, fruto do nosso mundanismo, pensava que a comunhão seria dada aos divorciados, e com esse espírito iniciamos o Sínodo da Amazônia sob a opinião, pressão, pensamos que os viri probati seriam ordenados, e entramos sob essa pressão”, lembrou o papa.
Ele então acrescentou: “Agora há especulações sobre este Sínodo: ‘O que eles vão fazer?’, ‘Talvez ordenar mulheres’… Não sei, essas são coisas que eles estão dizendo por aí”. O papa também fez este apelo aos jornalistas: “Por favor, divulguem isto às pessoas, para que percebam que a prioridade é ouvir”.
Os numerosos jornalistas que cobrem a assembleia sinodal de 4 a 29 de outubro foram obrigados, desde o início, a contentar-se com briefings organizados pelo Dicastério para a Comunicação. Participantes selecionados do Sínodo são trazidos para compartilhar suas impressões sobre o trabalho da assembleia... mas sem nunca dizer o que foi dito ou ouvido na Sala Paulo VI, onde acontecem as sessões de trabalho. Isso exasperou alguns repórteres. “Há pessoas na Igreja que estão seriamente preocupadas com a situação das mulheres”, argumentou Cindy Wooden, do Catholic News Service, muito irritada, que também citou a situação dos católicos LGBTQ. “Estas não são invenções jornalísticas”, continuou ela. Na verdade, os participantes sinodais que se dispuseram a dizer um pouco mais longe dos microfones, observam que as questões “mais impulsionadas pela mídia” são também aquelas que atraem mais intervenções na sala. Foi o caso da inclusão dos homossexuais na Igreja, do lugar das mulheres e da capacidade dos leigos de tomarem decisões pela instituição.
Durante a fase que permite aos membros do Sínodo se expressarem livremente, dezenas de participantes pediram a palavra para abordar estes temas. Tanto é que, em diversas ocasiões, o presidente delegado da assembleia pelo Papa teve que encerrar o dia sem poder dar a palavra a todos. Mas ficou claro que aqueles que não tiveram oportunidade de falar poderiam enviar as intervenções previstas aos teólogos responsáveis pela elaboração da síntese final desta primeira sessão da assembleia sinodal.
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Um “sínodo midiático” versus o verdadeiro Sínodo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU