05 Outubro 2024
No Sínodo, que “não é uma assembleia parlamentar”, o segredo é, “com a ajuda e a força do Espírito Santo, escutar e compreender as vozes, ou seja, as ideias, as expectativas, as propostas, para discernir juntos a voz de Deus que fala à Igreja”. Caso contrário, “acabaríamos nos fechando em diálogos entre surdos, onde cada um tenta ‘puxar água para o próprio moinho’ sem escutar os outros e, sobretudo, sem escutar a voz do Senhor”. Foi o que disse o Papa Francisco na manhã de ontem, na homilia da missa celebrada na Praça São Pedro, por ocasião da abertura da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avverine, 03-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diante de quase 400 cardeais, bispos e sacerdotes que participam do Sínodo e de 20.000 fiéis, o Pontífice indicou a modalidade mais adequada para permitir que os trabalhos (que começaram à tarde na Sala Paulo VI, como relataremos mais detalhadamente separadamente) sejam frutuosos. “Um modo”, disse ele, “é certamente aquele de se aproximar com respeito e atenção, na oração e à luz da Palavra de Deus, de todas as contribuições recolhidas nestes três anos de intenso trabalho, de partilha, de confronto e de paciente esforço de purificação da mente e do coração”.
O Sínodo, de fato, é “um lugar de escuta em comunhão”. E para que isso aconteça, há uma condição, alertou o Papa. “Que nos libertemos daquilo que, em nós e entre nós, pode impedir à ‘caridade do Espírito’ criar harmonia na diversidade. Aqueles que arrogantemente presumem e pretendem ter a exclusividade são incapazes de escutar a voz do Senhor. Em vez disso, cada palavra deve ser acolhida com gratidão e simplicidade, para se tornar um eco do que Deus doou para o benefício dos irmãos”. Em termos concretos, isso significa uma coisa: “Cuidemos para não transformar nossas contribuições em pautas a serem defendidos ou agendas a serem impostas, mas ofereçamo-las como dons a serem compartilhados, prontos até mesmo para sacrificar o que é particular, se isso puder servir para fazer nascer juntos algo novo de acordo com o projeto de Deus”.
Um elemento deve ser sempre mantido considerado. “Nós não temos as soluções para os problemas a enfrentar, mas Ele as têm, e lembremo-nos de que no deserto não se brinca: se não prestarmos atenção ao guia, presumindo que nos bastamos sozinhos, podemos morrer de fome e sede, arrastando outros juntos. Portanto, coloquemo-nos à escuta da voz de Deus e de seu anjo, se realmente quisermos prosseguir com segurança em nossa jornada para além dos limites e das dificuldades”.
O Sínodo, portanto, deve ser, citando São Paulo VI, “uma casa de irmãos, uma oficina de intensa atividade, um cenáculo de ardente espiritualidade”. “Entre nós”, destacou então o Papa Francisco, ”há muitas pessoas fortes e preparadas, capazes de se elevar às alturas com os movimentos vigorosos de reflexões e intuições geniais. Tudo isso é uma riqueza, que nos estimula, nos empurra, nos obriga às vezes a pensar de modo mais aberto e ir em frente com decisão, assim como nos ajudar a permanecer firmes na fé mesmo diante de desafios e dificuldades. Mas é um dom que deve ser combinado, no devido tempo, com a capacidade de relaxar os músculos e se curvar, para se oferecer uns aos outros como abraço acolhedor e lugar de abrigo”.
Cada um aqui, observou o Papa, “se sentirá livre para se expressar de forma tanto mais espontânea e livre quanto mais perceber ao seu redor a presença de amigos que gostam dele e que o respeitam, apreciam e desejam escutar o que ele tem a dizer. E isso, para nós, não é apenas uma técnica de ‘facilitação’ do diálogo ou uma dinâmica de comunicação de grupo: abraçar, proteger e cuidar é, de fato, parte da própria natureza da Igreja, que por sua própria vocação é um lugar hospitaleiro de reunião, onde a caridade colegial exige perfeita harmonia, da qual resulta sua força moral, sua beleza espiritual, sua exemplaridade”. “Não há necessidade de maioria e minoria. Harmonia, nas diferenças”, acrescentou de improviso durante a homilia.
“A Igreja precisa de lugares pacíficos e abertos, a serem criados antes de tudo nos corações, nos quais cada um se sinta acolhido como um filho nos braços de sua mãe e como uma criança erguida à face de seu pai”. Por fim, o Papa convidou a se tornarem pequenos. “O Sínodo, dada a sua importância, em certo sentido nos pede para sermos ‘grandes’, na mente, no coração, nas perspectivas, porque as questões a serem tratadas são ‘grandes’ e delicadas, e os cenários em que se inserem são amplos, universais. Mas, justamente por isso, não podemos nos permitir tirar os olhos da criança, que Jesus continua a colocar no centro de nossas encontros e mesas de trabalho, para nos lembrar que a única maneira de estar ‘à altura’ da tarefa que nos foi confiada é nos tornarmos pequenos e nos acolhermos mutuamente como tais, com humildade”.
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“Não há espaço para a imposição de agendas ou para aqueles que querem ter o direito exclusivo a Deus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU