10 Abril 2025
A Petrobras promete investir em transição energética há mais de dois anos, mas não entregou nada até agora. Agiu pouco para virar a chave e se tornar uma empresa de energia sob a batuta de Jean Paul Prates, menos ainda com Magda Chambriard no comando. E pelo recado dado a investidores estrangeiros, os planos para fontes renováveis vão continuar só no papel. Segundo a companhia, porque podem reduzir seus ganhos financeiros.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 09-04-2025.
Para a Petrobras, parcerias ou aquisições de ativos relacionados à transição energética podem impactar seu perfil de risco e a taxa de retorno do seu portfólio. A avaliação, feita para investidores internacionais, foi registrada na semana passada num formulário na Securities and Exchange Comission (SEC), órgão dos EUA que regula o mercado de ações, informa o Valor.
“O desenvolvimento de produtos e serviços com baixo carbono está sujeito a incertezas que podem ter um efeito adverso em nossos resultados financeiros esperados”, destacou a empresa no documento. Entre as “incertezas” apontadas pela Petrobras estão as preferências do consumidor influenciadas pelas mudanças climáticas e pela mudanças para fontes de energia mais limpas.
No entanto, essa análise contradiz suas próprias projeções. O planejamento estratégico 2050 da empresa prevê que a demanda por petróleo cairá progressivamente a partir de 2030. Logo, investir na exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas, como a Petrobras quer, é um risco financeiro muito maior, o de ficar com um ativo encalhado na carteira, do que mudar seu portfólio para fontes renováveis de energia.
As ressalvas da Petrobras quanto à transição energética não são novidade. A empresa fez o mesmo em 2024, com Prates na presidência da empresa. Na época, os focos em renováveis e descarbonização envolviam eólicas offshore, hidrogênio verde e captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS). No Plano de Negócios 2025-2029, porém, a petroleira anunciou a priorização de investimentos em etanol e na produção de biocombustíveis.
Vale lembrar que a CEO Magda Chambriard defende explorar mais combustíveis fósseis para supostamente financiar a transição – ou seja, produzir mais petróleo para acabar com o petróleo. Repete a falácia do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que agora diz que a falta de licença do Ibama para a Petrobras perfurar um poço na foz do Amazonas “dificulta o avanço” da transição no Brasil, informam Valor, Correio Braziliense e Metrópoles. Pois é, uma coisa não tem nada a ver com a outra, conforme analisa Alexandre Gaspari.
Em audiência pública na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados na 3ª feira (8/4), organizações da sociedade civil reiteraram que o governo quer liderar a discussão climática global ao mesmo tempo em que atua para aumentar a exploração de petróleo e gás fóssil. Um exemplo é a insistência em explorar o bloco 59, na foz do Amazonas, destacou Carolina Marçal, do ClimaInfo. Kretã Kaingang, da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL), disse que o Brasil quer ser líder mundial em exportação de petróleo enquanto há Povos Indígenas sem acesso à energia elétrica. Já Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), lembrou a falta de consulta livre, prévia e informada, determinada pela OIT, a Povos Originários nas decisões sobre áreas para exploração de combustíveis fósseis. A sessão, convocada pela deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), fez parte dos eventos da 21º edição do Acampamento Terra Livre, que acontece até amanhã (11/4) em Brasília, informa o Poder 360.
A Petrobras resolveu pressionar ainda mais o Ibama e mandou uma nova comunicação ao órgão para tentar marcar a vistoria ao centro de atendimento à fauna que a petroleira instalou em Oiapoque, no Amapá, informa a CNN. Em meados de março, a companhia tentou marcar para 7 de abril a visita de técnicos do Ibama, que não confirmou. Agora, com a autorização recebida da Secretaria de Meio Ambiente do Amapá na semana passada, a petroleira contatou novamente o órgão nesta semana para tentar agendar a vistoria. Até agora, não obteve resposta.
Moradores do entorno da refinaria Abreu e Lima (RNEST), da Petrobras, em Ipojuca (PE), na Grande Recife, continuam sofrendo com a planta, mostra a Agência Pública. Desde 2014, vizinhos da RNEST conviviam com gases de fortes odores, que também provocavam irritações na pele e problemas gastrointestinais. Dez anos depois, a Petrobras implantou uma Unidade de Abatimento de Emissões Atmosféricas (SNOX), que prometia reduzir a liberação de óxidos de enxofre e nitrogênio, que causam mau cheiro. Mas os odores persistem – em alguns casos, com intensidade suficiente para que moradores busquem atendimento médico.