29 Agosto 2024
"Não há mais limites para o uso de qualquer tipo de armas fornecidas pela OTAN no território russo. Também essa operação arriscada teve a escolta midiática do circo mainstream, que oscilou entre a justificativa e a glorificação. Nem tudo, porém, pode ser justificado; há sérios perigos que não podemos deixar de ver. O risco é o de uma catástrofe nuclear se a usina nuclear de Kurchatov, localizada a cerca de 50 km a oeste de Kurk, for atingida", escreve juiz Domenico Gallo conselheiro da Suprema Corte de Cassação da Itália, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 26-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A narrativa dominante da guerra atual como um episódio na luta das “democracias” contra as “autocracias”, que vê a heroica Ucrânia lutando contra o gigante russo para defender o “mundo livre” dos projetos imperiais de Putin, às vezes tropeça em fatos que rasgam o véu de mentiras que alimenta essa fábula. Os fatos nos dizem que o Parlamento ucraniano, em 20 de agosto, deu aprovação definitiva à lei que suprime a Igreja Ortodoxa de Onúfrio, a não autocéfala, canonicamente ligada ao Patriarcado de Moscou. Isso, apesar do fato de a Igreja Ortodoxa ter se distanciado do invasor no mesmo dia em que a guerra começou.
Suprimir uma igreja com milhões de fiéis é um fato que entra em conflito com a narrativa oficial de um país agredido que luta para defender sua liberdade. Incapaz de conciliar os fatos com a narrativa oficial, o circo dominante reagiu apagando esse infeliz episódio, como se nunca tivesse acontecido. Mas o silêncio conivente das mídias foi exposto pelo grito levantado pelo Papa Francisco no Angelus: “Continuo acompanhando com dor os combates na Ucrânia e na Federação Russa e, pensando nas normas de lei recentemente adotadas na Ucrânia, surge um temor pela liberdade daqueles que rezam (...) Por favor, que nenhuma igreja cristã seja abolida direta ou indiretamente. As igrejas não devem ser tocadas!”
A esse respeito, merece ser divulgada a intervenção do arcebispo metropolita da Igreja Ortodoxa Italiana, Filippo Ortenzi: “A Igreja Ortodoxa Italiana tomou conhecimento, com tristeza, da decisão da Duma ucraniana de proibir a Igreja Ortodoxa Ucraniana, apesar de ela ter rompido formalmente o vínculo que a unia ao Patriarcado de Moscou. (...) A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é uma guerra fratricida entre povos ortodoxos, como afirmou o metropolita ortodoxo ucraniano Onúfrio. Os povos russo e ucraniano vêm da mesma fonte batismal do Dnepr e uma guerra entre eles é uma repetição do pecado de Caim, que matou seu próprio irmão.
Tal guerra não pode ser justificada nem por Deus nem pelo povo. A história não pode ser apagada com um golpe de borracha ou com uma lei. (...) A supressão de uma Igreja, que nem mesmo Stalin, embora a tenha perseguido duramente, jamais se atreveu a suprimir (...) só pode despertar a indignação de todos aqueles que consideram a liberdade religiosa como um dos direitos fundamentais do homem”. Palavras sagradas, cabe dizer; pena que ninguém as quis ouvir. Devemos concluir que para Zelensky, ungido do Senhor, tudo é permitido, não apenas no plano da repressão interna, mas também naquele da condução das hostilidades. De fato, a ofensiva desencadeada há mais de duas semanas com a penetração de unidades blindadas ucranianas na região russa de Kursk mostrou que caíram todas as linhas vermelhas que os aliados ocidentais haviam imposto à Ucrânia.
Não há mais limites para o uso de qualquer tipo de armas fornecidas pela OTAN no território russo. Também essa operação arriscada teve a escolta midiática do circo mainstream, que oscilou entre a justificativa e a glorificação. Nem tudo, porém, pode ser justificado; há sérios perigos que não podemos deixar de ver. O risco é o de uma catástrofe nuclear se a usina nuclear de Kurchatov, localizada a cerca de 50 km a oeste de Kursk, for atingida. Essa instalação nuclear, construída pela União Soviética em 1971, é particularmente vulnerável devido à falta de estruturas de contenção de concreto acima dos reatores.
Os reatores RBMK-1000 da usina de Kurchatov, semelhantes aos usados em Chernobyl, são conhecidos por sua fragilidade. Esses reatores operam com água fervente em um circuito fechado, o que os torna particularmente suscetíveis a acidentes que poderiam levar à liberação de radiações mesmo na ausência de um ataque direto. Até um ataque limitado poderia causar danos irreparáveis e resultar em uma catástrofe nuclear. Não se trata de um risco hipotético. Está comprovado que, na noite de 22 de agosto, um drone ucraniano lançado contra a usina nuclear de Kurchatov foi interceptado.
O fato é que essa notícia não existe nas mídias ocidentais, que decidiram encobri-la. Devemos esperar uma nova Chernobyl antes de entender que nem tudo pode ser permitido a Zelensky.
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Ucrânia. Cegueira a Oeste. Banimento da Igreja Ortodoxa e ameaças atômicas: Kiev, tudo é perdoado. Artigo de Domenico Gallo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU