31 Março 2023
"A paz foi demitida por tempo indeterminado, não apenas seus chefes ruins, seus membros mais atlânticos, começando pelo Reino Unido, que chega a prometer armas com componentes nucleares, mas também as duas personagens que deveriam representar sua unidade e olhar sobre o mundo, Ursula von der Leyen e Jens Stoltenberg, uma vestida com as cores de um país em guerra, o outro, esquecido da história, pedindo para votar "créditos de guerra" aos partidos socialistas em Bruxelas, como às vésperas da Primeira Guerra Mundial", escreve Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por il Fatto Quotidiano, 29-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Ah! serva Itália, da aflição morada...". Quando Dante escreveu essas palavras, a Itália era um farol de civilização, um jardim de beleza, o berço do pensamento. Mas não sabia ler os sinais dos tempos, estava à mercê dos poderosos, traia suas origens e não conseguia viver sem guerra. Isso poderia ser dito hoje da Europa, serva das armas e do dinheiro, fechada no seu egoísmo, esquecida dos seus ideais, subversiva das próprias razões pelas quais nasceu.
Ela nasceu para acabar com as guerras, para remover as fronteiras comerciais ao carvão e ao aço a fim de construir, e não aos canhões e aos tanques a fim de destruir, ela nasceu para abraçar seus povos e tornar-se amiga e acolhedor daqueles de outras comunidades e estava até decidida a renunciar à sua soberania, não para se tornar serva de ninguém, mas para contribuir para a paz e a justiça entre as nações. E antes mesmo de Spinelli e Spaak, de Schumann e Monnet, de Ursula Hirschmann e Simone Weil, Adenauer e De Gasperi, a "ideia de Europa” havia crescido ao longo de um milênio, como a haviam ilustrado Erich Przywara e Friedrich Heer, tão caros ao Papa Francisco, e como havia inspirado as cartas dos condenados antifascistas (a identidade cancelada por Giorgia Meloni) da Resistência europeia.
E agora o que ela se tornou? O último Conselho europeu demonstrou-nos isso da forma mais clara.
A União Europeia fracassou nas suas duas maiores responsabilidades, a paz e a imigração, os dois máximos cuidados em que estava em jogo a sua "identidade cultural", segundo o "projeto de paz e amizade que é o seu fundamento”, como havia dito Francisco no Conselho europeu de 25 de novembro de 2014.
A paz foi demitida por tempo indeterminado, não apenas seus chefes ruins, seus membros mais atlânticos, começando pelo Reino Unido, que chega a prometer armas com componentes nucleares, mas também as duas personagens que deveriam representar sua unidade e olhar sobre o mundo, Ursula von der Leyen e Jens Stoltenberg, uma vestida com as cores de um país em guerra, o outro, esquecido da história, pedindo para votar "créditos de guerra" aos partidos socialistas em Bruxelas, como às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
Mas não é só isso: a Europa nem sequer compreende o que, movido pela probidade profissional, estão lhe dizendo os especialistas em geopolítica: que seu verdadeiro “concorrente” são os Estados Unidos, que para tê-la como vassala, estão interessados em mantê-la em uma guerra sem fim, querem dominá-la com seu gás e seus produtos mais avançados, que não à toa explodiram o oleoduto que ligava a Rússia ao resto da Europa. E nem se precisa de habilidades interpretativas especiais: os Estados Unidos escreveram na sua "Estratégia de Segurança Nacional" que sua segurança, sua defesa e o objetivo de sua bulimia militar residem no fato de que não há potência no mundo que não apenas não supere, mas "nem mesmo iguale" a potência estadunidense.
E se existe uma potência que poderia ousar se igualar a ela não é a Rússia, já dada como desfeita, nem a China, designada como supremo desafio do futuro, mas é a Europa que, se seguisse uma política menos suicida, poderia já agora competir economicamente e graças à projeção de sua cultura, com a hegemonia dos Estados Unidos; o que poderia e deveria fazer justamente permanecendo sua amiga e aliada para construir juntos "um mundo livre, aberto, próspero e seguro", como eles querem, ajudando-os a evitar erros, como o que fazem, e que faziam bem antes dos crimes de Putin, querendo o fim da Rússia.
Certamente não é aumentando a idade de aposentadoria e jogando um país inteiro numa uma luta social sem fim, não é ficando pendurados aos lábios e ao "Crimeia ou morte" de Zelensky, não é dizendo "nação" para não dizer "fascismo", nem incentivando as fábricas a assinar contratos plurianuais para a construção de armas que precisarão do mesmo número de anos para serem consumidas nos campos de batalha, nas cidades e nos famosos idosos e crianças, eles também obrigados a morrer na guerra, não é com essas escolhas que a Europa poderá reencontrar a sua dignidade, a nobreza das suas origens, os ideais que a levaram a se unir.
É por esses ideais, não ser "província" de um Império que nasceu a Europa, com a vocação de atravessar o Mediterrâneo e olhar para o Sul, para Israel, para a Palestina e para o mundo árabe, para o Leste, para a Rússia e a Turquia, e para o Oeste, não apenas para uma América só, mas para todas as duas; e não é privando os seus povos da sua tutela social que uma Europa unida poderá prevalecer, política e culturalmente, sobre os soberanismos. Mas então que política deveríamos seguir? E quanto temos que esperar para ver chegar aqui uma verdadeira Schlein, não o domínio do passado, mas a coragem da mudança?
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Ah! Serva Europa, à mercê de armas, dinheiro e poderosos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU