13 Fevereiro 2023
O Haiti, definitivamente, não é pauta da mídia brasileira, nem da mídia ocidental. O país caribenho vive uma situação “infernal”, segundo relato de seus habitantes ao alto comissionário da ONU para os Direitos Humanos, Voker Turk, que visitou o país na semana passada. O Haiti enfrenta ondas de violência e o aumento de casos de cólera.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O quadro é descrito também pela gerente de projetos da Federação Luterana Mundial (FLM) para o Haiti, Naomie Beajour, que esteve em visita a Genebra e relatou o quadro para o serviço de imprensa do organismo ecumênico internacional.
No ano passado, o país passou por um impasse político, viu o preço do gás e da água aumentar substancialmente, e lida com um surto de cólera desde outubro de 2022. Também é aterrador os crimes e sequestros de morte perpetrados por gangues.
“Está piorando a cada dia. As gangues tomaram conta do terreno. Há sequestros, assassinatos e as pessoas têm medo de sair, especialmente depois de escurecer”, relatou Beajour.
Mais de 500 mil crianças estão perdendo aulas por causa do conflito e 20 mil haitianos passam fome, contabilizou Voker Turk. Nos primeiros quatro meses do ano letivo, de outubro a fevereiro, 72 escolas foram atingidas, alvo de grupos armados, informa a ONU News. Uma escola foi incendiada, um aluno atingido por bala e morreu, e pelo menos dois funcionários foram sequestrados.
As comunidades nas áreas rurais são as que mais sofrem com a insegurança social, disse Beajour. As gangues dominam as estradas que levam à capital. Consequentemente, agricultores não conseguem vender sua produção, o dinheiro deixa de circular, e Porto Príncipe padece de desabastecimento. A falta de produtos eleva o custo de vida dos haitianos.
Cinco galões de água são vendidos a 75 centavos na capital. “As pessoas não podem pagar esse valor”, apontou Beajour. Assim, o programa da FLM instalou bomba de água movida a energia solar e está levando água potável para a população rural por um centavo ou até mesmo de graça.
“O Haiti é um belo país, mas não é isso que se vê agora com tudo o que está acontecendo aqui”, lamentou a representante luterana. Apesar dessa situação, frisou Volker Turk, o país caribenho não está sendo tratado como prioridade na mídia.
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Um país esquecido pela mídia ocidental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU