17 Agosto 2016
A visita do Papa Francisco a Polônia, no marco da Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia – evento que reuniu mais de dois milhões de jovens de 187 países, além de 50 cardeais, 850 bispos, 20.000 sacerdotes e 30.000 mulheres religiosas –, desencadeará “pressão a partir de baixo” para que a Igreja “abandone a má práxis” eclesial e pastoral que ainda persiste no país, segundo Malgorzata Glabisz-Pniewska, católica fiel e apresentadora da Rádio Nacional Polonesa.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 13-08-2016. A tradução é do Cepat.
Entrevistada esta semana pelo correspondente na Polônia de NCR, Glabisz-Pniewska opinou que não é que uma possível reforma da Igreja polonesa se deva ao fato do Papa ter conseguido convencer o episcopado nacional – após uma estadia de só cinco dias – a abandonar seu conservadorismo histórico em temas como o aborto, o matrimônio, o divórcio, a homossexualidade ou a acolhida que se deve aos refugiados que chegam a Europa.
Ao contrário, segundo esta jornalista, o fato do Pontífice já ter convencido muita gente a pé, em sua passagem pela Polônia, de sua mensagem de misericórdia, paz e perdão – ou de “memória, coragem e semear para o futuro”, como ele mesmo disse em seu improvisado discurso de despedida da JMJ – pode fazer com “que seja mais difícil aos bispos manter sua atitude severa e intransigente” em questões pastorais.
Com esta alusão ao pensamento “em branco e preto”, com o qual os bispos poloneses seguem enfocando as realidades sociais, Glabisz-Pniewska se referia, em primeiro lugar, à lealdade que muitos ainda professam por seu filho predileto, o papa conservador São João Paulo II.
Por outro lado, a imobilidade da hierarquia polonesa também encontra explicação em sua peculiar interpretação das linhas em Amoris Laetitia ao teor de que “em cada país ou região podem ser buscadas soluções mais inculturadas” às situações imperfeitas em que vivem famílias reais, respostas que sejam “atentas às tradições e aos desafios locais” (AL, 3).
Este é o artigo ao qual os bispos poloneses se apegam como pretexto para que tudo continue igual, e como “válvula de escape” que lhes isente de ter que implementar a mudança para o discernimento e o acompanhamento pastoral que Francisco propôs para toda a Igreja.
A inércia que se experimenta na Igreja polonesa se deve, pois, ao medo do episcopado de que o Papa Bergoglio não compreenda a situação na Polônia, nem a da Europa mais amplamente. Ou ao menos não tão bem como o Papa Wojtyla. Mas, como explica Glabisz-Pniewska, agora que os poloneses – católicos ou não – se encontraram com o Francisco de carne e osso, podem decidir por si mesmos se compreendem bem os desafios que enfrentam.
Para esta locutora da rádio polonesa, tudo indica que as pessoas do país, sim, foram receptivas à mensagem e pessoa do papa argentino. “O Papa representa outra mentalidade completamente diferente a respeito do lugar da Igreja na vida cotidiana”, destacou Glabisz-Pniewska. “Certamente, deve ter atraído muitos católicos poloneses normais. Gente assim ficou comovida por suas palavras e gestos, e sentiu que o Papa compreendeu suas necessidades”, prosseguiu na entrevista a NCR.
Contudo, além do despertar meramente “eclesial” que o Papa pode ter inspirado em sua passagem pela Polônia, há sinais de que a mensagem de Francisco sobre a importância “de acolher os que fogem das guerras e da fome” possa se traduzir em políticas mais humanitárias para os migrantes por parte do governo nacional.
Ainda que, de momento, a primeira-ministra da Polônia, Beata Szydlo, continue sustentando que o pedido do Pontífice a manter “o coração aberto” aos refugiados não significa que tenha que abrigá-los no país, não há nada que impeça pensar que se a população – da qual 94% se definem como católicos – pode pressionar seus bispos para que adotem posturas mais compassivas, também não possa fazer o mesmo com seus políticos.
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A visita do Papa pode provocar uma ‘revolução franciscana’ na Igreja polonesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU