21 Junho 2018
O documento de trabalho para o Sínodo dos Bispos em outubro é, em grande parte, produto da elaboração dos próprios jovens.
A reportagem é de Nicolas Senèze e Gauthier Vaillant, publicada por La Croix International, 20-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O Sínodo dos Bispos sobre os Jovens será realmente uma reunião de jovens.
O Papa Francisco gosta de destacar esta distinção para ilustrar o seu desejo de colocar os jovens no front das discussões. O Sínodo tratará dos "jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional". O Sínodo ocorrerá em Roma entre os dias 3 e 28 de outubro.
Foi o próprio Papa Francisco que teve a ideia de fazer um "pré-Sínodo" em março, um evento em que jovens de todo o mundo tiveram a oportunidade de fazer sua mensagem ser ouvida pela Igreja.
A julgar pelo seu conteúdo, o "documento de trabalho", publicado pelo Vaticano na terça-feira, Instrumentum Laboris, que servirá como base para a discussão do Sínodo, certamente não é um truque retórico, como temiam algumas pessoas.
Os pontos de vista dos jovens estão presentes no texto de 60 páginas (apesar da versão em italiano ser a única atualmente disponível).
A declaração final do pré-Sínodo tem muitas citações. Algumas estatísticas são extraídas do questionário on-line disponibilizado pelo Vaticano. Outros pontos se baseiam nas contribuições das conferências episcopais nacionais, incluindo as que também trabalharam diretamente com jovens.
Todos estes recursos permitem que o documento de trabalho apresente um amplo panorama da juventude do mundo. Os 1,8 bilhões de jovens na faixa etária de 16-29 são aqueles que Sínodo se preocupa – um quarto da humanidade.
O documento do Vaticano traça um quadro geral do grupo, enquanto também olha especificamente para situações que "variam consideravelmente de um país para outro."
Questões levantadas incluem as relações dos jovens com suas famílias, que são tratadas como uma "referência privilegiada no desenvolvimento integral da pessoa."
Trabalho e suas incertezas também emergem proeminente na problemática, sendo que mais de 80% dos que responderam ao questionário on-line disseram que consideravam a estabilidade profissional como "essencial" para fundar uma família.
O documento também aborda música, esporte e relações pessoais. Pela primeira vez, a sigla LGBT é usada em um documento do Vaticano.
A juventude “não só uma fase de transição entre a adolescência e as responsabilidades da vida adulta, mas também o momento de um salto qualitativo em relação ao envolvimento pessoal em relacionamentos, compromissos e a capacidade de reflexão interior", diz o documento.
Esta frase aparece destinada a responder aos jovens que expressaram seu incomôdo em serem vistos como "o futuro", sem que haja nenhuma consideração do seu papel atual na vida.
Fazendo uso do método bastante “jesuíta” ver-julgar-agir, o documento de trabalho também propõe um método genuíno de discernimento.
O objetivo é permitir aos jovens "reconhecer e receber a vontade de Deus nas circunstâncias concretas" de suas vidas individuais.
No entanto, visa também permitir a toda a Igreja adotar "o estilo de uma Igreja que olha para o mundo lá fora", na qual os jovens são atores genuínos.
"O Sínodo é em si um exercício de discernimento, um processo que segue os mesmos passos, permitindo que cada jovem lance luz sobre a própria vocação", disse o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri.
"Mas como podemos dar aos jovens um papel de primeira linha dentro de uma realidade eclesial ainda dominada pelo clericalismo?", questionou o cardeal Baldisseri.
Neste ponto ele alertou para o risco de um processo de discernimento que "é também muitas vezes limitado à análise interminável e muitas, diversas interpretações que nunca são concretizadas."
O trabalho do Sínodo, portanto, precisa ir além de observações e de boas intenções e resultar em "decisões concretas, proféticas e práticas", disse ele.
Aos olhos dos promotores do Sínodo, isso precisa ir tão longe a ponto de ser preciso repensar a própria natureza das vocações.
"Uma das grandes fraquezas da nossa prática pastoral vocacional é a visão estreita, em que as vocações são apenas consideradas se envolverem as vocações para o Ministério e a vida consagrada", disse o padre salesiano Rossano Sala, um dos dois secretários especiais da assembleia.
Vocações sacerdotais e religiosas precisam ser re-enquadradas dentro de uma "renovada profissional e compartilhada cultura, que valoriza cada tipo de vocação", disse o padre Sala.
Isso também pode fornecer uma maneira de vincular a assembleia do Sínodo para os Jovens com próxima assembleia do Sínodo para a Amazônia, onde os participantes certamente precisarão refletir sobre se é oportuno "propor novos ministérios e serviços" dentro da Igreja.
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Vaticano ouve os jovens sobre o Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU