10 Julho 2023
Há migrantes que fogem. Empurrados pela Tunísia para a Líbia ou para o deserto, como aqueles que contamos nesta página. Há aqueles que se perdem e depois se reencontram. Como os 16 chegaram a Lampedusa na noite de sexta-feira, todos tunisianos, que disseram ter se perdido no mar durante a travessia. Quem trouxe a reboque o pequeno barco em águas territoriais italianas foi o barco patrulha G129 Sottile da Guarda de Finanças. O desembarque no cais de Favarolo aconteceu logo depois. Por fim, há os migrantes dos quais não se sabe realmente mais nada. A trágica contabilidade das pessoas desaparecidas é mantida, como sempre, pela Alarm Phone. "Ainda não sabemos o que aconteceu com 33 pessoas", informou ontem de manhã a ONG atuante na sinalização e resgate de refugiados no mar, que vinte e quatro horas antes havia lançado um SOS para um pequeno barco com 33 náufragos a bordo ao largo da costa líbica. À noite, um novo sinal de alerta. “Há cerca de 250 pessoas em águas internacionais, a bordo de um navio da milícia líbica. Tememos que tenham sido parados e mandados de volta".
A reportagem é de Francesca Ghirardelli, publicada por Avvenire, 09-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
“É bom que distribuam comida, principalmente para as crianças e as mulheres, mas sem alojamento onde ficar e no meio dessa situação tensa, continuamos no limbo”. Ele mesmo é pouco mais que uma criança, Romma, 17, que chegou há quase três meses do Sudão aqui em Sfax. É ele quem nos conta sobre a distribuição de alimentos aos migrantes, quinta-feira à noite, por um grupo de cidadãos locais, ao lado do mercado de peixe da parte velha da cidade. Um sinal muito significativo de solidariedade, depois de dias cheios de tensão, entre as incursões de franjas xenófobas de jovens tunisianos que circulavam organizados em gangues pelos bairros populares e as brigas com migrantes subsaarianos, presentes aos milhares nesse centro industrial que é atualmente o principal ponto de partida irregular rumo à Itália.
Um representante da ONG Terre d'Asile aqui na cidade (que há quatro dias não quer conceder entrevistas) confirma-nos com uma mensagem outros sinais de apoio aos migrantes, visto que recebeu ajudas para distribuir. “Devem ter-nos trazido comida porque dois africanos, internados por pancadas e facadas, morreram esta noite. Assim ouvimos dizer”, comenta, no entanto, Romma. Entre os numerosos que procuram algum alívio do calor sob as árvores fora da cidade velha e na praça próxima, há quem não possa mais voltar para casa após ser expulso violentamente nos raids noturnos. Mas também há quem, como Romma, que nunca teve alojamento em Sfax.
Ele chegou à Tunísia no final de abril e vive nas ruas desde então. “Não tive escolha, deixei o Sudão no início da guerra. Antes, quando eu estava lá, eu ficava com minha família numa casa que era toda nossa. Se meu país recuperasse alguma normalidade, eu voltaria imediatamente para lá. Estou cansado, a vida sem minha mãe e meu pai não faz sentido”.
Ainda tem uma casa e não põe os pés fora há quatro dias, Adama, marfinense. Ele está trancado lá dentro desde quarta-feira, em pânico, depois de ter sido agredido na rua. "Estamos ficando sem comida, só sobrou um pouco de cuscuz", conta ele. “Eu e meus dois colegas de quarto temos medo de sair para comprar alguma coisa”. Apesar disso, nas ruas de Sfax se encontram jovens subsaarianos que circulam, principalmente em grupos, mesmo sob o olhar da polícia, Adama não quer correr riscos. Ele está apavorado com o que aconteceu com ele. Ele está na cidade desde 2020, trabalhava como cuidadora de animais. “Mesmo antes a situação não era muito tranquila, mas desta vez todos os limites foram ultrapassados”, afirma. “Aconteceu depois da Tabaski, a festa do sacrifício, no final de junho. Não dormimos mais à noite com medo de sermos atacados dentro de casa, como já aconteceu com outros." Na quarta-feira ele saiu para fazer compras. “Um grupo de cerca de vinte pessoas o abordou, me pediram telefone, cigarro, dinheiro, eu disse que não tinha. Eles me bateram, estavam com facas. Fui ferido, escapei e encontrei um lugar para me esconder”. Em Sfax ele havia chegado "desde o início com o objetivo de juntar dinheiro para chegar à Itália" admite. Ele já tentou quatro vezes. A Guarda Nacional sempre conseguiu interceptar as embarcações. “A passagem custa pelo menos 1.500 euros. Mas eu paguei mil, implorando ao traficante tunisiano de aceitar essa quantia. Dinheiro perdido. A última tentativa foi em setembro.
Fomos parados depois de seis horas na água. Éramos 46. O barco era de metal”. Como aqueles montados na oficina artesanal descobertos e apreendidos nas últimas horas em Jebeniana, nas proximidades de Sfax. "Agora estou esperando a situação se acalmar. Meu plano é chegar a Túnis de trem e encontrar um trabalho. Preciso de dinheiro para a Itália”, conclui Adama. Antes dele, centenas partiram de Sfax nos últimos cinco dias. Conforme relatado por Avvenire, alguns foram detidos e levados de ônibus para a fronteira com a Líbia. Havia cerca de quarenta a bordo do trem das 11 horas na sexta-feira, todos chegaram ao seu destino na capital. Nenhum controle de polícia, nem paradas. Também o grupo que havíamos conhecido na noite de quarta-feira está a salvo, o jovem guineense Oumar, que havia nos confidenciados seus temores, deu notícias no WhatsApp de Túnis, mas há muitas histórias de quem, ao contrário, em poucas horas se viu na fronteira com a Líbia.
Enquanto isso ainda não haja notícia do destino do memorando da UE sobre os migrantes, cuja assinatura era considerada iminente, visto o intenso e animado diálogo com Trípoli. Esta semana, o presidente da Tunísia, Kais Saied, reuniu-se com o chefe de governo da Unidade Nacional da Líbia, Abdul Hamid Dbeibah, para discutir sobre a imigração. Depois, na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Nabil Ammar, teve uma conversa por telefone com sua contraparte líbica, Najla El-Mangoush. Para a imprensa tunisina, entre os conteúdos dessa conversa, também um confronto sobre a presença de um certo número de migrantes subsaarianos nas fronteiras tunisino-líbias. Aqueles que tentam entrar na Tunísia pela Líbia. E, provavelmente, também aqueles que Túnis mandou de volta para lá.
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“Nós, refugiados no limbo Tunísia”. No mar SOS, desaparecidos e pessoas barradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU