Do global ao local: IHU promove eventos para refletir sobre os problemas que afetam a vida do planeta no novo regime climático

A programação de eventos do IHU, iniciada em agosto deste ano, se estende até dezembro

Por: Patricia Fachin | 06 Setembro 2022

 

O "verdadeiro" problema que afeta o mundo hoje é, segundo alguns intelectuais, a crise climática e a possibilidade de extinção da própria humanidade. A causa central do novo regime climático está associada, em geral, ao antropoceno, nova etapa geológica da Terra, consequência da má intervenção humana no planeta. Mas a "autodestruição" do ser humano e da Terra também está associada a dois outros fenômenos que estão inter-relacionados e promoveram, em alguma medida, o antropoceno: de um lado, o “progresso meramente científico-tecnológico causou a origem da crise climática”, de outro, "a falsa metafísica que emergiu desde o século XVIII, segundo a qual tudo que existe é objeto da investigação científica, o que na filosofia se discute como naturalismo”, disse o filósofo alemão, diretor do Centro Internacional de Filosofia da Universidade de Bonn, Markus Gabriel, ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em entrevista concedida no primeiro ano da pandemia de Covid-19. Segundo ele, "a verdadeira urgência" da nossa era, portanto, "não é uma questão política; é uma questão ética".

 

 

O mesmo diagnóstico foi apresentado pelo economista e jesuíta francês, Gaël Giraud, professor da Georgetown University, dos Estados Unidos, na conferência virtual ministrada no IHU em outubro de 2020, nos ciclos de estudos "Renda Básica Universal. Para além da justiça social" e "Emergência Climática. Ecologia integral e o cuidado da casa comum". Na ocasião, Giraud destacou que nas próximas duas décadas, até 2040, todos os países do mundo serão afetas por algum dos fenômenos climáticos extremos, em particular, pelo aumento da temperatura e umidade ou pelo estresse hídrico. Descrente de que a tecnologia possa gerar todas as soluções para o enfrentamento desses problemas, ele disse que "não há nenhuma chance de termos sociedades guiadas por robôs nos próximos anos, porque os robôs também precisam de minérios e energias [para serem fabricados]. Sem minério e energia, nos próximos anos, não haverá robôs. Então, eu não acredito nem um pouco na grande fantasia do trans-humanismo californiano, que acredita que daqui a alguns anos teremos máquinas que farão todo o trabalho humano. Isso não acontecerá simplesmente porque não teremos nem minérios nem energia suficiente para que as máquinas funcionem".

 

 

Mais recentemente, em julho deste ano, Antonio Turiel, pesquisador espanhol do Conselho Superior de Investigações Científicas – CSIC, em participação no Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo, promovido pelo IHU, alertou para a "situação de descenso energético incomparável e inevitável" em que o mundo se encontra hoje, a qual gera inúmeros desafios para a realização de uma transição energética. Segundo ele, apesar de a transição energética ser inevitável nas próximas décadas, as energias alternativas ainda dependem do consumo de fontes fósseis e da exploração de recursos naturais. Nesse contexto, adverte, "a pergunta a ser feita é se essa energia 100% renovável vai estar disponível na mesma quantidade de energia que temos agora ou se vai ser uma quantidade inferior. A resposta, ao que tudo indica, é que vai ser em uma quantidade bastante inferior à atual porque os sistemas de captação de energias renováveis têm muitas limitações, que raramente se discutem, mas que realmente estão aí".

 

 

No mesmo ciclo, ao refletir sobre a "autodestruição" do planeta na conferência virtual "A guerra e a sociedade da autodestruição" em maio deste ano, o filósofo alemão Anselm Jappe correlacionou o aquecimento global com o capitalismo. "Os aspectos mais visíveis da autodestruição do capitalismo" são "o aquecimento global, a nova extinção dos seres humanos ou o esgotamento dos recursos naturais da vida. (...) Não é o homem enquanto tal que é um destrutor natural das sociedades, ou seja, é preciso falar de um capitaloceno: é depois que a humanidade entrou na sua fase capitalista que houve uma desregulação e um desequilíbrio irreversível da estrutura biológica e mesmo geológica da Terra", disse.

 

 

É a partir da constatação do problema climático e das suas implicações éticas e políticas, mas também da justiça socioambiental, que o Instituto Humanitas Unisinos - IHU propõe refletir sobre seus efeitos tanto para os seres humanos quanto para os não-humanos que compõem a biodiversidade do planeta, questionando, igualmente, como, a partir do próprio saber e desenvolvimento técnico, buscar alternativas sustentáveis que possam não só garantir a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, mas garantir a soberania dos povos no enfrentamento dos efeitos climáticos extremos e o auxílio àqueles que estão refugiados.

Com este propósito, quatro eventos virtuais promovidos pelo IHU no segundo semestre estão inter-relacionados:

1. O "Ciclo de Estudos Manifesto Terrano. Construindo uma geofilosofia de Gaia";

 

 

2. O "XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e o XXI Simpósio Internacional IHU. O Futuro da Democracia e o Novo Regime Climático: Ameaças, (auto)críticas e potencialidades";

 

 

3. O "Ciclo de Estudos Sindemia Global. Obesidade, desnutrição e o novo regime climático - O (re)pensar das cadeias agroalimentares globais"; e

 

 

4. O "Ciclo de Estudos Saberes decoloniais: inquietações e saídas às crises de hoje".

 

 

Ciclo de Estudos Manifesto Terrano. Construindo uma geofilosofia de Gaia

 

O "Ciclo de Estudos Manifesto Terrano. Construindo uma geofilosofia de Gaia", que iniciou na última sexta-feira, 02-09-2022, com a conferência virtual intitulada "Daqui deste planeta: a terra deíctica e a espectralidade de Gaia", ministrada pelo professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília - UnB, Hilan Bensusan, tem como finalidade específica "compreender o papel dos não-humanos nos processos de sustentação da vida terrana por meio de construções teórico-metodológicas não antropocêntricas", "debater sobre as heranças e limites da Modernidade nas diferentes esferas da vida em sociedade e seus impactos para o sistema Terra", "refletir sobre tensões e possibilidades entre tecnosfera, a biosfera e suas transformações no mundo material e imaterial das civilizações contemporâneas" e "analisar a importância de outras cosmologias no enfrentamento da crise civilizacional contemporânea e suas contribuições para as epistemologias e metodologias da ciência moderna".

 

 

Para o mês de setembro também está confirmada a conferência virtual com o professor da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP, Rodrigo Petronio, intitulada "Abismos da Leveza. Por uma filosofia pluralista", que tem como finalidade explicar como a aplicação do conceito de "mesoceno", desenvolvido por ele em suas pesquisas, pode contribuir para os problemas relativos ao antropoceno, a partir da elaboração de uma ontologia relacional.

No mês de novembro, duas outras conferências também estão confirmadas. Em 04-11-2022, a palestra intitulada "Globalização, Ecofascismo e Espiritualidades em transição", com Gil-Manuel Hernández Martí, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universitat de València, na Espanha, e a conferência "Axis Mundi. Construindo novos sentidos para a vida no Antropoceno", que será ministrada por um dos mais importantes teólogos italianos, Vito Mancuso, autor de quatro best-sellers que tiveram mais de cem mil exemplares traduzidos para outros idiomas e uma pertinente crítica de imprensa, rádio e televisão: "A alma e seu destino" (Raffaello Cortina, 2007), "Deus e eu Um guia para os perplexos" (Garzanti, 2011), "A força do princípio da paixão que nos leva a amor" (Garzanti 2013), "Deus e seu destino" (Garzanti 2015). Recentemente, o teólogo publicou "I Quattro Maestri" (Garzanti Editore, novembro de 2020).

As conferências desse Ciclo serão ministrada às 10h e transmitidas na página eletrônica do IHU, nas redes sociais e no Canal do IHU no YouTube. A atualização da programação ao longo do semestre pode ser acompanhada aqui.

 

XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e o XXI Simpósio Internacional IHU. O Futuro da Democracia e o Novo Regime Climático: Ameaças, (auto)críticas e potencialidades

 

O "XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e o XXI Simpósio Internacional IHU", promovido em parceria entre o IHU e o PPG em Filosofia da Unisinos, discutirá a ideia de democracia na atualidade, seu futuro e os desafios colocados para civilização face à emergência do novo regime climático. A proposta é "debater as crises da democracia como forma de governo e suas implicações no mundo e no Brasil" à luz de acontecimentos contemporâneos, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas também a situação dos refugiados e migrantes que abandonam seus países em função de conflitos políticos e problemas climáticos. O evento também visa debater "os impactos da digitalização e da inteligência artificial nos processos democráticos e em novas formas de governança" e "entender o papel das novas formas de poder emergentes a partir dos movimentos das redes sociais e suas grandes plataformas que a cada dia se tornam mais importantes nas definições e nas decisões políticas das nações democráticas". Neste contexto, o Simpósio visa igualmente refletir sobre os "lugares de poder das minorias sociais, tais como LGBTQ+, indígenas, juventude nos regimes democráticos" e "novas formas de governança adequadas para enfrentar a crise global do meio ambiente no antropoceno".

O evento inicia em 13-09-2022, com a conferência intitulada "A digitalização da vida e o futuro da democracia", que será ministrada pelo professor Massimo Di Felice, da Universidade de São Paulo - USP, às 10h, e se encerra em 29-11-2022, com a palestra "Cultura Digital e Democracia", ministrada pelo filósofo e professor da Ludwig-Maximilian Universität, na Alemanha, Julian Nida-Rümelin.

Entre as 12 conferências previstas para o evento, destaca-se a palestra do jurista italiano, Luigi Ferrajoli, que tem refletido sobre a universalização de direitos fundamentais a partir da elaboração de uma Constituição da Terra. A conferência intitulada "A democracia através dos direitos da Terra" será ministrada virtualmente no dia 06-10-2022.

 

 

Também participará do Simpósio José Antonio Zamora, professor do Instituto de Filosofia do Conselho Superior de Investigaciones Científicas – CSIC, da Espanha. A conferência "A constelação autoritária nas sociedades democráticas: uma ameaça que vem de dentro" será no dia 25-10-2022. A programação completa do evento está disponível aqui.


Ciclo de Estudos Sindemia Global. Obesidade, desnutrição e o novo regime climático - O (re)pensar das cadeias agroalimentares globais

 

O "Ciclo de Estudos Sindemia Global. Obesidade, desnutrição e o novo regime climático - O (re)pensar das cadeias agroalimentares globais", promovido em parceria entre o IHU e o curso de graduação em Nutrição e o mestrado profissional em Nutrição da Unisinos, iniciou em 02-08-2022, com a conferência da pesquisadora da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Universidade de São Paulo - USP, Ana Paula Bortoletto, que explicou a interrelação entre três epidemias da nossa era: a obesidade, a desnutrição e o novo regime climático, todas associadas ao modelo hegemônico de produção alimentar.

A próxima conferência do ciclo será em 26-09-2022, com Gisele Ane Borolini, coordenadora-Geral de Alimentação e Nutrição no Ministério da Saúde, sobre "Ações de enfrentamento à obesidade no cenário Brasileiro". O evento será transmitido na página eletrônica do IHU às 19h30min.

O ciclo debaterá ainda as repercussões da guerra entre a Ucrânia e a Rússia na segurança alimentar mundial, as possibilidades de reverter o atual quero de insegurança alimentar no Brasil e alternativas de produção de alimentos frente ao novo regime climático. A programação completa do evento está disponível aqui.

 

Ciclo de Estudos Saberes decoloniais: inquietações e saídas às crises de hoje

 

De 30 de setembro a 30 de novembro, o "Ciclo de Estudos Saberes decoloniais: inquietações e saídas às crises de hoje" dará continuidade a debates que emergiram de conferências promovidas recentemente pelo IHU - como nos ciclos de estudos “Decálogo sobre o Fim do Mundo”, “A (in)existência de um mundo comum. Pensamento vivo e mudanças possíveis à luz de Bruno Latour”, “Ciclo de Estudos – A condição humana entre a Biosfera, a Tecnosfera e a Infosfera em tempos sindêmicos”, “Populismos, autoritarismo e resistências emergentes” e a série “Reinvenção da Política”. As conferências que integram o Ciclo têm como finalidade "refletir sobre as transformações sociais, políticas, científicas, religiosas e culturais do novo regime climático em face das crises da modernidade e do Ocidente e suas saídas desde uma perspectiva decolonial".

Na conferência de 30-09-2022, a professora Jess Auerbach, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, vai tratar de "Perspectivas descoloniais: o papel do Sul Global no Novo Regime Climático". O evento será transmitido às 10h na página eletrônica do IHU. A atualização da programação pode ser acessada aqui.

 

Demais eventos em diálogo

 

Em diálogo com os demais eventos promovidos pelo IHU, o evento IHU ideias, que ocorre virtualmente todas as quintas-feiras, das 17h30 às 19h, é "um espaço de discussão, análise e avaliação de questões que se constituem em grandes desafios de nossa época" a partir do "âmbito do debate cultural, tendo como parâmetro o humanismo social cristão". Para setembro, a programação prevista é a seguinte:

01-09-2022: "A revolução dos condenados: a guerra desde uma perspectiva fanoniana", palestra com Deivison Mendes Faustino, professor da Universidade Federal de São Paulo e autor de "Frantz Fanon Um Revolucionário Particularmente Negro" (Ciclo Continuo, 2018) e "A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos fanonismos contemporâneos" (Intermeios, 2020).

08-09-2022: "Democracia, fome e soberania alimentar no Brasil. Retrocessos e possibilidades", palestra com Denise De Sordi, historiadora, doutora em história social e pesquisadora do programa de pós-doutorado dos Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH-USP e do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa Oswaldo Cruz – COC/FIOCRUZ.

15-09-2022: "O papel de José Bonifácio na história do Brasil. Modernidade, Civilização e Projeto Nacional", palestra com Ana Rosa Cloclet da Silva, docente da Faculdade de História da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC-Campinas e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião, da mesma universidade.

22-09-2022: "Manifestações culturais na periferia. Rap, Hip-hop e a construção da esfera pública brasileira", palestra com Acauam Oliveira, professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras da Universidade de Pernambuco.

Mais informações sobre a programação do IHU ideias para os meses seguintes estão disponível aqui.

A fim de analisar igualmente a conjuntura nacional e regional da região metropolitana de Porto Alegre, onde o IHU e a Unisinos estão inseridos, à luz das eleições presidenciais deste ano, o IHU promoveu, de julho a agosto deste ano, o Ciclo de Debates “Eleições 2022 em perspectiva: as desigualdades sociais na Região Metropolitana de Porto Alegre”, com "o objetivo de discutir as desigualdades sociais, seus determinantes e expressões nas diferentes esferas da sociedade". Entre os temas abordados, discute-se o direito à moradia, os despejos que ocorrem em todo o país, e a situação de pessoas que vivem em ocupações, a exemplo das que existem em São Leopoldo. A programação completa está disponível aqui.

 

Teologia e novas cosmovisões

 

Os debates acadêmicos realizados a partir dos eventos promovidos pelo IHU, além de refletir, "apontar novas questões e buscar respostas para os grandes desafios de nossa época", tem como finalidade "contribuir na realização da missão da Unisinos como universidade jesuíta que busca com denodo tornar efetiva a missão da Companhia de Jesus da diaconia da fé, da promoção da justiça e do diálogo cultural e inter-religioso", conforme exposto no Gênese, Missão e Rotas, que indica a linha editorial do Instituto.

Neste sentido, a partir do entendimento de uma cosmovisão cristã da realidade, em diálogo com outras cosmovisões e cosmologias, o IHU também está promovendo o projeto Filmes em Perspectiva, que traz uma série de discussões sobre obras cinematográficas, entrelaçando debate cultural e mística a partir de diálogos com especialistas na área. O Ciclo, realizado em parceria do IHU com Faustino Teixeira e Mauro Lopes, iniciou em março deste ano e se estende até 14-12-2022.

Ainda no semestre passado, o IHU promoveu o "Ciclo de Estudos: O cristianismo no contexto das transformações socioculturais e religiosas contemporâneas", iniciado em março deste ano e encerrado no início deste semestre, em agosto, com a conferência virtual intitulada "Espiritualidade cristã em perspectiva pós-teísta", ministrada pelo teólogo italiano Paolo Scquizzato.


 

 

Diante das "grandes transformações em andamento no mundo atual" e seus impactos "sobre as tradições religiosas em geral e sobre o cristianismo de modo particular", o evento propôs discutir "transdisciplinarmente as condições e possibilidades da existência cristã e eclesial e da teologia no contexto das transformações socioculturais e religiosas que resultam numa caracterização da sociedade e da cultura atual como pós-teísta, pós-religiosa e pós-cristã". As conferências também apontaram "perspectivas a respeito das possibilidades, chances e desafios para apresentar a pessoa de Jesus Cristo, com sua mensagem, de forma que faça sentido hoje".

O evento é uma continuação, em alguma medida, do "XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação", promovido pelo IHU no ano passado.

A programação completa de todos os eventos do IHU está disponível aqui.

 

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