17 Mai 2023
"A Santa Sé quer fazer sentir a urgência da paz. Pretende abrir canais de conversa habitados pela linguagem diplomática, não pela propaganda de embates e insultos"
A entrevista com Andrea Riccardi é publicada por Sant'Egidio, 15-05-2022.
Professor Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant`Egidio, como avalia o fechamento do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ao plano de paz e à mediação do Papa?
A sede de paz é tanta que esperávamos um milagre de uma cimeira de 40 minutos, sobrepusemos a esperança à realidade. Chegamos então a conclusões um tanto decepcionadas, sem pensar que mesmo que Zelensky quisesse empreender um processo de paz, não o teria dito. Trabalha numa ofensiva e a sua linguagem continuará a ser “a nossa vitória e a reconquista dos nossos territórios”. Mas acredito que o encontro face a face com o Papa não será irrelevante do ponto de vista diplomático. Até porque é a primeira vez que Zelensky dialoga com um líder que tem outra posição sobre a questão da guerra.
A diplomacia vaticana ainda seguirá em frente?
Sim. Tenho muita fé na Santa Sé porque conheço a retidão apaixonada de suas intenções, do Papa e de Parolin. A Santa Sé quer fazer sentir a urgência da paz. Pretende abrir canais de conversa habitados pela linguagem diplomática, não pela propaganda de embates e insultos. E espero que se chegue a uma aproximação entre os dois lados, talvez - como espero - com a contribuição essencial de Washington e Pequim.
O que você acha da "equiproximidade" de Francisco com Moscou e Kiev?
Eu diria que Francisco é uma imparcialidade ativa.
Em que sentido?
Nem todos "ficaram do lado" do homem agredido mesmo que falasse em agressão. E então, uma série de suas intervenções pareceu incomodar os dois contendores: ele disse uma palavra de compaixão por Dughina, condenou o massacre de Bucha, quis a Via Crucis com uma ucraniana e uma russa sob a mesma cruz. Gestos que lhe causaram frieza desde Kiev como desde o Kremlin.
O Papa e a Santa Sé parecem ser os únicos a almejar a paz sem passar pela vitória de ninguém...
É verdade. Francisco mantém sua popularidade, é considerado o pai de todos: a família humana sente a necessidade de sonhar que pode haver alguém que possa levar os irmãos em conflito a um acordo. O problema é que não se sentem irmãos e não sentem necessidade de um pai.
Sant`Egidio está muito ativo no país invadido...
Sim. Estive uma semana na Ucrânia e fiquei emocionada com a conversa com os refugiados, especialmente com as mulheres corajosas e particularmente sofredoras. A Comunidade assumiu um compromisso humanitário que chega a 20 milhões em ajuda, caracterizado pelo fato de que são os ucranianos de Sant'Egidio que ajudam outros ucranianos. Da Itália coletamos dinheiro, remédios e cuidamos da logística das transferências.
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“O trabalho do diálogo é silencioso, um acordo não se faz em 40 minutos”. Entrevista com Andrea Riccardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU