O resultado das relações comerciais entre a China e os países da América Latina, como o Brasil, nas duas últimas décadas, foi a geração de uma “estrutura bastante assimétrica”, diz o economista Celio Hiratuka à IHU On-Line. Apesar de o Brasil ter se beneficiado economicamente da exportação de commodities para a China entre os anos 2000 e 2014, o país importou uma grande quantidade de produtos manufaturados chineses. “Os países da América Latina em geral exportam muito de algumas poucas commodities para a China, e importam um conjunto extremamente diversificado de produtos manufaturados. Do ponto de vista comercial, portanto, o que se verifica é que a China modificou bastante os fluxos de comércio da AL, aumentando os fluxos, porém reforçando uma assimetria entre a diversificação e sofisticação existente dos produtos exportados e importados”, afirma.
De acordo com Hiratuka, embora a demanda chinesa por commodities continue sendo importante para os países da América Latina, “a competitividade chinesa e sua forte inserção no mercado mundial tem sido uma ameaça importante para a estrutura industrial, em especial para os países de maior população e que justamente têm na atividade industrial um setor importante para o seu desenvolvimento”. À medida que a China busca aumentar o grau de internacionalização das suas empresas, menciona, o país também quer controlar fontes de matéria-prima e investe em mineração, petróleo, infraestrutura e nos setores industrial e de serviços. Esses investimentos, adverte, “têm o potencial de gerar efeitos de longo prazo sobre as economias receptoras de maneira mais intensa do que o comércio. Portanto é uma área que deve ser monitorada com atenção, já que vem se somando aos fluxos comerciais como vetores da relação entre a China e AL. E, junto com os investimentos, também é possível perceber a crescente presença dos bancos chineses e do setor financeiro chinês na região”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, o economista pontua que, apesar de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil no momento, “os potenciais impactos positivos” dessa relação “podem ser menores do que o esperado, ou mesmo negativos se não houver uma estratégia clara e um mapeamento detalhado desses possíveis impactos”. Ele frisa ainda que “a visão ideológica de que o mercado resolve tudo pode significar uma forte transferência de ativos, sem que isso signifique impactos positivos para o conjunto da economia, mas somente para as empresas investidoras, que aliás, neste caso, são em grande parte empresas estatais chinesas”.
Diante das disputas entre China e EUA no campo tecnológico, reitera, “seria importante o Brasil buscar avaliar possíveis impactos, estudar a fundo as transformações que estão ocorrendo no mundo na inteligência artificial, assim como nas várias tecnologias associadas à chamada quarta revolução industrial, verificar nossa estrutura atual em termos de conhecimento científico e tecnológico e as forças e debilidades de nosso sistema produtivo, para então imaginar possíveis áreas, formas de inserção e possíveis parcerias, seja com empresas e instituições de pesquisa chinesas, seja com outros países. Sem isso, o risco de aumentar ainda mais nossa dependência tecnológica é bastante grande”.
Celio Hiratuka (Foto: Unicamp)
Celio Hiratuka é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre e doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde leciona atualmente. O economista esteve na Unisinos, participando do “2º Ciclo de Estudos a China e o mundo. A (re)configuração geopolítica global”, onde ministrou a palestra “Mudanças nas estratégias de desenvolvimento chinês após a crise global. Impactos na América Latina”.
IHU On-Line - Como o senhor compreende o crescimento e o desenvolvimento da China nos últimos anos? O que explica esse fenômeno?
Celio Hiratuka - O crescimento chinês recente tem sido marcado fundamentalmente por uma forte expansão da Formação Bruta de Capital Fixo, associada ao aumento do grau de urbanização e construção de infraestrutura. A China tinha uma taxa de urbanização que ainda era de cerca de apenas 35% em 2000. Essa taxa aumentou para 55% em 2015. Fazendo uma estimativa grosseira, essa elevação na taxa de urbanização representou um aumento de 300 milhões de pessoas saindo dos campos para as cidades. Os processos de desenvolvimento de outros países passaram em algum momento por essa transição, com implicações importantes para a mudança da estrutura produtiva e o aumento do peso da atividade industrial. Mas nenhuma experiência anterior teve a mesma escala e velocidade do processo chinês.
A ampliação dos investimentos em infraestrutura significou também o vetor que impulsionou o crescimento das grandes empresas, principalmente estatais, mas também privadas, responsáveis por atender ao crescimento da demanda e organizar os investimentos nos setores de energia elétrica, petróleo, telecomunicações, construção civil e transporte. E a demanda destas empresas impulsionou a atividade industrial em um amplo conjunto de setores não apenas da indústria de insumos básicos, como petróleo, petroquímicos, cimento, vidro, aço etc., mas também para máquinas e equipamentos cada vez mais sofisticados, como fabricações de trens e equipamentos de transporte, equipamentos de telecomunicações. Tudo isso foi acompanhado do avanço também nos setores mais ligados às cadeias globais de produção em que a China já tinha se inserido nas décadas anteriores, porém, buscando um forte processo de upgrading em direção a atividades mais sofisticadas.
De outro lado, é importante destacar que os recursos para a urbanização e para o crescimento industrial foram mobilizados e canalizados para os investimentos através do sistema de crédito bancário organizado em torno dos bancos públicos de desenvolvimento.
Pode-se falar, portanto, em um círculo virtuoso coordenado pelo planejamento estatal em que a taxa de investimento suportou um processo de intensa mudança estrutural associado à urbanização, que por sua vez articulou a oferta de infraestrutura com forte expansão de capacidade e desenvolvimento industrial em setores da indústria pesada e de duráveis. Este movimento foi realizado sem abandonar as indústrias articuladas dentro das cadeias globais, como a indústria tradicional intensiva em mão de obra e outros setores e segmentos da indústria eletrônica e de máquinas e equipamentos.
IHU On-Line - Quais são as consequências do crescimento chinês para os grandes centros e para os países periféricos?
Celio Hiratuka - O padrão de desenvolvimento chinês, por um lado, resultou no boom de commodities observado entre 2003 e 2014. Mesmo com a redução dos preços, a demanda chinesa por commodities continua sendo um fator importante para os países exportadores desses produtos, como o Brasil e vários outros países na América Latina. Mas, de outro lado, a competitividade chinesa e sua forte inserção no mercado mundial tem sido uma ameaça importante para a estrutura industrial, em especial para os países de maior população e que justamente têm na atividade industrial um setor importante para o seu desenvolvimento.
A competição com produtos cada vez mais sofisticados também tem tido impactos nos países centrais. A própria disputa comercial entre China e Estados Unidos é um reflexo de como a rápida ascensão chinesa tem provocado impactos nos países desenvolvidos.
IHU On-Line - O tema da sua palestra no IHU foi “Mudanças nas estratégias de desenvolvimento chinês após a crise global. Impactos na América Latina”. Qual era a situação da China antes da crise global, que mudanças a China fez em suas estratégias de desenvolvimento depois dessa crise e quais foram as implicações disso na América Latina?
Celio Hiratuka - É possível pensar a resposta da China à crise global em dois momentos. No momento imediatamente posterior à crise, a estratégia foi reforçar a aposta no "Big Push" dos investimentos. Até 2011, a China manteve suas taxas de crescimento acima de 9%, puxada essencialmente pela expansão da formação de capital em vários setores. Mas, em um segundo momento, a sustentabilidade dessa estratégia começou a ser questionada, uma vez que a economia global não conseguiu sustentar sua recuperação. A capacidade ociosa chinesa começou a se elevar, acirrando tensões comerciais globalmente. Internamente, a China começa a discutir a transição para um novo modelo de crescimento, menos dependente da expansão de setores intensivos em capital e recursos naturais e com maior peso de setores industriais e de serviços mais intensivos em conhecimento. Do ponto de vista da demanda, a China passou a tentar elevar o peso do consumo e reduzir o do investimento.
Mas é uma transição que será longa e a saída de capital através da expansão de suas empresas no exterior foi um dos mecanismos estimulados para esta transição. Embora a iniciativa Cinturão e Rota [Um cinturão, uma rota] tenha distintas motivações, do ponto de vista econômico esta é uma das mais importantes, na medida em que busca abrir espaço para que as empresas chinesas participem de vários projetos de infraestrutura nos países participantes, melhorando ao mesmo tempo a conectividade para exportação de bens e serviços.
A outra mudança importante foi o crescente peso dado à mudança tecnológica e à inovação, como forma de reduzir a dependência de conhecimentos externos e estimular novos setores econômicos mais sofisticados. O progresso tecnológico é considerado também um elemento estratégico para prover um crescimento da produtividade, no futuro, menos dependente da utilização intensiva de capital, e que ao mesmo tempo ajude a resolver questões consideradas fundamentais para o desenvolvimento da China, como a própria questão ambiental, agravada pelo modelo anterior de forte estímulo ao investimento nos setores da indústria pesada.
IHU On-Line - Quais as motivações do interesse da China na América Latina? Como o crescimento da China impacta os diferentes países da América Latina e Caribe?
Celio Hiratuka - Em razão de sua escassez de recursos em relação ao tamanho da população, a questão da segurança energética e alimentar chinesa sempre foi muito importante. E a estratégia de crescimento acelerado com grandes investimentos em infraestrutura reforçou a demanda por commodities chinesas. Por isso, as relações estabelecidas na primeira década dos anos 2000 foram basicamente relações comerciais. Em especial, os países da América Latina exportadores de commodities se beneficiaram amplamente do impacto da China na demanda e nos preços internacionais. E, como foi dito anteriormente, do lado das importações, a América Latina passou a importar uma grande quantidade de produtos manufaturados nos quais a China foi obtendo grande competitividade internacional. O resultado do ponto de vista comercial foi uma estrutura bastante assimétrica. Os países da América Latina em geral exportam muito de algumas poucas commodities para a China, e importam um conjunto extremamente diversificado de produtos manufaturados. Do ponto de vista comercial, portanto, o que se verifica é que a China modificou bastante os fluxos de comércio da AL, aumentando os fluxos, porém reforçando uma assimetria entre a diversificação e sofisticação existente dos produtos exportados e importados.
Com as mudanças recentes observadas na estratégia chinesa e a busca por aumentar o grau de internacionalização de suas empresas, os fluxos de investimento também vêm aumentando, combinando a busca por controlar fontes de matérias-primas, como nos investimentos nas áreas de mineração e petróleo, com a busca por novos mercados, seja no setor de infraestrutura, seja no setor industrial ou de serviços. Os investimentos têm o potencial de gerar efeitos de longo prazo sobre as economias receptoras de maneira mais intensa do que o comércio. Portanto é uma área que deve ser monitorada com atenção, já que vem se somando aos fluxos comerciais como vetores da relação entre a China e AL. E, junto com os investimentos, também é possível perceber a crescente presença dos bancos chineses e do setor financeiro chinês na região.
IHU On-Line - Quais são os países da América Latina que têm melhores relações com a China, que são favorecidos pelas relações comerciais com os chineses e, de outro lado, quais não se beneficiam da parceria com os chineses?
Celio Hiratuka - O impacto comercial depende, por um lado, da capacidade de exportar commodities de cada país da região. De outro, do grau de desenvolvimento da estrutura produtiva. Pela exportação, os países com inserção em produtos intensivos em recursos naturais são os mais beneficiados. Nas importações, os mais afetados são aqueles onde a penetração de importações chinesas causa maior dificuldade para a competição no mercado interno e em terceiros mercados. O México, por exemplo, é um país que exporta pouco para China e tem que enfrentar fortemente a competição chinesa em seu mercado doméstico e nos Estados Unidos. Já o Chile, que exporta principalmente commodities, não tem grandes efeitos negativos relacionado às importações, por conta de ser um país pequeno e não ter uma estrutura industrial diversificada. O Brasil é o país que é o extremo nos dois casos, ou seja, é o maior exportador de commodities para a China dentro da AL, mas também o país que tem a estrutura industrial mais diversificada.
Quanto aos investimentos, embora o impacto potencial possa ser elevado, o impacto efetivo vai depender da estratégia dos países para aproveitar os interesses das empresas chinesas para elevar o nível de investimento, resolver problemas de infraestrutura e maximizar os efeitos de encadeamento e de geração de renda e emprego. Em geral, a atuação das empresas chinesas é marcada pelo pragmatismo e pela adaptação às condições de cada país. Portanto, reforça a necessidade dos países da região de terem uma estratégia clara para aproveitar os benefícios potenciais e mitigar riscos, como, por exemplo, a questão da regulação ambiental e políticas voltadas para elevar os transbordamentos produtivos e tecnológicos para o sistema produtivo local.
IHU On-Line - Que tipo de investimentos e relações os chineses têm estabelecido com diferentes regiões do mundo, como com os países africanos, asiáticos, europeus e das Américas?
Celio Hiratuka - Em geral, nos países desenvolvidos, os investimentos chineses têm características de buscar novos mercados e também ativos estratégicos, como conhecimento tecnológico e marcas consolidadas. No caso dos países em desenvolvimento, em geral, a busca por recursos é mais importante. Mas, dependendo do tamanho do mercado, os investimentos do tipo "market-seeking" estão se tornando mais relevantes. No caso do Brasil, por exemplo, é possível ver a partir de 2010 uma diversificação importante nos setores de destino dos investimentos. Embora em valor ocorra uma concentração importante no setor de energia elétrica, em número de operações é possível notar claramente um aumento dos investimentos em setores industriais, em serviços e também no setor financeiro.
IHU On-Line - Em sua campanha eleitoral, o presidente Bolsonaro fez um discurso combativo aos interesses chineses no país. Em sua viagem à China, contudo, o presidente convidou as estatais da China para participarem do leilão da cessão onerosa e fechou alguns contratos para exportação de carne e produtos agrícolas. Como avalia as relações comerciais entre os dois países e quais são os interesses da China no Brasil?
Celio Hiratuka - Apesar do discurso realizado na campanha eleitoral, a realidade é que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, deixando os Estados Unidos em um distante segundo lugar. A China representou quase 1/4 das exportações brasileiras em 2018, enquanto os Estados Unidos menos de 15%. E o interesse da China tem sido de fato ampliar os investimentos no Brasil, dentro do contexto destacado anteriormente de realizar a transição de seu modelo econômico e onde a expansão de seu sistema empresarial no exterior joga um papel chave. Atualmente esse deve ser o principal vetor que pode afetar a relações entre os países, mais do que as relações comerciais.
Minha opinião pessoal é que os potenciais impactos positivos podem ser menores do que o esperado, ou mesmo negativos se não houver uma estratégia clara e um mapeamento detalhado desses possíveis impactos. Em primeiro lugar, os investimentos novos ("greenfield") devem ser priorizados em relação a operações de venda de ativos já existentes. Segundo, como já ressaltei, deve-se considerar a importância de ter regras ambientais robustas que evitem efeitos negativos de longo prazo. E terceiro, a questão dos encadeamentos e transbordamentos produtivos e tecnológicos e sobre os empregos gerados também devem ser avaliados. A visão ideológica de que o mercado resolve tudo pode significar uma forte transferência de ativos, sem que isso signifique impactos positivos para o conjunto da economia, mas somente para as empresas investidoras, que aliás, neste caso, são em grande parte empresas estatais chinesas.
IHU On-Line - Considerando o desenvolvimento e os investimentos da China em novas tecnologias, como em inteligência artificial, e o atraso do Brasil nessa área, é possível estimar como serão as relações comerciais do país com o Brasil na próxima década?
Celio Hiratuka - A China vem se posicionando como um dos principais países a disputar a liderança no desenvolvimento de tecnologias, sistemas e plataformas ligadas à inteligência artificial. As gigantes tecnológicas chinesas vêm apostando fortemente no segmento, criando uma disputa com as gigantes americanas. Pode-se dizer que a disputa comercial entre Estados Unidos e China tem como pano de fundo uma disputa mais ampla, ligada fortemente a uma concorrência no campo tecnológico. E os desenvolvimentos recentes nesses setores têm apontado para uma dinâmica em que as economias de escala, as externalidades de rede e o controle sobre ativos tecnológicos chave podem ter efeitos fortemente excludentes sobre países em desenvolvimento e que estão atrasados nesses campos.
Seria importante o Brasil, assim como vários países têm feito, buscar avaliar possíveis impactos, estudar a fundo as transformações que estão ocorrendo no mundo na inteligência artificial, assim como nas várias tecnologias associadas à chamada quarta revolução industrial, verificar nossa estrutura atual em termos de conhecimento científico e tecnológico e as forças e debilidades de nosso sistema produtivo, para então imaginar possíveis áreas, formas de inserção e possíveis parcerias, seja com empresas e instituições de pesquisa chinesas, seja com outros países. Sem isso, o risco de aumentar ainda mais nossa dependência tecnológica é bastante grande.
IHU On-Line - Um dos seus estudos recentes trata dos impactos da China na quantidade e na qualidade dos empregos gerados no Brasil entre 2000 e 2017. De que modo as relações comerciais do Brasil com a China têm refletido na quantidade e qualidade dos empregos no Brasil?
Celio Hiratuka - Em grande parte, os impactos no emprego decorrem do perfil setorial do comércio. A forte elevação das exportações mais do que compensou os efeitos negativos do aumento das importações, resultando em impactos significativos na geração de empregos. Esse efeito positivo foi sentido principalmente entre 2003 e 2011, quando os fluxos de exportações aumentaram de maneira mais significativa. Mas ao mesmo tempo, os empregos criados foram de nível de qualificação e com salários médios menores do que a média, novamente em razão do perfil setorial das exportações, com forte peso de produtos agrícolas. Por outro lado, nas importações, a contribuição foi para substituir trabalhadores com um nível de qualificação e salário ligeiramente superiores à média.
Quanto aos investimentos, as estimativas apontam ainda para impactos relativamente reduzidos, em especial porque os investimentos têm sido predominantemente em processos de fusões e aquisições, e não em investimentos greenfield.
IHU On-Line - A presença da China na América Latina e Caribe favorece um processo de integração regional ou um processo de desintegração do Mercosul?
Celio Hiratuka - Neste caso também os impactos não são lineares. No caso do Mercosul, o aumento das exportações para a China e o alívio da restrição externa observada por conta deste aumento das exportações permitiu taxas de crescimento maiores na região, ao menos entre 2003 e 2013. Parte deste crescimento se refletiu no aumento das importações intrarregionais. Mas, ao mesmo tempo, a China ocupou parte dos espaços do comércio intrarregional, deslocando os parceiros do bloco.
IHU On-Line - As relações comerciais que a China estabelece com alguns dos países membros do Mercosul têm gerado algum tipo de implicação nas relações comerciais entre os países do bloco?
Celio Hiratuka - É possível dizer que as relações com a China amplificam os desafios existentes para a sobrevivência e a definição dos rumos futuros do acordo. O Mercosul nasceu como um acordo profundo, com uma união aduaneira entre países de tamanho e estruturas produtivas muito diferentes. E com mecanismos frágeis para superar essas diferenças e as assimetrias competitivas entre os países do bloco. Nesse contexto, as relações com a China tendem a exacerbar posições diferentes entre os países e dificultar a convergência de posições.
IHU On-Line - O que o Mercosul enquanto bloco perde devido ao conflito entre Paraguai e China por causa do reconhecimento de Taiwan?
Celio Hiratuka - É uma pergunta difícil de responder. Em princípio, se o Paraguai estabelecesse relações diplomáticas com a China, seria possível pensar na negociação de um acordo do bloco com a China. No entanto, permaneceriam as dificuldades para chegar a uma visão comum dos diferentes países sobre como se relacionar com a China.
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Assista à íntegra da conferência de Hiratuka no IHU: