07 Janeiro 2020
Em 25 de janeiro a China entrará no Ano do Rato, sinônimo de agilidade, inteligência, conhecimento e mudança, porém os desafios iniciarão semanas antes e de novo com o problema territorial como principal isca. Esses são os eixos de sua agenda para um ano no qual cabe supor seguir pisando o acelerador para ultimar sua transformação interna e também seu significado e relevância na governança global.
O artigo é de Xulío Ríos, diretor do Observatório Político da China, publicado por ALAI, 02-01-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em primeiro lugar, Taiwan. As eleições legislativas e presidenciais que ocorrerão na “ilha rebelde”, em 11 de janeiro, marcarão não somente o rumo político imediato da velha Formosa, mas também poderia colocar contra as cordas a ambição de Xi Jinping de acelerar o processo de reunificação e, em consequência, acentuar a aproximação de Taipei a Washington e realçar seu papel na estratégia do Indo-Pacífico, justamente ideada pelos EUA para conter a China.
Em segundo lugar, Hong Kong. Depois das eleições locais de novembro, nas quais os grupos pró-China perderam 87% dos representantes frente aos candidatos opositores, a região administrativa especial vive um momento de impasse à espera da reação política de Pequim. Sua escassa margem de manobra para encaixar as demandas democratizadoras da população poderia augurar uma nova onda de protestos.
Em terceiro lugar, Xinjiang. As políticas adotadas nos últimos anos para preservar as ações violentas protagonizadas por alguns grupos da dissidência uigure nessa região autônoma do Oeste chinês, tão expedidas quanto exitosas no plano interno, afetaram bastante a imagem internacional do país e forneceram argumentos para pôr em causa seu compromisso com a observação dos direitos humanos. O caso Xinjiang continuará a desempenhar um papel relevante nas divergências entre a China e os países desenvolvidos do Ocidente.
Em quarto lugar, a conclusão do XIII Plano Quinquenal. O final da década deve servir para fazer balanço deste plano, decisivo em muitos aspectos para avançar na mudança no modelo de desenvolvimento que deve virar a página da “fábrica do mundo” para se instituir agora como o grande “centro tecnológico mundial”. Ainda que em 2020 seguirão se moderando os objetivos de crescimento, tanto a duplicação do valor do PIB como do PIB per capita em relação a 2010 se dão por garantidos.
Em quinto lugar, a erradicação da pobreza extrema. Este é um objetivo de grande valor material e simbólico que incide em uma das principais sombras da reforma chinesa: a justiça social. Em 2020, a pobreza extrema deve desaparecer da segunda potência econômica do mundo, a China comunista. Em 2019, mais de 95% da população nessa situação saiu da pobreza. O exercício entrante deve assegurar o impulso definitivo afiançado com a intensificação nas políticas relacionadas com a melhora geral do desenvolvimento humano (posição 80 no índice global).
Em sexto lugar, as tensões com os EUA. O ceticismo rodeia a trégua pactuada recentemente entre Pequim e Washington para evitar um agravamento da guerra comercial. O armistício é frágil dado o caráter estrutural das diferenças que enfrentam e o potencial de desestabilizador de casos como a extradição de Meng Wanzhou, diretora da Huawei (a ser sentenciada em janeiro), que poderiam dinamitar os frágeis consensos. Por outro lado, as tensões somam cada vez maiores níveis, desde o estratégico ao ideológico.
Em sétimo lugar, a culminação da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, siglas em inglês) que a China promoveu com tenacidade como alternativa ao velho TPP, ou Acordo Transpacífico de Cooperação, que Donald Trump descartou. Enquanto os países de ASEAN, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Japão ultimaram praticamente as negociações, a Índia colocou-o de lado, debilitando assim a transcendência do acordo. Bem, é verdade que ainda sem ela segue sendo muito importante e que o valor de sua retirada, a confirmar-se plenamente nos próximos meses, nem de longe é comparável com o efeito da retirada dos EUA da TPP.
Em oitavo lugar, o desafio ambiental demandará da China constantes e maiores esforços para controlar as emissões de dióxido de carbono com revoluções em curso como o investimento em energias renováveis (maior que em qualquer outro país) ou em veículos elétricos, entre outros. Ainda que em alguns índices se advirta uma clara melhoria (como a contaminação do ar) são muitos as frentes abertas e muito alto o nível de exigência dos investimentos por executar nessa ordem.
Em nono lugar, sua relação com o mundo. China ampliou seu nível de cooperação internacional, seu papel na governança global viu-se reforçado e seu compromisso com o multilateralismo acentuou-se. No entanto, segue tendo um importante problema de comunicação com o exterior. Sua imagem oscila entre a admiração e o temor e de um continente a outro, a vulnerabilidade de suas estratégias (desde a iniciativa Cinturão e Rota às políticas de segurança) apresenta buracos negros que não podem se evitar recorrendo unicamente à multiplicação da propaganda.
Em décimo lugar, os preparativos do centenário do Partido Comunista. Em 2021, o PCCh celebrará os seus primeiros cem anos. E em 2022, ocorrerá o XX Congresso. É um calendário politicamente muito exigente que acentuará os controles para apresentar um país em permanente estado de revisão. Ao longo de 2020 deverá se clarificar em maior medida a intenção de Xi Jinping a propósito da relevância da liderança das principais instituições do Partido e do Estado, com a dúvida de uma ampliação intercongressual e não usual do Comitê Central do Partido Comunista Chinês.
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Os dez temas chave da agenda chinesa em 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU