“Gaza criará um centro comercial e um resort de férias”, plano de Tony Blair apresentado a Trump

Foto: Organização Mundial da Saúde

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29 Agosto 2025

Ontem, o ex-primeiro-ministro britânico, o presidente dos EUA e seu genro Jared Kushner se encontraram. Segundo relatos da mídia britânica, estes são os pontos-chave do plano do ex-líder trabalhista para o futuro da Faixa de Gaza.

A informação é de por Enrico Franceschini, publicada por La Reppublica, 29-08-2025. 

"Um centro comercial para o Oriente Médio e um resort de férias para o mundo." Este é, em resumo, o plano de transformação de Gaza após o fim da guerra, apresentado a Donald Trump pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e pelo genro do presidente, Jared Kushner, em uma reunião na Casa Branca na quarta-feira. O escritório da Fundação Blair não comentou oficialmente a reunião, mas vazamentos divulgados pela imprensa londrina sugerem as propostas delineadas pelo ex-líder trabalhista, que por uma década, após ser eleito primeiro-ministro três vezes, serviu como "emissário especial" do Quarteto (Estados Unidos, Rússia, ONU, União Europeia) em Jerusalém.

Fontes citadas pelo Financial Times, BBC, Guardian e Times destacam três aspectos do plano de Blair.

O primeiro é tornar Gaza um centro comercial para toda a região, um elo econômico entre o mundo árabe, Israel e o Ocidente; e, ao mesmo tempo, torná-la um balneário internacional. Essencialmente, é um cruzamento entre uma "nova Dubai" e a chamada "Riviera de Gaza", que já havia sido comentada durante o verão como uma iniciativa promovida por Washington.

O segundo aspecto é que o plano não prevê de forma alguma a remoção forçada dos 2 milhões de palestinos que vivem na Faixa: pelo contrário, manterá o objetivo de longo prazo de uma “solução de dois Estados”, com Israel e Palestina capazes de viver lado a lado em paz e segurança mútua.

E o terceiro ponto destacado pelos vazamentos é que, antes de se encontrar com Trump na Casa Branca, Blair teria tido uma reunião com Mahmoud Abbas, o idoso presidente da Autoridade Nacional Palestina, com quem se encontrou diversas vezes quando era enviado do Quarteto ao Oriente Médio. A revelação parece sugerir que, embora os palestinos não estivessem presentes na reunião com Trump, eles estavam cientes das ideias que Blair expôs ao líder da Casa Branca. Parece que os israelenses também não estavam presentes, mas dois importantes ministros do governo de Benjamin Netanyahu — o ministro das Relações Exteriores Gideon Saar e Ron Dermer, responsável por assuntos estratégicos e o conselheiro de maior confiança do primeiro-ministro — estavam em Washington no mesmo dia, onde se encontraram com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

Kushner e os sauditas

A presença, além de Blair, do empresário Jared Kushner pode significar que o plano pretende envolver a Arábia Saudita como financiadora do centro comercial e resort: o marido de Ivanka Trump, a segunda filha do presidente, tem laços estreitos com o mundo financeiro e empresarial de Riad. Nesse caso, um papel saudita provavelmente sugeriria uma pré-condição para um "roteiro" para a retomada das negociações entre Israel e os palestinos. Mas essas são apenas especulações.

A Fundação Blair já havia sido notícia nos últimos meses por suposto trabalho de consultoria prestado à Fundação de Saúde de Gaza, a controversa organização patrocinada pelos EUA e por Israel que substituiu as Nações Unidas na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Anteriormente, em sua função como enviado do Quarteto ao Oriente Médio, Blair havia defendido consistentemente que o investimento e o crescimento econômico deveriam ser as ferramentas para pôr fim ao conflito israelense-palestino e trazer a paz.

Não está claro se, na reunião de quarta-feira com Trump, Blair também discutiu como alcançar um cessar-fogo em Gaza e quem governaria a região após o fim do conflito. De qualquer forma, a reunião pressupôs que o Hamas não teria nenhum papel na administração da Faixa e em seu desenvolvimento futuro. Entrevistado por uma emissora de televisão americana na véspera da reunião, Steve Witkoff, negociador de Trump para o Oriente Médio e a Ucrânia, expressou confiança de que a guerra em Gaza poderia terminar "até o final do ano".

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