06 Setembro 2022
"A nossa dificuldade em entrar em diálogo diz respeito à relação clero/leigos. Sacerdotes e leigos vivem em dois mundos diferentes e separados, em 'bolhas' não comunicantes. Sacerdotes e bispos não entendem que, para evangelizar, devem se confrontar com o mundo fora do espaço de sua própria cúria e dialogar com os leigos/párocos para incluir aqueles que permanecem na periferia da Igreja'. Um diálogo que requer uma nova linguagem e um testemunho direto da fé", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 04-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A respeito do "neomessianismo" da presidência dos bispos, dos leigos mais tradicionalistas e do mundo político governamental polonês (cf. SettimanaNews, aqui), a síntese sinodal nacional (10 capítulos, cerca de cinquenta páginas impressas), apresentada ao Vaticano, representa a outra voz da Igreja: mais consciente, dialogante e humilde.
Como cuidamos de ressaltar ao apresentar o documento, as críticas internas são inspiradas pelo amor à Igreja e não constituem material estatístico ou sociológico. Expressam uma atitude interior, um estado de espírito.
Cerca de 50.000 pessoas participaram das reuniões sinodais diocesanas, mas os 6.800 coordenadores ativaram reuniões entre 30 e 65% das paróquias espalhadas por 45 dioceses e eparquias. Uma minoria, portanto, mas expressiva dos “convictos” e frequentadores.
“Falamos muito sobre as feridas da Igreja. Os participantes das reuniões sinodais compartilharam a imagem de uma Igreja ferida, atingida por escândalos e misérias humanas, cujo lado pecaminoso ligado à fraqueza humana muitas vezes causa escândalo e sofrimento. É uma Igreja às vezes impotente, atingida pelo choque da mudança, que provoca frustração entre os fiéis, assemelhando-se mais a uma instituição mal gerida do que a uma comunidade liderada por pastores sábios”.
Desconfia-se da "via alemã" e de suas (supostas) mudanças doutrinárias e não se coloca em discussão o papel dos bispos e do clero e, no entanto, se insiste em vários passos para se abrir àqueles "que buscam uma experiência de fé, àqueles que foram feridos pelo clero, àqueles que vivem em relações irregulares... a pessoas LGBT, aos refugiados e aos dependentes químicos”.
Olha-se com preocupação para o distanciamento progressivo dos jovens, para a ausência de voz para as mulheres, para o medo das reformas. “Precisamos de reformas para cumprir nossa missão no mundo moderno. Essa necessidade não diz respeito apenas à Igreja institucional, mas envolve todos nós, leigos e clero”.
Em particular, destaca-se a urgência do diálogo interno à Igreja: "Foi dito que a falta de diálogo, de escuta mútua e de abertura ao Espírito de Deus na comunidade torna a Igreja uma instituição sem alma".
“A nossa dificuldade em entrar em diálogo diz respeito à relação clero/leigos. Sacerdotes e leigos vivem em dois mundos diferentes e separados, em "bolhas" não comunicantes. Sacerdotes e bispos não entendem que, para evangelizar, devem se confrontar com o mundo fora do espaço de sua própria cúria e dialogar com os leigos/párocos para incluir aqueles que permanecem na periferia da Igreja”. Um diálogo que requer uma nova linguagem e um testemunho direto da fé.
Denuncia-se o desinteresse do clero pelo percurso sinodal ("um grande número de sacerdotes não participou do processo sinodal"). “Os sacerdotes muitas vezes não escutam os fiéis leigos, porque não estão interessados em suas exigências, mas apenas à atuação do plano pastoral”. Daí nascem as homilias de tipo moralista ou excessivamente político. Em suma, "um clericalismo enraizado e difundido, pelo qual não só os presbíteros são responsáveis, mas também os leigos que alimentam tais atitudes nos padres".
Muito interessante é o desenvolvimento do ecumenismo que decorre da amplitude do acolhimento de refugiados da Ucrânia (quase dois milhões), agredida militarmente pela Rússia. "O verdadeiro diálogo ecumênico-sinodal ainda está ocorrendo nas estações ferroviárias, nas estruturas do Estado e do voluntariado, e sobretudo nas casas dos poloneses que se abriram, que acolheram os ucranianos em dificuldade e os ajudaram independentemente das despesas e dificuldades... Com a atual migração da Ucrânia, o ecumenismo deixou de ser uma questão teórica para nossas paróquias. É necessário aprofundar com os ortodoxos que vivem ao nosso lado. Daí a demanda por uma catequese sobre as outras religiões”.
Uma recente pesquisa da CBOS ilustra as mudanças sociológicas gerais. 84% se definem como "católicos" (eram 94% em 1992). 42% são praticantes em comparação com 70% de três décadas atrás. Nas cidades os não praticantes são 37% e entre os jovens 38%.
Entre as razões apontadas para o afastamento da Igreja: 17% declaram não precisar mais da fé, 12% pelo caráter "mafioso" da instituição, 9% pelo entrismo político, 7% pela perda de confiança.
Em alguns grupos sociais, como os jovens, os moradores das cidades e cada vez mais entre as mulheres, amplia-se uma atitude geral de aversão à Igreja que será difícil de erodir e reduzir.
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Polônia: a outra voz do sínodo. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU