06 Novembro 2023
Tempo de manobras, reformas e muitas dúvidas. A informação que circulou na cúria esta manhã, chega dos Estados Unidos onde The Remnant, uma respeitada revista quinzenal com orientação católica tradicionalista, com boas fontes no Vaticano, publicou uma verdadeira bomba: o Papa Francisco teria confiado ao Cardeal Gianfranco Ghirlanda, seu canonista de confiança, a tarefa de revisar radicalmente as atuais regras do conclave para a eleição do próximo Papa.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 05-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na prática, segundo os rumores filtrados, mas não confirmados oficialmente, as mulheres também poderiam passar a fazer parte do corpo eleitoral. Seriam incluídas nos 25 por cento dos votantes escolhidos por Bergoglio antes da Sede Vacante, juntamente com leigos e religiosos. Não só isso. Nessa hipótese, os cardeais com mais de 80 anos seriam excluídos das Congregações Gerais, ou seja, das reuniões cardinalícias que antecedem a eleição propriamente dita. Soma-se a isso a eliminação das sessões plenárias (nas quais todos os cardeais, eleitores e não eleitores, se reúnem como um corpo), instituindo em vez disso pequenos grupos de trabalho com um líder que orienta as discussões, de uma forma muito semelhante à assembleia sinodal que acaba de ser concluída entre os bispos no Vaticano.
Em suma, se assim fosse, todas as regras seculares anteriores seriam enviadas para o arquivo.
A revista tradicionalista estadunidense especifica que as reuniões para o projeto de reforma da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis seriam realizadas em Santa Marta já no final da primavera europeia, com trocas de avaliações e ideias. O Cardeal Ghirlanda, ex-reitor da Gregoriana, segundo a indiscrição, pressionaria fortemente por essa inovação que constituiria um ato realmente revolucionário, útil para conduzir à Igreja primitiva, com as dinâmicas dos primeiros séculos, como Bergoglio sempre sonhou. A opinião da revista é muito negativa sobre essa passagem: “Se fosse promulgado, o documento seria amplamente considerado como uma reviravolta eclesial e teológica das eleições papais. Embora se diga que o Papa Francisco pretende reformar o conclave papal num estilo mais ‘sinodal’, diz-se que ele ainda não deu um ‘sim’ definitivo ao documento, que se promulgado encontrará certamente uma resistência considerável por parte dos membros do Sagrado Colégio.”
O último retoque à Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis foi dado pelo Papa Ratzinger. Com o Motu proprio Normas nonnullas, decidiu manter “a indicação de quinze dias” do início da sede vacante antes do início do Conclave, mas concedia ao Colégio dos cardeais “a faculdade de antecipar o início do Conclave se houvesse a presença de todos os cardeais eleitores" em Roma, e reiterava que a espera pelos ausentes poderia ser estendida além de um máximo de 20 dias.
Ele também reiterava que nenhum cardeal podia ser privado, por qualquer motivo "ou pretexto", tanto do eleitorado ativo como passivo. No que diz respeito, no entanto, à delicada questão do sigilo dos trabalhos do Conclave, sublinhava-se que durante todo o período do Conclave todo o território da Cidade do Vaticano e também a atividade ordinária dos Escritórios localizados no seu âmbito, deveriam ser regulados, a fim de garantir a confidencialidade e a livre realização de todas as operações relacionadas.
O procedimento para a eleição dos Papas não foi estabelecido nas Sagradas Escrituras: foi a própria Igreja, ao longo dos séculos, quem providenciou e modificou as regras para a eleição. Que além de chefe da Igreja Católica é também bispo de Roma e chefe de Estado. A última modificação nas regras que regem um Conclave foi introduzida por Bento XVI. Seu antecessor, João Paulo II, promulgou a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis em 22 de fevereiro de 1996, a lei que ainda serve de referência para a eleição.
Segundo a Sala de Imprensa do Vaticano, a informação divulgada com destaque por blogs tradicionalistas 'não tem fundamento'.
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O Papa Francisco gostaria de reformar o Conclave e deixar as mulheres votarem; a indiscrição de uma revista cria agitação na Cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU