23 Abril 2021
"As histórias que ouvimos são chocantes e não há dúvida de que a Igreja falhou em relação aos nossos irmãos e irmãs que pertencem a minorias étnicas”. As palavras proferidas à BBC pelo Arcebispo de York, Stephen Cottrell, o segundo mais importante na hierarquia da Igreja Anglicana, expressão da Comunhão Anglicana, não deixam dúvidas. Cottrell foi entrevistado durante o programa de TV intitulado "A Igreja é racista?" transmitido pela primeira emissora estatal britânica, ontem à noite, durante a série “Panorama”. Os episódios contados no programa são chocantes.
A reportagem é de Silvia Guzzetti, publicada por Avvenire, 20-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um homem negro que trabalhava para a Igreja recebeu a foto de uma banana com sua própria cabeça sobreposta e as palavras "Bananaman". Quando reclamou no departamento de recursos humanos, foi informado que não era racismo e foi obrigado a assinar uma carta se comprometendo a não mencionar o incidente. Como ele, muitos outros sofreram insultos e discriminações e foram obrigados a sair, recebendo apenas modestas quantias como compensação em troca da promessa de não contar nada sobre o ocorrido. Na diocese de Londres, um pastor de origem brasileira, Peterson Faital, teve que ouvir por anos que ele era demasiado brasileiro na forma de mostrar compaixão durante sua missão pastoral e que precisava encontrar outro emprego com pessoas como ele. Quando ele protestou, ele foi pressionado ao silêncio porque nunca poderia provar os abusos sofridos. Passados dez anos, Faital foi despedido e agora vive de subsídios do Estado.
O documentário "A Igreja é racista?" também colheu o testemunho de Elizabeth Henry, a quem a Igreja da Inglaterra havia confiado a tarefa de combater o racismo e que renunciou após sete anos, porque percebeu que era impossível fazer progressos. O primaz anglicano Justin Welby e o arcebispo de York Stephen Cottrell, que colaboraram no programa, admitiram que a Igreja errou. Já no Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra em fevereiro do ano passado, o Primaz Welby se desculpou publicamente e reconheceu que "a Igreja da Inglaterra ainda é, institucionalmente, profundamente racista".
Respondendo ao Pastor Andrew Moughtin-Mumby, que contou a experiência de um de seus paroquianos que, junto com sua família, havia sido excluído de uma igreja anglicana por causa da sua cor, o Arcebispo de Canterbury disse que "sentia vergonha e queria se desculpar” . Ele também acrescentou que a Igreja precisava mudar para se tornar mais acolhedora.
Foram Welby e Cottrell que confiaram a um grupo de especialistas no ano passado a tarefa de examinar todos os relatórios e recomendações da Igreja da Inglaterra em matéria de racismo, dos últimos trinta e seis anos. O objetivo era saber se houve alguma alteração.
O relatório final desta última pesquisa será publicado na próxima quinta-feira e conterá várias recomendações, dirigidas a diversos setores da Igreja, antes do início de uma nova comissão que abordará o tema com maior profundidade. “Espero que cheguemos ao ponto de combater o racismo com mais consciência e que isso leve a uma maior participação em todos os níveis da Igreja, para que possamos alcançar a mudança desejada”, disse o Arcebispo de York em um comunicado.
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O primaz anglicano Welby: a Igreja da Inglaterra continua profundamente racista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU