"É vendida como solidariedade com a Ucrânia agredida, a instigação para continuar um conflito sem quartel e sem esperança, ao fim da qual só restará uma montanha de mortos, uma devastação ambiental incomensurável e um oceano de ódio entre dois povos irmãos".
O artigo é de Domenico Gallo, juiz italiano e conselheiro da Suprema Corte de Cassação da Itália, publicado por Fatto Quotidiano, 15-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Estava escrito num letreiro / nas costas dos garotos / que sem se conhecerem / de cidades diferentes /socialmente diferentes / pelas ruas de sua cidade / cantavam a sua proposta.
Assim cantavam os Giganti em 1967 interpretando os sentimentos de paz que permeavam os jovens que, dos dois lados do Atlântico, contestavam a barbárie da Guerra do Vietnã, abrindo o caminho para aquela grande revolução política e cultural que ficou registrada na história como o Movimento de 1968.
A maior pobreza da época dramática em que estamos vivendo é a impossibilidade de dar voz aos sentimentos de paz que estão enraizados no senso comum, antes mesmo que no coração dos povos. Neste tempo sem memória, desenvolveram-se novos nacionalismos que alimentam os espíritos beligerantes e espalham o ódio entre os povos e corrompem o senso comum das pessoas, toldam o horror pelos massacres e por aquelas escolhas que organizam a morte como instrumento da política.
É vendida como solidariedade com a Ucrânia agredida, a instigação para continuar um conflito sem quartel e sem esperança, ao fim da qual só restará uma montanha de mortos, uma devastação ambiental incomensurável e um oceano de ódio entre dois povos irmãos. Chegamos ao paradoxo de que, em sua ajuda fraterna ao povo ucraniano, o Reino Unido enviou toneladas de munições de urânio empobrecido, destinadas a envenenar o meio ambiente e produzir mortes mesmo depois de muitas décadas. Sem falar do paradoxo das bombas de fragmentação que Biden decidiu fornecer à Ucrânia com a condição de que não sejam empregados no território russo: servirão apenas para “saturar” o campo de batalha na Ucrânia.
Neste contexto, em que a política baniu o “cessar fogo”, devemos nos dar conta que – por enquanto - na cúpula da OTAN em Vilnius foi frustrada a tentativa de Zelensky de envolver a OTAN na guerra com a Rússia. Nas últimas três linhas do parágrafo 11 da declaração final da cúpula da OTAN em Vilnius está escrito: “Poderemos estender um convite à Ucrânia para aderir à Aliança quando os aliados estiverem de acordo e as condições forem atendidas”. Essa fórmula destaca dois pressupostos essenciais: todos os aliados devem estar de acordo e dever ser atendidas as “condições” para a admissão de um país terceiro. De acordo com o art. 10 do Pacto Atlântico, “as partes podem, por acordo unânime, convidar a aderir a qualquer outro Estado europeu que esteja em condições de (…) contribuir para a segurança da região do Atlântico Norte”.
Ora, é evidente que, mesmo após o fim dos combates, a Ucrânia nunca estará em condições de contribuir para a segurança, pelo contrário, a presença da Ucrânia na OTAN tornará mais concreto o risco de um conflito, até mesmo nuclear, entre a OTAN e a Rússia. Talvez o único que não o entendeu, é justamente o secretário-geral da OTAN, Stoltenberg, a figura política que mais se aproxima ao personagem do Dr. Fantástico (Dr. Strangelove).
Confiar a Stoltenberg/Strangelove o leme da política europeia não foi uma escolha de visão de parte de Ursula von der Leyen e companhia.
A guerra - escreveu Domenico Quirico (La Stampa de 11 de julho) - perdeu seus objetivos. Tanto os objetivos de Putin (subjugar a Ucrânia), quanto os do governo ucraniano (recuperar os territórios perdidos em 2014) e os da Aliança Ocidental (infligir uma derrota retumbante à Rússia) se revelaram inatingíveis. “Depois de 500 dias, não existe mais nenhuma dessas metas”. A guerra tornou-se um massacre que se autoalimenta. Agora chega! Vamos relançar a mensagem do 1968, pedindo um cessar-fogo imediato.
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OTAN: Stoltenberg está cada vez mais parecido com o Dr. Fantástico. Artigo de Domenico Gallo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU