"Infelizmente sou obrigado a concordar com a líder ambientalista Greta Thunberg: a COP27 vai apenas produzir 'blá, blá, blá'. E vale destacar que o governo do Egito praticamente proibiu os ambientalistas que estão fora do evento oficial de se manifestarem no país. Censura e repressão para quem denuncia a farsa da COP e muitas mordomias para as delegações oficiais que tentarem encobrir, com seus discursos demagógicos, o ecocídio da qual são cúmplices", escreve Frei Betto, escritor, autor de “A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (José Olympio), entre outros livros.
Eu não espero nada. Desde a Eco-92, no Rio, as promessas e os acordos entre chefes de Estado são primorosos! E nada sai do papel!
Alguém acredita que os países haverão de abandonar os combustíveis fósseis (petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral), que causam o aquecimento global, e adotar fontes renováveis de energia (sol, água, vento, biomassa) capazes de manter o aquecimento bem abaixo de 2ºC?
Segundo a ONU, a Terra ainda aquecerá cerca de 2,5ºC neste século, superando, portanto, a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global bem abaixo de 2ºC. Em pleno Capitaloceno - a era da predominância do capital sobre os direitos humanos -, é ilusão imaginar que o sistema abdicará de seus lucros em favor da qualidade de vida da humanidade. A Agência Internacional de Energia projetou, há poucos dias, que a receita líquida dos produtores de petróleo e gás dobrará em 2022 “para US$ 4 trilhões sem precedentes”, ganho inesperado de US$ 2 trilhões!
Os combustíveis fósseis e o desmatamento dos biomas são as principais causas de emissão de gases de efeito estufa. Dos 193 países associados à ONU, apenas 26 assumiram o compromisso de reduzir tais emissões. E o Brasil do Inominável obviamente não figura entre eles.
A crise climática, para ser enfrentada, exige governança global, outra quimera. O que há de mais próximo a isso é a ONU, dominada pelos países que têm cadeira cativa e poder de veto em seu Conselho de Segurança: EUA, China, Rússia, França e Reino Unido. Nenhum deles dá a menor importância à questão ambiental, exceto em seus discursos demagógicos. Enquanto não se encontrar uma fórmula viável para uma governança global representativa e dotada de mecanismos de punição tudo quedará como dantes no quartel de Abrantes.
Há décadas se propõe desativar as termelétricas movidas a combustíveis fósseis, principalmente as que queimam carvão mineral, o que resultaria na descarbonização do planeta. Na COP26, na Escócia, 40 países assumiram o compromisso de não mais utilizar carvão para gerar eletricidade, inclusive o Brasil. E o que vemos? Com a guerra na Ucrânia e os cortes no gás fornecido pela Rússia, a União Europeia já voltou a utilizar carvão para enfrentar o próximo inverno. E, no Brasil, o governo federal, no início deste ano, sancionou o Programa de Transição Energética Justa que garante a contratação, até 2040, da energia gerada por termelétricas a carvão. Assim, o dinheiro público financia a poluição e a destruição ambiental. Em 2021 foram destinados mais de R$ 750 milhões em subsídios às termelétricas que tanto favorecem o efeito estufa e, portanto, o aquecimento global.
Comparados aos níveis das eras que precederam a revolução industrial, a Terra aqueceu mais de 1ºC. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, as temperaturas na Europa aumentaram mais que o dobro da média global nos últimos 30 anos – as mais altas de qualquer continente do mundo.
As emissões de gases de efeito estufa já provocam o ascenso do nível do mar, a redução do gelo marítimo e o aumento da acidez dos oceanos. O calor excessivo no hemisfério Norte, no último verão, suscitou grandes incêndios florestais. A camada de gelo da Groenlândia entrou em colapso. E a saúde humana é ameaçada, sempre mais, pela poluição do ar que dissemina doenças infecciosas.
Infelizmente sou obrigado a concordar com a líder ambientalista Greta Thunberg: a COP27 vai apenas produzir “blá, blá, blá”. E vale destacar que o governo do Egito praticamente proibiu os ambientalistas que estão fora do evento oficial de se manifestarem no país. Censura e repressão para quem denuncia a farsa da COP e muitas mordomias para as delegações oficiais que tentarem encobrir, com seus discursos demagógicos, o ecocídio da qual são cúmplices.